O momento em que a morte chega
Manuella morreu.
Lutamos, lutamos, lutamos, a vida dela escapou por nossas mãos e foi para as mãos do Altíssimo.
Manuella morreu com apenas 10 meses de idade.
Manuella tinha Ame tipo 1 e estava com a liminar dos sonhos nas mãos. Tínhamos em seu favor uma decisão que determinava que a União fornecesse o medicamento mais caro do mundo, o tal ZOLGENSMA, cerca de 7 milhões de reais. ÚNICO medicamento que podia salvar a sua vida.
Manuella morreu.
Manuella morava em Rio Branc/ACRE. Filha de Isabel, sobrinha de Desidéria. Filha de uma família humilde, de uma mãe muito jovem e abandonada. Abandonada pelo pai da criança, abandonada pelos políticos, abandonadas pela gestão pública de recursos, abandonada pela sociedade. Isabel, mais uma indigente rara que só queria o mínimo: salvar a vida de sua filha.
Isabel morreu.
Isabel morreu junto com Manuella.
A decisão demorou para sair, o cumprimento não veio a tempo. O judiciário não foi capaz de salvar a vida da Manu. Nós, advogadas, não fomos capazes de salvar a vida da Manu. A mãe não foi, a tia não foi. NINGUÉM foi..
Os políticos locais prometeram e prometeram e prometeram e mentiram, claro.
Manuella morreu.
Isabel morreu.
A Esperança morreu.
Sabemos, de fato, que Manu está do lado do Pai, mas isso jamais será justificativa para abaixarmos a cabeça e aceitarmos a demora, o desleixo e a inescrupulosidade do poder público frente a uma ordem judicial de fornecimento de medicação.
A Manuella morreu.
A Isabel morreu.
A luta pelo melhor tratamento jamais morrerá.
Anaísa Banhara