O policial é um trabalhador. É um de nós e não contra nós
A pauta é greve policial. Mais uma. Desta vez, com centenas de mortos pela insegurança pública. É preciso entender que uma greve não ocorre do dia para a noite. Foi amadurecida por um bom tempo. Com esse tempo, os governantes têm a obrigação de montar um plano de contingência.
Colocar bombeiros nas portas das escolas e nas regiões de comércio. Acertar com as guardas municipais um trabalho dobrado. E, especialmente, deixar preparada a Força Nacional e o Exército para ocuparem as posições mais importantes no combate ao crime. Isso não tem sido organizado pelos governantes.
Mas há algo fundamental. O policial é um trabalhador. É um de nós, e não um contra nós. Os policiais não são pensados como trabalhadores, e sim como militares, com menos direitos que a população comum. Discutir as questões trabalhistas é vetado a eles. Eles podem discutir nas associações de cabos e soldados, mas não dentro dos prédios policiais. Muitos não sabem, mas o debate é considerado indisciplina. E nada é mais caro para um militar que a disciplina. Se discutirem questões relacionadas à saúde, podem ser presos.
Há necessidade de garantir os direitos básicos a eles. Menos militares e mais cidadãos. Há necessidade de instituir câmaras de negociação trabalhista transparentes. Acabar com essa enganação de colocar esposas à frente dos quartéis. Estamos fingindo que não existe greve. Ou na linguagem militar - temos um motim. E é esse o dilema. Greve ou motim? Mais militarização ou menos? A greve, ou motim, de policiais é ilegal e continua ocorrendo. A população convive com o medo, com a falta de esclarecimento...e com a morte.
Tem muitos atores implicados nessas greves de policiais. Há estímulos de setores que ganham com elas. Há políticos que saem ganhando, o crime ganha muito, a indústria ilegal da segurança também ganha e setores da própria polícia têm interesses nas greves. Tem muita gente ganhando e, alguns, farão carreira política em cima da desgraça. E os policiais militares, em especial, tem sido moeda de troca. Apenas um exemplo que passa desapercebido: os bicos são tolerados para não construir políticas salariais decentes que os valorize. Mas, como o bico é informal e ilegal, todo mundo na polícia deve favor a todos. Assim, constroem-se carreiras na corporação e na política.
Os soldados viram cabos eleitorais com facilidade. Constroem currais eleitorais. É preciso entender, e desmontar, que as polícias não podem atender a propósitos político-partidários.
O que está ocorrendo no Espírito Santo não será um vírus contagiante para os demais Estados.
Não há necessidade, as insatisfações estão acumuladas ao longo do tempo. Não existe interlocução clara.
Refugiados. A Europa perdeu a memória
A crise dos refugiados que chegam à Europa continua se agravando. Entre neve e gelo, no teatro europeu interpretam distintos "remakes", velhos filmes com caras novas, das imagens das Guerras dos Balcãs e da Segunda Guerra Mundial. Só mudaram os protagonistas. E não faz muito tempo.
Todos os europeus foram refugiados em algum momento do século XX. A Guerra Mundial deixou atrás de si uma Europa desabrigada, refugiada e envolta em uma crise humanitária enorme. A que surge agora pode ser comparada à da Guerra Mundial. Hoje, 24 pessoas fogem de suas casas a cada minuto por causa de guerras. Um total de 34.000 pessoas por dia. No final do ano passado, 65 milhões de pessoas tinham sido expulsas de seus lares. Um de cada dois procede da Síria, Afeganistão ou Somália. Segundo a Organização Internacional das Migrações, 4.699 pessoas perderam a vida tentando alcançar o Velho Continente. O Mar Mediterrâneo se converteu no lugar onde convergem a esperança e o horror.
Os refugiados não são um ente, não são um número, são seres humanos como qualquer um de nós. É inadmissível ver a reação e o posicionamento claramente contra os refugiados que vários países estão tomando, e votando por autoridades claramente contrárias aos refugiados. A começar pela Hungria. Esqueceram que depois da revolução húngara de 1959, mais de 20.000 húngaros fugiram de seu país e foram acolhidos em vários países prontamente, em tempo recorde.
A crise de refugiados europeus começou com os espanhóis. No fim da Guerra Civil só na França havia 440.000 refugiados espanhóis. Se tinham vida difícil, pioraram muito com a assunção ao poder francês do governo colaboracionista de Vichy. Os companheiros franceses dos nazistas expulsaram os espanhóis de seu território. Foi o México quem mais se abriu para acolher espanhóis, receberam mais de 20.000 em poucos dias. A França também enviou refugiados espanhóis para a Colômbia, Cuba e Argentina. Mais de 3.000 crianças espanholas foram enviadas para a União Soviética. E esse era apenas o início.
O êxodo que veio ao termino da Segunda Guerra foi massivo. É calculado em 8 milhões de europeus fugindo de seus lares. O mundo todo os acolheu. Especialmente os países do Oriente Médio. A única diferença entre os refugiados de ontem com os de hoje, está no país que é o meio do caminho. No passado era o Chipre, hoje, são as ilhas gregas e a Turquia. É bom que se recordem que os povos do Oriente Médio e da África acolheram os refugiados europeus sem crise. Até os nazistas foram bem recebidos. O Egito compete com a Argentina como o país que mais nazistas recebeu.
Vá comer em outro lugar. A simbiose entre formiga e planta
Durante dezenas de anos, as formigas foram combatidas no Brasil. Elas destruíam plantações, eram inimigas dos vegetais. Um grupo de cientistas acaba de descobrir que existe uma planta que é "amiga" das formigas.
Na Amazônia, existem clareiras misteriosas que contrastam com a diversidade típica da região. Nessas clareiras só crescem uma única espécie de árvore. São os chamados "jardins do diabo", onde, segundo reza a lenda, habitariam espíritos malignos da floresta.
A árvore que vive sozinha na clareira é a duroia (Duroia hirsuta). As hastes de suas folhas apresentam "inchaços", por ondem entram e saem pequenas formigas. Esses inchaços funcionam como um castelo para as formigas. Elas os defendem de todos os ataques possíveis, tanto de outros insetos como de árvores que queiram crescer onde está a duroia.
Os inchaços são câmaras onde as formigas guardam seus ovos e alimentos. As formigas são "hóspedes" da duroia. Em contrapartida, as formigas constituem um verdadeiro exército para combater os inimigos de seu "castelo". Diante do invasor, esses soldados minúsculos adotam uma estratégia: identificam seu ponto fraco e atacam, até que ele se renda. Regularmente, pelotões de formigas deixam o castelo para patrulhar a região. Quando se deparam com um broto novo, fazem uma inspeção.
Se for um broto da duroia, deixam-no em paz. Se for um intruso, o ataque começa com a mordidas nos ramos. Quando chegam os reforços, com novos pelotões de formigas, centenas de pequenas garras ferem a planta, até que ela comece a murchar. Além das mordidas, as formigas injetam ácido fórmico. O veneno se espalha pelos tecidos da planta invasora... matam o invasor. Ao assegurar a seu hospedeiro mais espaço para crescer sem competição, as formigas garantem mais moradias onde possam se reproduzir e aumentar seus exércitos.
A maior colônia descoberta até agora tem, aproximadamente, 807 anos. compreende 1.300 metros quadrados e é formada por algo como 3 milhões de formigas-operárias e 15.000 rainhas.