Onde foi parar o inferno, o purgatório e o limbo?
Não sei se os católicos se deram conta de que a Igreja, há muitos anos, deixou de falar sobre os "novíssimos". Essa foi uma corrente de pensamento que tratava do inferno governado pelos demônios, onde iam aqueles que morriam em pecado mortal, que inspirou a fabulosa "Divina Comédia" de Dante Alighieri, com os famosos caldeirões fervendo.
Purgatório, o lugar para pecadores veniais.
Os "novíssimos" também tratavam do purgatório, um lugar de espera para todos que tinham cometido pecados veniais. E ainda havia o limbo, para as crianças que morriam sem se batizar, um lugar onde não sofriam mas também não viviam em prazer. Se trata de uma doutrina que nunca foi dogma de fé. Mas a Igreja a usou, sobretudo na Idade Media, para atemorizar os fiéis e distanciá-los do pecado, especialmente daqueles relacionados com o sexo.
36 horas no purgatório.
Esses novíssimos foram objeto dos mais disparatados detalhes. Diziam que as almas poderiam ficar entre 36 e 48 horas. Também ficava difícil explicar o sentido do limbo das crianças mortas sem batismo. Qual pecado pode cometer um bebê de um mês?
Crianças lançadas no lixo.
O processo de esvaziamento desses novíssimos foi iniciado por João Paulo II, e concluído por Ratzinger, Bento XVI. Poucos conhecem essa história. João Paulo II começou eliminando o limbo. O fato é que ele tinha uma irmã nascida morta. Seus pais eram ultracatólicos, extremados conservadores. Naqueles tempos, entre os católicos, quando uma criança nascia morta sem receber o batismo, não podia ir aos céus. Por isso não os enterravam, os lançavam no lixo. E isso impedia o papa de sepultar todos os membros de sua família em um só lugar. Tinha um trauma. O limbo dançou.