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Em Pauta

O dispositivo médico de Star Trek já é realidade

Mário Sérgio Lorenzetto | 08/06/2017 07:08
O  dispositivo médico de Star Trek já é realidade

Poucas séries de ficção científica tiveram a importância e relevância de Star Trek. O universo criado por Gene Roddenberry, nasceu como um show televisivo em 1966. Segue vivo, passados 50 anos, depois de 6 séries, 13 filmes e outros tantos desenhos animados.

As aventuras galácticas do Capitão Kirk e sua tripulação são responsáveis por mais de uma centena de experimentos científicos. Além das experiências, Star Trek também é responsável pela tentativa de criar aparelhos mais variados. Um dos mais sensacionais são os tablets que utilizamos como parte de nossos cotidianos. Outros, como as câmaras de teletransporte, para nos levar a qualquer canto do universo, ainda estão distantes da realidade.

Um dos dispositivos que mais chamavam a atenção em Star Trek era o "tricorder", usado pelo Dr. McCoy. O aparelho servia para diagnosticar qualquer doença apenas o aproximando do paciente. Uma ideia maravilhosa que melhoraria muito o trabalho dos médicos e auxiliaria a vida de qualquer paciente. Pois bem, esse aparelho se tornou realidade. A ideia foi da fundação XPrize, que através de uma concorrência milionária, convocou, em 2012, equipes de todo o mundo para que convertessem em realidade o "tricorder" de Star Trek. Uma das equipes foi a canadense CloudDX. Ela venceu a competição com um equipamento que denominou "Vitaliti".

Ele integra vários equipamentos de forma inalambrica (sem fios ou cabos) e permite medir as constantes vitais dos pacientes. Ritmo cardíaco, fluxo de oxigênio no sangue, temperatura corporal, análise de fluidos, identificar uma longa lista de enfermidades e ainda dar conselhos médicos graças à inteligência artificial. Sem duvida, o maravilhoso mundo mágico da ficção científica novamente se fez realidade.

O  dispositivo médico de Star Trek já é realidade

A loja sabia, antes do pai, que a filha estava grávida

Pensamos com dois sistemas que agem de forma distinta. O primeiro é ágil, rápido, atuando por instinto e comandado pelas emoções. O segundo é lento, pondera as diversas circunstâncias antes de decidir, muitas vezes corrigindo os enganos do primeiro sistema. Entender como o cérebro se engana e reage aos mais diversos fatores é crucial para o mundo do século XXI.

O principal produto do entendimento dos dois sistemas que agem em nossos cérebros é a valorização da estatística como uma forma de conhecimento mais profunda do que imaginávamos. Essa revolução atingiu da medicina aos esportes, da política ao direito, da educação ao comércio.
Entender como a pessoa pensa é um desafio que passa pela coleta, pelo armazenamento e pelo tratamento de dados gerados por um indivíduo. Como um verdadeiro corpo digital, esses dados servem para os mais distintos propósitos.

Você é o que o banco de dados pessoais diz que você é. Considerando o tempo que passamos conectados à internet, pode-se dizer que você é o que clica, o que curte e o que compartilha. Quanto mais dados são coletados, mais sabemos sobre nós.

A economia do comportamento, aliada ao fenômeno do big data - tratamento de grande volume de dados - está mudando o mundo. Apenas um mero exemplo: a loja sabia, antes do pai, que a filha estava grávida. A Target, rede de varejo dos EUA, desenvolveu um projeto de economia comportamental com big data. Após processar os hábitos de compras de seus clientes, tornou possível identificar as clientes que teriam filho. Um dos padrões descobertos foi a compra de loção hidratante sem perfume e de um aumento na compra de suplementos de cálcio, magnésio e zinco. A empresa montou uma lista de 25 produtos que, combinados, geravam uma nota de expectativa de gravidez.

Mas onde a empresa saia ganhando? Ela se antecipava aos concorrentes enviando cupons de desconto para a casa das clientes, com foco em produtos para bebês.

A empresa enviou cupons para a casa de uma adolescente de 16 anos e o pai dela interceptou a mensagem. Furioso, ele foi a uma loja Target reclamar que a filha tinha recebido esses cupons. Explicou que ela era muito jovem e estava na escola. Pouco tempo depois, o mesmo pai telefonou para a loja para pedir desculpas: "Estavam acontecendo coisas aqui dentro de casa das quais eu não tinha ideia". Bem-vindos ao mundo em que a análise de dados faz com que a loja saiba, antes do pai, que a filha está grávida.

O  dispositivo médico de Star Trek já é realidade

A preferência pelo erro e pela estupidez

Você preferiria confiar em uma pessoa ou num robô? Imagine um mundo em que, ao final do dia, sua parceira fizesse uma análise numérica - big data pessoal - sobre as vantagens e as desvantagens de continuar junto com você. Grandes são as chances de que você prefira ser julgado por um humano que erra, que gosta de você por fatores subjetivos - e que podem até contradizer a lógica racional - que por uma inteligência artificial, que a partir dos números decide que o relacionamento está fadado a terminar.

Ninguém decide com base apenas em números. Todos precisam de uma história. Essa história, essa narrativa, será cada vez mais desafiada pelo processamento de um grande volume de dados e pela inteligência artificial. Na Europa já existe o "direito à explicação", que pode ser acionado toda vez que uma decisão sobre questões como a renovação de seguro de vida são tomadas por banco de dados. Em estudo recente, o Parlamento Europeu debateu o direito de idosos e pacientes de não ser tratados exclusivamente por robôs.

De onde viria essa desconfiança do julgamento emitido por robôs? Parece que desejamos que esse julgamento seja proveniente do mesmo processo baseia nossa tomada de decisão, ou seja, ancorada em sentimentos, emoções, reações típicas de preferência pelo erro e pela estupidez. Temos o direito de ser estúpidos e, dele, não abrimos mão. Ser estúpido é inerente à condição humana.

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