Índios de carga. Andando nas matas com paulistas no MS
O primeiro aprendizado dos paulistas que chegaram no Mato Grosso do Sul foi o de abandonar os sapatos. Em seguida, aprendiam a andar em fila, um atrás do outro. Era vital que entendessem que seria impossível a volta caso não marcassem o trajeto quebrando galhos ou golpeando troncos de árvores, deixando marcas. A comunicação também era essencial. Nos primeiros dias nas matas aprendiam a se comunicar com outras tropas valendo-se do fogo e da fumaça para dar avisos à distância. Assim foi nos primeiros tempos. Não importa para onde foram no Mato Grosso do Sul, nenhum progresso trouxeram até a generalização do uso de cavalos e de burros para percursos extensos, levando cargas maiores.
Os índios de carga.
Os primeiros caminhos não passavam de trilhas indígenas ou carreiros de antas. Eram destinados apenas a pedestres. O comum era fazerem os percursos a pé ou, tratando-se de gente "grada", e também de mulheres, velhos ou sujeitos doentes, em redes carregadas por índios de transporte. Conforme vários informes, tratava-se muito mais de buscar por "distinção e autoridade" do que simples apelo ao comodismo.
As redes eram de todos.
A verdade, porém, é que as redes de carga serviam aos poderosos e aos "mimosos", mas também eram usadas pelos indígenas.... na hora do enterro. A diferença entre essas redes estava na apresentação externa. As mais sóbrias iam para gente pobre ou para enterrar índios. Os mais abastados tinham redes lavradas de desenhos e com vistosas franjas. Também havia redes "ostentação", tal como um automóvel de luxo, levavam enfeites de prata.
Quem são esses paulistas?
Os paulistas andam nas matas do Mato Grosso do Sul quase sempre em grupos de 60 a 80 homens, armados de flechas e espingardas. Ninguém descobriu como fizeram para obtê-las, mas o certo é que as possuem. Como tem fama de roubar viajantes e de acolher em seus domínios muitos escravos fugidos, é possível que consigam suas espingardas por esse meio. Comenta-se que entre eles há muitos piratas fugitivos do Caribe. Quando algum forasteiro deseja ingressar em alguma cidade ou povoado paulista, ele é sujeito, antes de ser admitido, a uma espécie de quarentena. Nada a ver com saúde, mas sim porque querem avaliar as suas aptidões e verificar se ele não é um traidor ou espião carioca. Depois de prolongada vigilância, o forasteiro é enviado a lugares como o MS, tendo de fazer longas e penosas jornadas em busca de escravos índios.