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Em Pauta

Sexualidade medieval. Obscenidades nas igrejas

Mário Sérgio Lorenzetto | 31/07/2018 06:31
Sexualidade medieval. Obscenidades nas igrejas

Por quê esse homem exibe seu enorme pênis que parece apontar-nos? E esse outro barbudo que se masturba? Qual o sentido dessa mulher que nos mostra a vulva? Todas essas esculturas estão nas igrejas europeias há mil anos. Tanto nas colunas que sustentam os beirais, como no interior. Aparecem em capiteis e até em pias batismais. Por quê os pedreiros medievais esculpiram essas ousadas iconografias? O que a igreja católica queria transmitir? Passado tanto tempo, quase não há respostas...
Os mestres de obra e artistas tinham modelos que copiavam e adaptavam, isso é conhecido pela história. Eram oficinas itinerantes constituídas por um mestre e muitos aprendizes que iam mudando de cidade à medida que recebiam novas encomendas clericais.
Há quem pense que nessas esculturas havia um caráter doutrinador, a representação daquilo que a população laica não deveria fazer. Tudo mostrado de uma forma contundente, explícita. Mas essa que é a principal tese para tentar explicar essas esculturas não é convincente. Seria algo como os pais mostrarem revistas pornográficas para os filhos para convencê-los de que isso é mal. Outra tese diz que era uma maneira da igreja incentivar o sexo em tempo de enorme mortandade de crianças. A ideia mais aceita pela igreja é de que as esculturas funcionavam como uma espécie de para-raios contra o diabo. Por um tempo, vicejou a tese de que eram travessuras dos mestres de obra e de pedreiros. Isso caiu, ninguém aceita neste momento. Todos sabem que os construtores não tinham poder algum sobre a igreja que construíam. Eram artesãos humildes, o poder decisório era do padre, bispo ou do nobre que pagava pela obra. Mas também há muitos erros no entendimento da sexualidade na idade média europeia.
A maioria imagina que a sexualidade nesse tempo era mal vista, todo sexo era considerado um mal. Todavia, a verdade é que já naquela época, os médicos prescreviam a prática regular do sexo como ajuda para uma vida sadia no casamento. Inclusive era tolerado pela imensa maioria que os padres e freiras praticassem o sexo. Até que no século XII, os padres resolveram enfrentar os médicos. A rigorosa reforma gregoriana impôs o celibato aos religiosos. Em parte por uma questão teológica - "Não pode compartilhar o sacramento da eucaristia alguém que mancha as mãos com sêmen". Mas, em boa medida, a decisão foi por uma questão econômica: os possíveis enfrentamentos dos filhos de clérigos com a igreja pelas propriedades ameaçavam a unidade cristã. Também sobrou para o povo laico: sexo só para procriar. É por isso que esse século XII é apelidado jocosamente de "Era dos eunucos".
Mas a igreja tomou decisões incompreensíveis para os dias atuais. Para as freiras que padeciam de "sufocação uterina", lhes permitiam masturbar-se. Assim detalharam os médicos que também eram padres e trataram do assunto, permitiram, inclusive, usar um tipo de vibrador. Ele seria "delicado, de salitre, cera e agrião". Como os monges não padeciam dessa "enfermidade" não podiam masturbar-se para o alívio. Os sermões eram a forma que encontraram de divulgar essas novidades. Como não funcionavam com fiéis rurais e iletrados, recorreram à iconografia.Era uma mensagem rotunda, mas a arte tampouco funcionou...
Nem a idade média era toda de obscuridade e horror. Nem avançamos tanto nas questões da sexualidade. Apesar de exageros nas novelas e passeatas que são combatidos com malemolência, o maior cuidado dos religiosos deveria ser quanto ao papel que jogam em eventos muito mais sérios, como as decisões que tomam para frear o avanço da AIDs.

Sexualidade medieval. Obscenidades nas igrejas
Sexualidade medieval. Obscenidades nas igrejas
Sexualidade medieval. Obscenidades nas igrejas
Sexualidade medieval. Obscenidades nas igrejas

A decadência ocidental do sexo oral.

