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Em Pauta

Quando as árvores eram do bem e do mal, tinham "alma"

Mário Sérgio Lorenzetto | 27/08/2020 06:40
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A Idade Média não é apenas a época dos cavaleiros e das damas, dos servos e dos senhores, dos torneios e dos reis, é sobretudo a era dos bosques e das árvores. O bosque, suas criaturas, suas lendas, suas clareiras, mas principalmente a madeira como elemento fundamental na vida cotidiana, ocupam o espaço vital e imaginário do mundo medieval. Até o ano 1.000 d.C., esqueceram das construções em pedra, tudo era feito de madeira. A grande arquitetura e engenharia romana só existia nos arquivos e documentos históricos. Não há pedreiros, há carpinteiros. A madeira manda no mundo medieval.


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Rei Arthur, El Cid e Robin Hood são criaturas dos bosques.

O bosque é a personagem central da história de Merlin. Arthur encontrou a espada Excalibur em um bosque. Os cavaleiros do Graal, despediram de Arthur e entraram em um bosque, desaparecendo. Merlin é uma mistura de profeta e selvagem, criado nos bosques, à margem dos palácios e sociedade. Todos os heróis da era de Arthur nascem e são criados nos bosques. Algo semelhante ocorre com El Cid, o herói espanhol. Só os bons são dos bosques. Os maus são da sociedade urbana. O bosque é um lugar perigoso, das feras e dos ataques. Mas é o lugar da vida, dos recursos da natureza, como a caça. Exatamente por isso, é o lugar perfeito para os heróis proscritos como Robin Hood.


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O amor nasce nos bosques.

Não há amor até que os franceses resolvem transformar as canções que saiam dos bosques como um exemplo a seguir na vida. Os casais eram formados única e exclusivamente como um acordo econômico e político. Mas os bosques estavam cheios de trovadores, cantadores e poetas. São eles que criam o amor denominado "cortês". O bosque era o espaço para o amor galante, muitas vezes secreto. O amor só acontece à sombra das árvores. Um lugar de delícias, uma metáfora visual da boa vida.


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Os diferentes tipos de bosque.

A Idade Média herda os três tipos de bosque romanos: o "lucus", um conjunto de árvores de dimensão religiosa; o "nemus", conjunto de árvores bem organizadas e a "silva", um bosque denso e virgem de intervenções humanas, a selva atual. Se lhe ocorreu que o sobrenome "Silva" vem de homem do bosque, não errou.
O homem medieval tinha enorme capacidade de explorar os recursos dos bosques, mas nunca chegou nem perto de exaurir esses recursos. Essa sede de destruir os bosques só viria com a Revolução Industrial, que deveria ser chamada de Revolução do Carvão. Toda a aprendizagem de séculos foi descartada. A madeira, que ocupava o centro do universo humano, virou carvão.


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As árvores do bem e do mal.

É impossível entender como as populações medievais entendiam algumas árvores como do mal. Nessa lista estavam a óbvia macieira, mas inexplicáveis laranjeiras, figueiras e a romãzeira. Eram símbolos da luxúria. Já a nogueira e o teixo estavam vinculadas com a morte. Árvores nefastas, onde ninguém podia dormir em suas proximidades sob o risco de ser levado pela mulher da foice. Também havia o outro lado. Uma gigantesca lista de árvores consideradas do bem. Elas eram entes que estavam dormindo, poderiam voltar a caminhar algum dia. Seriam seres extraordinários, lentos, bondosos, parcimoniosos, preocupados com o futuro de suas espécies e sempre à procura dos "ents" mulheres. Quem lembrou do "Senhor dos Anéis" acertou. J.R.R. Tolkien era um profundo conhecedor da Idade Medieval. O poder dos bosques e os seres que o habitam são uma recriação do pensamento medieval, a última era das árvores.

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