Roma: Médicos mal vistos, agro e advogados com boa fama
Hoje concebemos o trabalho como uma dignidade e um direito fundamental. Mas nem sempre foi assim. Nas sociedades grego e romana progressivamente incubaram um sentimento de desprezo para o trabalho em geral, especialmente para o trabalho manual ou para o remunerado. A causa principal desse sentimento negativo foi a existência da escravidão. Ter um ou mais escravos levou à exclusão do trabalho para parte da sociedade. Aos escravos foram destinadas as tarefas físicas mais duras - as atividades manuais. Mas também existiram escravos dedicados a tarefas intelectuais, como a medicina, engenharia... as denominadas profissões liberais.
O trabalho no campo.
De todas as ocupações do Mundo Antigo, em Roma a agricultura, inicialmente, era considerada a mais digna e proveitosa. Algumas pessoas imaginam Roma como um amontoado de militares, e por eles dominada. Não era assim. Roma foi, durante muitos séculos, uma comunidade de agricultores. O "homem de bem" era chamado de "bom agricultor", o maior elogio que um romano podia receber. Todavia, a riqueza exagerada mudou esse conceito. Com uma quantidade inimaginável de escravos, esse trabalho passou a ser dominado por eles. À partir do século II a.C., quase não restavam homens livres nos campos e o que era "homem de bem", caiu por terra: o agricultor passou a ser mal visto.
Médicos no sentido inverso do agricultor.
O berço da medicina foi a Grécia e a Turquia. No final do século III a. C., os primeiros médicos chegaram em Roma. Eram escravos. Catão dizia que deviam ser desprezados. Plínio, um dos maiores intelectuais romanos, chegou a proibir seu filho de todo contato com médicos. Dois séculos depois, Cícero diz que a medicina era uma arte. O médico já está em outro patamar. Nos fim do império romano, se incrementou notavelmente seu prestígio. Era comum um médico, mesmo "bárbaro" (estrangeiro), receber privilégios como a cidadania romana e a isenção de impostos.
As profissões jurídicas sempre no mesmo patamar.
Se houve uma gangorra social para agricultores e médicos em Roma, os profissionais jurídicos sempre foram bem vistos.... em qualquer época. Existiram duas profissões jurídicas: a dos juristas, que impulsionaram o nascimento das leis romanas que acabaram sendo copiadas por boa parte da humanidade; e a dos advogados (advocatí), que se dedicavam ao exercício prático do direito. Ambas profissões foram muito valorizadas em Roma. Há estudiosos da Roma Antiga que dizem que esse Império foi o berço do direito. Exagero? Não podemos esquecer que Hamurabi, o mais importante rei da Babilônia, organizou um código de leis muito antes da ascensão de Roma.