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Em Pauta

Vinte flechadas dava um índio enquanto o paulista dava dois tiros

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 02/10/2023 09:00
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Há duas lendas que vicejam eternamente na conquista do solo sul-mato-grossense pelos paulistas: os cavalos e as armas de fogo teriam feito a diferença para que os brancos vencessem os vermelhos. Não foi assim. As canoas, herdadas dos índios e aperfeiçoadas com novos elementos vindos de Portugal e da Espanha e que tiveram importância durante as incursões paulistas nas matas do Mato Grosso do Sul. Mas surpreenderá muitas pessoas que armas de fogo eram inúteis nos combates com os indígenas. Em verdade, os paulistas adotavam as lanças como suas armas preferidas e mais eficazes.


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O papel do cavalo foi nulo.

Nas conquistas paulistas do território do MS, o cavalo foi praticamente um desconhecido. A vegetação densa da região impedia que os paulistas avançassem poucos quilômetros. A marcha a pé, suplementada, sempre que possível, pela navegação nos rios, foi a realidade dessa época. Uma légua equivale a 4,8 quilômetros. Há muitas descrições de que os paulistas eram capazes de andar de 300 a 400 léguas, como se passeassem pelas ruas da capital paulista.


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Armas de fogo era vantajosa?

Maquiavel, no tratado da arte da guerra, dizia que o escopeteiro servia para assustar camponeses na Itália, não para agir mais diretamente contra o inimigo. Essa realidade, esse texto de 1.520, era perfeitamente transferível para o MS. As armas de fogo requeriam mechas. À noite tinham o sério inconveniente de permitir a fácil localização do atirador. E, a qualquer hora, exigia pelo menos dois homens para dar um tiro. Um sustentava a arma no ombro, o outro, fazia a pontaria e disparava. Mesmo com a introdução das forquilhas de suporte das armas, era uma peça de transporte difícil e incômoda. O revólver - a data da patente do Colt é de 1.835 -, a primeira arma efetiva, só aparece quando os paulistas não estavam mais viajando para o Mato Grosso do Sul. A arma verdadeiramente apropriada era a lança, complementada pelo arco e flecha.


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Vinte flechadas.

As armas de fogo só traziam inconvenientes. O interesse dos índios por elas foi apenas inicial e era originário da detonação. A bala era invisível durante a trajetória e arma de fogo fazia um barulho aterrorizante. Depressa se desvaneceu essa vantagem. O tempo gasto para carregar um arcabuz era possível dar tranquilamente sete flechadas. Para os indígenas mais exímios, era possível dar incríveis vinte flechadas.


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Jogando água nas armas de fogo.

A insuficiência das armas de fogo ficará mais evidente nas terras dos guaicurus. Tão bons cavaleiros como os comanche e apaches norte-americanos, e capazes de lutar em campo aberto, diversamente do que ocorria com outras tribos, inventaram um estratagema demolidor. Enquanto alguns disparavam nuvens de flechas e outros davam botes de zagaias, os demais tratavam de jogar água nas armas dos paulistas, que, com isso, negavam fogo. É possível que os paiaguás tenham aprendido esse ardil.

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