Olimpíadas: o melhor médico para o sofrimento é a celebração
As Olimpíadas modernas compartilham aspectos positivos e negativos com seus antigos modelos gregos. Desde a lendária fundação em Olímpia, na Grécia, em 776 a.C., os jogos sempre foram locais para mostrar a excelência e as realizações humanas. Ambos também têm sido veículos excludentes para uma cultura de elite. Deles, só participavam os membros da aristocracia, aqueles que não tinham de trabalhar durante o ano inteiro. Mas, ainda assim, eram de suma importância para as centenas de cidades-estado que formavam a Grécia. Tão importante, que as datas de suas realizações substituíam as datas do calendário. O que chamamos agora de ano 409 a.C., era chamado de ano 93 Olimpíada.
Também eram internacionais.
Os jogos transcendiam as fronteiras da Grécia, chegavam à Sicília, hoje italiana, ao Chipre, e a Rodes, hoje uma cidade grega, mas então, um "país" independente. Se reuniam em Olimpia, Corinto, Delphi e Nemea. Essas competições faziam parte de um pequeno grupo de práticas, que hoje são denominadas de "cultura pan-helênica".
Os deuses fizeram do suor o preço da excelência.
Os jogos não eram abertos a todos. Eram para homens competindo e assistindo. Mulher não entrava nem para acudir algum atleta caído. Também eram restritos pela classe social. Apenas os nobres tinham dinheiro para viajar tão longe, dias de distância de suas residências, para comprar cavalos que competissem e corromper adversários e juízes. Era caro participar dos jogos.
Quanto custa uma medalha nos Jogos de Tóquio?
O elevado preço para participar dos jogos nos tempos da Grécia não é muito diferente do atual. As estimativas atuais mostram que cada medalha custa, em média, US$ 20 milhões para treinamento e suporte. Também, tal como hoje, havia muita trapaça e suborno. Tanto oponentes, como juízes eram subornados. Também havia patrocínio. Os governantes e as guildas - associações - atléticas colocavam muito dinheiro nos jogos. Era fundamental para projetar suas cidades.
Porrada pra todo lado.
A ideia dos jogos era celebrar os deuses e promover a paz entre as cidades. Mesmo em guerra, as cidades paravam de lutar durante os jogos. Até quando a Pérsia invadia a Grécia, o tempo dos jogos eram respeitados e não havia combates. Mas nas cidades que hospedavam os jogos o pau comia. Uma grande quantidade de pessoas sempre se opunha a eles, especialmente, pelos gastos elevados que os cidadãos tinham de pagar. Sempre existiu boicotes, conflitos e até lutas armadas.
Um bálsamo para o sofrimento.
Se há um espírito universal nos Jogos Olímpicos, talvez seja o tempo de suspender a descrença que transcende o tempo e as disputas políticas. Mesmo deles não participando, as pessoas seguiam avidamente os resultados obtidos por seus competidores. A distração sempre foi um bálsamo para o sofrimento humano. Píndaro, um famoso poeta grego dizia: "O melhor médico para o sofrimento pelo qual passamos é a celebração".