Na Antiguidade, a prostituição era regulamentada e pagava impostos. O divórcio começou a existir. E até havia deuses do sexo. Os romanos prezavam tanto o sexo que havia uma lei para desincentivar o celibato. A solteirice e a falta de filhos eram punidos. Quanto mais filhos, menos impostos. Foi também na idade antiga que os conhecimentos científicos sobre o rala-e-rola começaram a se aprimorar. Hipócrates deu o chute inicial da partida que nunca mais terminou. Eles passaram a conhecer algumas doenças venéreas, como a gonorreia, termo cunhado por Galeno, no século II. Já os egípcios, gostavam de exibir seus genitais em público e consideravam a felação uma arte. Mas, imbatíveis mesmo nessa arte, eram os hindús. Na Antiguidade, muitos palácios da Índia eram dedicados aos estudos dessa arte. É de tanto estudar, que criaram o Kama-Sutra. Uma oração para a arte sexual, que conhecemos apenas como um livreto de posições impossíveis na hora do rala-e-rola. Diz a história, escrita por romanos, que Cleópatra foi capaz de praticar sexo oral em 100 soldados em uma só noite. Também conta que a cidade de Lesbos, ao contrário de ser o centro do lesbianismo, era o centro das artes do sexo oral. Quem nos conta dessa destreza na felação é nada menos que Homero, em sua Ilíada. Mas para todos esses antigos povos havia uma diferenciação entre a felação (no membro masculino) e o cunnilingus (no sexo feminino). Na antiga Roma, o cunnilingus era considerado inadequado, mas a felação era incentivada. O Kama-Sutra descreve a felação com grande detalhamento, mas menciona brevemente o cunnilingus. Somente no século XX houve a liberdade e igualdade das duas práticas. Mas parece que tudo será diferente no XXI.
Com tanta tradição para ser carregada, o "Journal Sex of Medicine" publicou um estudo que desmonta as ambições ocidentais nas artes amorosas. Diz que nada menos de 30% dos homens do nosso ocidente não praticam ou recebem sexo oral. Mas há estudo com resultados ainda mais avassaladores. O Canadian Journal of Human Sexuality constatou que apenas 28% das mulheres reconhecem que gostam de sexo oral. Tanto de dar como de receber. Elas não o viam como uma prática desejada.

Sexualidade medieval. Obscenidades nas igrejas

O primeiro ateu que saiu do armário.

Todo ateu que conhece sua religião - o ateísmo é, sem dúvida, uma religião - sabe que seu Papa é Epicuro. Esse grego (341-270 a.C.), acreditava que o acaso governava o Universo. Para ele, os deuses - se existissem - não se importavam com a humanidade. Também afirmava que quando uma pessoa morria, a alma perecia com o corpo. Epicuro negou qualquer vida após a morte e afirmou que ao aceitar isso, o homem teria paz.
Essa ideia da morte da alma junto com o corpo só seria recuperada pelo Ocidente nos anos 1200. Foi nesse século que os escritos de Aristóteles voltaram à tona, após um trabalho incansável de... padres. Pode parecer cômico, mas quem recupera a ideia do ateísmo - desaparecida do mundo católico - são padres pesquisadores de bibliotecas esquecidas nos monastérios. E, para completar a "façanha" - esses padres também recuperaram os textos do muçulmano Ibn Rusd - mais conhecido como Averroes - que também apregoam a morte da alma junto com o corpo.
Ainda hoje se discute se figuras dos anos 1600, como Descartes, Hobbes e Spinoza não passavam de ateus escondidos em seus armários. Tudo leva a crer que eram ateus com medo da fogueira. O primeiro ateu a sair do armário - considerado pelos membros dessa religião como seu patrono - foi o nobre polonês Kazimierz Lyszczynsky. Ele escreveu um tratado sobre a não existência de Deus, e foi executado em 1689.
De uma nobreza de classe média, o patrono dos ateus, estudou com os jesuítas por oito anos. Saiu dos estudos para a guerra, seguindo os passos do pai. Combateu contra russos, húngaros e suecos. Denunciado por um vizinho - que não queria pagar uma astronômica dívida -, o tribunal aceitou a acusação de ateísmo só depois de receber os originais de seu livro denominado "Sobre a não existência de Deus". Esse livro foi queimado junto com seu autor, dele restando apenas alguns pequenos fragmentos na biblioteca de Varsóvia. Aforma de sua execução foi colocada em dúvida por um bispo polonês que narra uma atrocidade. O ateu teria sua língua e boca maltratados, as mãos e pés queimados e, finalmente, consumido pelas chamas. Tal sentença, draconiana, revoltou seus pares nobres e até o Papa Inocêncio XI não a teria reconhecido. O patrono dos ateus saiu do armário direto para a fogueira, disso não se têm dúvida. A Associação Polonesa de Racionalistas realiza uma campanha anual sob o lema: "Lyszczynsky retorna à cidade".

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