Os povos mais generosos e solidários do mundo
Ajudar estranhos pode significar muito mais que uma boa ação. Um estudo publicado pela consultoria Gallup revelou que a disposição de povos em ajudar o próximo é um forte indicador de bem-estar coletivo. A Gallup entrevistou mais de 145 mil pessoas em 140 países. Perguntaram se ajudaram um estranho, doaram dinheiro para alguma instituição de caridade ou fizeram trabalho voluntário em alguma organização. Os resultados colocaram o Mianmar em primeiro lugar, seguido pelos Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e Sri Lanka, fechando o top five das cinco países mais solidários do mundo. O Brasil ocupa a posição 34, com metade da pontuação obtida por Mianmar. Não somos totalmente insensíveis e nem exemplares.
O Gallup diz que os dados mundiais são encorajadores pois mais de 2 bilhões de pessoas ajudaram estranhos, 1 bilhão fez trabalho voluntário e quase 1,5 bilhão doou dinheiro para caridade. Mas, a grande questão é: o que faz desses cinco países mais generosos do que os demais? A generosidade em Mianmar e no Sri Lanka vem de uma forte tradição do budismo. Eles entendem que qualquer boa ação que pratiquem é levada em conta para sua próxima encarnação. Reúnem em inúmeras atividades - limpar ruas, construir casas para desabrigados, doações de sangue em conjunto, caridade nas escolas, barracas de comida gratuita em feriados e dias especiais...
Nos Estados Unidos a solidariedade é existente de acordo com o local de moradia: fortíssima nas regiões centrais das maiores metrópoles e vai decaindo, até desaparecer, à medida que se aproxima das regiões rurais. Buscar que todos tenham a mesma chance de ser bem-sucedido é uma parte essencial da cultura australiana. Ao contrário do Brasil, onde o rico é entendido como criminoso, na Austrália há um grande respeito com aqueles que conseguem ser bem-sucedidos. E, talvez, aí venha a grande diferença - eles continuam humildes, ligados às suas raízes e dando apoio aos outros. Na Nova Zelândia, um pequeno país onde a maioria vive na zona rural, tratam-se como se todos conhecessem todo mundo. Estão, frequentemente, unidos em ações solidárias para com seus vizinhos e próximos.
O decréscimo de católicos e o humanismo laico.
Uma recente pesquisa mostrou uma queda vertiginosa no número de católicos no Brasil. A matéria que acompanhava a pesquisa em número momento discutiu que, apesar da queda, os católicos continuam sendo a metade do país. O debate foi ferrenho nas redes sociais. De um lado católicos, de outro seus dissidentes - protestantes e evangélicos. Em um país com forte histórico religioso, os ateus e agnósticos também ganharam força. A questão mais debatida é se estaríamos nos umbrais do fim das religiões apregoado por Karl Marx, Freud e Schopenhauer.
É muito provável que o mundo, não só o Brasil, seja cada vez mais secular. Mas o fim das religiões é apenas uma quimera, um pensamento baseado no desconhecimento da trajetória do ser humano. O mais primitivo "homo sapiens" foi também "homo religiosus". Vivemos um período onde o fundamentalismo religioso e o ateísmo militante ganham vulto, enchem as manchetes dos jornais, são mais estridentes. Mas o humanismo laico que respeite a fé alheia sem renunciar à análise racional da realidade também ganha espaço.
Desde o Paleolítico Inferior tem ocorrido orações ou reverencias, forças sobrenaturais ou mágicas. A religião é parte da natureza humana e não temos como supor que ocorrerão mudanças na natureza humana. Não há nenhuma prova ou sinal de que as religiões desaparecerão. Se há religiões que perdem adeptos, outras os conquistam.
É bem mais provável que o inimigo do catolicismo não será tanto o anticlericalismo e sim novas religiões que estão surgindo e continuarão a aparecer. Provavelmente que não tenham um caráter messiânico. O islamismo procurará seu encaixe em um mundo que a cada dia o vê com mais receio. Há algo que passa desapercebido para muitos: o islamismo sempre teve uma relação difícil com o capitalismo e com o catolicismo. Mas há um grande esforço de muçulmanos para criar um pluralismo e liberalizar o islã. Mas o mundo muçulmano está levando mais tempo para chegar a sua secularização do que o mundo ocidental.
Muitos também não percebem que o pensamento mágico não é patrimônio exclusivo das religiões. O nacionalismo extremado e o comunismo também são "devoções laicas", ainda que não desejem. Também é preciso entender que a certeza do ateu na inexistência de Deus é tão religioso quanto a crença na sua existência. O cientificismo também é uma religião. Há uma grande quantidade de cientistas que acreditam nas ciências de uma forma religiosa, o que é uma postura acientífica. Há momentos em que as pessoas esperam milagres das ciências, mas a ciência trabalha com enigmas, não com milagres.
Também há outra verdade que é negada todos os dias. As constituições e as leis falam e determinam a separação entre poder e religião. Nunca ocorreu e não é perceptível que venha a ocorrer algum dia. Hora distanciam-se, hora aproximam-se mais. Há tensão entre poder e religião, como há aproximação clara e límpida. Mas essa separação não é total.
O perigo das divisões religiosas.
A divisão mais decisiva da história do Cristianismo ocorreu por volta do século 8 d.C., representou o racha entre as igrejas do Ocidente e do Oriente. Essa cisão foi selada em 1054 após excomunhões recíprocas. É o denominado Grande Cisma do Oriente. Para muitos estudiosos das religiões, esse racha foi mais importante que a Reforma Protestante.
Até o século 8 d.C. havia pequenas divisões - coptas, armênios e etíopes, mas nos primeiros séculos, o mundo cristão era unido.
As doutrinas e as praticas eram resolvidas em concílios. O último da igreja católica unida ocorreu em 787 d.C.. A partir de então, vieram as dissenções. O Papa Nicolau (858 - 867) declarou a primazia do Papa sobre o mundo cristão. Para os orientais, isso era heresia. Os católicos orientais entendiam que essa decisão não era apostólica.
As diferenças logo se multiplicaram. Tanto na doutrina, como nos rituais e nos costumes. Enquanto a Ortodoxa (Oriental) via sua tarefa como a de preservar sua tradição apostólica, os Ocidentais se tornavam cada vez mais uma igreja de conversão. A pedra decisiva na cisão veio com a doutrina do purgatório, inaceitável para os Ortodoxos.
As excomunhões recíprocas de 1054 foram abolidas somente em 1965 e, desde os anos de 1980, foram feitas diversas tentativas de reconciliação. Frustradas. Atualmente, presenciamos a devastação da cristandade oriental na terra em que as ideias de seu fundador nasceu. O judaísmo e o islamismo tomaram os espaços. Ao mesmo tempo, a ortodoxia cresce enormemente na Rússia. Por lá há um vigoroso evangelismo.
Hoje, por toda parte, divisões religiosas estão crescendo e se tornando cada vez mais perigosas para o mundo todo. Especialmente no mundo muçulmano. Mas não apenas para eles, os cristão também se cindem em miríades de novas igrejas. O rápido enredo do Grande Cisma é um lembrete de como as religiões são importante, mas também de que elas são remodeladas pela História.