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Em Pauta

O veneno do sapo amazônico e os médicos pé-descalços

Mário Sérgio Lorenzetto | 02/08/2023 08:30
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

O que pode existir entre sapos da Amazônia e médicos chineses? Esta é uma história de um país que não admite lutar contra as pseudociências; especialmente contra o xamanismo, acupuntura e homeopatia, e outro, que toma todas as políticas de saúde possíveis para melhorar seu sistema de tratamento e cura de doenças.


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Augusto Ruschi e os sapos safados.

Ruschi teve sua foto estampada nas cédulas de reais e cruzeiros. Foi um naturalista e agrônomo conhecido por seus estudos de beija-flores e orquídeas. Procurando pelo maior beija-flor brasileiro na Amazônia, topou com alguns sapinhos ainda desconhecidos do mundo científico. Ao invés de observar melhor a ave, resolveu pegar os sapinhos safados. Percebeu que mesmo chamando os indígenas que o acompanhavam, eles fugiram. Pegou meia dúzia de sapos e colocou em uma caixa. Você deve ter imaginado, os sapos eram venenosos.


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O xamanismo ocupa as manchetes dos jornais brasileiros.

A Constituinte estava para começar. Ruschi estava para morrer. Algo como 95% de seu fígado estava destruído. O Jornal do Brasil, um importante diário carioca do passado, escreveu algumas matérias e crônicas sobre o fim da vida de Ruschi. Emocionou muita gente, especialmente o então presidente Sarney. O maranhense chamou o cacique Raoni e lhe indagou se conhecia algum remédio que combatesse a toxina do sapo que atacou Ruschi. Raoni levou ao Rio de Janeiro um pajé. Foram três dias de xamanismo para curar Ruschi. Três dias de intensa cobertura jornalística. Muita gente acompanhava o ritual em estado de suspense. O Brasil torcia por Ruschi. O xamanismo e as pseudociências (homeopatia, acupuntura e tratamento com ervas) estavam salvas. Ruschi não. O Brasil continuaria sua longa história de delegar à magia a cura de seus doentes.


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Guerra aos pardais chineses.

Fizeram as contas e concluíram que os pardais comiam grãos anualmente, o correspondente a 600.000 chineses. O governo de Mao Tsé-Tung declarou guerra aos pardais. Tinham de ser exterminados. Ignorantes, não pensaram que mais que grãos, os pardais comem gafanhotos. Depois de acabar com os pardais, nuvens de gafanhotos destruíram as plantações chinesas. Foram dois anos sem pardais, com gafanhotos e muita fome. Reintroduziram os pardais. Essa foi a última vez que os chineses erraram em suas políticas de saúde. Rapidamente, a Academia Chinesa de Ciências conseguiu se igualar à britânica e à canadense, as melhores do mundo. Mas tinha um problema: apenas 2% da população vivia nas cidades.


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O combate contra a acupuntura e os tratamentos contra as ervas.

O governo chinês resolveu investir na construção de faculdades de medicina. A encrenca, a mesma que o Brasil vive, era que os recém formados só queriam ficar nas grandes cidades e estas contavam com tão somente 2% da população. A crendice e a magia da acupuntura e das ervas tomavam conta das populações rurais. Na década de 60, o governo resolveu montar uma estrutura de medicina diferente. Em nove meses, no máximo, colocaria 150.000 médicos e 350.000 paramédicos na zona rural. Montou cursos rápidos para apenas resolver os problemas de diagnóstico, receita e pequenos curativos feitos pelo que chamavam de "médicos de pés-descalços". Desejavam combater as pseudociências. Os belos manuais dessa medicina simplória chegaram ao Ocidente. Além de ensinar tratamentos alopáticos elementares, também mantinham o ensino da acupuntura e de tratamentos com ervas. Não era possível simplesmente eliminá-los à canetada, precisavam ter paciência. E foi assim que a acupuntura floresceu no Ocidente. Enquanto os chineses combatiam as pseudociências, os brasileiros as enalteciam. E ainda copiavam a acupuntura, mal vista na China.

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