O paraguaio que descobriu uma doença fatal em um brasileiro
Luís Enrique Migone Mieres. Esse é o nome de um médico paraguaio que deveria receber não só aplausos, mas ser lembrado com estátuas, nomes de ruas, escolas, faculdades e, principalmente, nas salas de aula. Migones, como era conhecido, descobriu a leishmaniose visceral, uma doença fatal, em um homem que havia trabalhado na estrada de ferro Noroeste do Brasil. É raro vermos um herói das ciências no país vizinho, Migones tem a mesma altura dos maiores da humanidade. Ainda que pouco recordado em seu país de origem, nesta semana, vem sendo reverenciado no mundo devido à invenção espanhola de um método que agiliza o diagnóstico dessa doença.
12 milhões de pessoas infectadas.
Em 1.911, Migones reportou o primeiro caso de leishmaniose. Levou dois anos para conseguir publicar seus estudos em uma das mais prestigiosas revistas científicas francesas. E é muito estranho que somente 15 anos depois, conseguiria publicar sua descoberta em uma revista paraguaia. É mais um caso do famoso dito popular: "santo de casa não faz milagre". Mas Migones fez. Essa é a enfermidade tropical mais desatendida da face da terra. Estimam que existam 12 milhões de pessoas infectadas e, a cada ano, outras 2 milhões também adoecerão devido a esse protozoário. Estranhamente, as populações rurais das Américas são as mais infectadas, nos demais países, essa doença ocorre nas zonas urbanas. No Brasil, só foi reconhecida como doença importante em 1.934, nada menos de 33 anos depois da descoberta de Migones.
O Migone desconhecido.
Migone era um cientista nato. Saído da faculdade em 1.903, teve a fortuna de trabalhar com Miguel Elmassian, um famoso médico do Instituto Pasteur de Paris, que fora contratado pelo governo paraguaio. Juntos, descobriram o "mal das cadeiras dos cavalos", causado por um Trypanosoma. Recebendo uma bolsa do governo do Paraguai, viajou para a França para continuar suas pesquisas. Regressando a seu país, exerceu a docência na faculdade de medicina, mas pouco se destacou. Só se interessava pelas pesquisas científicas. Passou a dedicar seu tempo aos estudos do mal de Hansen. Quando eclodiu a guerra do Chaco, foi à essa região lutar contra as graves epidemias que assolavam a vida dos combatentes, produzindo grande quantidade de variados tipos de vacinas. Migone também publicou um trabalho sobre as propriedades do "aguaí-guazú" , uma planta, para o tratamento da sífilis.