Ginecologistas se unem para esclarecer: “episódios" do parto normal
O parto normal, ou vaginal, é um caminho natural para o nascimento de um bebê. O corpo da mãe foi preparado para isso. Mas intercorrências podem surgir nessa modalidade, do mesmo modo que podem surgir na cesárea. A decisão de qual via a ser adotada depende de vários fatores, que precisam ser analisados pelo médico.
Para ajudar nessa decisão, na próxima quarta-feira (6), a Câmara Municipal realizada a partir das 8h uma audiência pública sobre o assunto. Durante o debate, serão apresentadas algumas questões que devem ser avaliadas e amplamente discutidas em qualquer modalidade do parto natural, seja em ambiente hospitalar ou domiciliar.
A macrossomia é uma delas. É quando o bebê nasce com mais de 4 quilos, sendo que os riscos de complicações são maiores a partir de 4,5 quilos. A incidência desse peso nos partos varia entre 5 a 20% em diferentes populações.
Diretrizes nacionais e internacionais da área de obstetrícia mostram que a cesariana só deve ser indicada (e não imposta) nos casos chamados de "macrossomia grau 2", que é quando o peso fetal aponta mais de 4,5 quilos.
Contudo, vale destacar que existem casos de bebês maiores nascerem de parto normal e de menores que vêm ao mundo por cesárea. Ou seja: não é o tamanho do feto que indica a via de parto.
PERIGO
Já entre as intercorrências, a mais temida é quando a cabeça do bebê passa pelo canal do parto, mas os ombros não. Pode ocorrer em bebês de qualquer peso. Metade dos casos são registrados em pesos considerados “normais”. E nos que têm entre 4 e 4,5 quilos, o índice é de 5 a 9% dos nascimentos.
Os especialistas lembram que, em episódios assim, os ombros precisam sair do canal do parto num prazo máximo de cinco minutos. Essa intercorrência ainda pode gerar outros desdobramentos, como uma fratura de clavícula, independentemente da ação do médico.
Lidar com essas situações no parto domiciliar, por exemplo, pode aumentar os riscos, pois o tempo é muito pequeno para transferência ao hospital.
Em situações como essas é imprescindível o pronto diagnóstico e a atuação do obstetra para corrigir o problema em tempo hábil para salvar o bebê e preservar a saúde da mãe.
Levando em conta os índices e informações sobre as possíveis intercorrências, cabe dizer que não se trata de erro do obstetra em partos que tenham registro de dificuldade de saída dos ombros ou fratura de clavícula. São transtornos que podem surgir, segundo a literatura e as estatísticas da prática obstétrica. É por isso que não se pode configurar má assistência ou ato violento.
HPP
Ainda sobre o parto domiciliar, a hemorragia pós-parto (HPP) é a mais comum nessa modalidade e uma das principais causas de mortalidade materna no mundo. Calcula-se que 1,6 mil mulheres morram por dia em todo mundo por conta da intercorrência.
A HPP é considerada uma das causas mais evitáveis de mortes das mães, mas a gravidade está em um conjunto de fatores como o atraso em diagnosticar a hemorragia, a demora para transferência da paciente ou a falta de um tratamento adequado.
E quando há alguma intercorrência, como a hemorragia ou dificuldade da passagem dos ombros pelo canal do parto, há uma verdadeira corrida contra o relógio. Para se ter uma ideia, o tempo médio entre a detecção de um risco, tanto para o feto, quando para a mãe, até a chegada no hospital e atendimento emergencial, é de quarenta minutos ou mais. Isso levando em conta a dependência de acionar uma ambulância, trânsito e distância. Tudo pode agravar o quadro clínico da mãe e do bebê. Os desfechos, muitas vezes, podem ser de sequela para ambos e até mesmo mortes.
Importante pontuar ainda que, pelas diretrizes do sistema público de saúde no Brasil, não há previsão de que um médico receba a paciente numa unidade de emergência após um parto domiciliar, já que esse profissional, na maioria das vezes, está atendendo outras ocorrências graves do próprio plantão.
Os médicos esclarecem também que o parto domiciliar não é indicado para qualquer gestação. Não pode ser a via de nascimento, por exemplo, para grávidas com mais de 40 semanas porque é alto o risco de sofrimento fetal.
Portanto, antes da escolha, sobretudo, em partos naturais, é fundamental que a mãe seja informada pelos profissionais de saúde sobre todos os fatores de risco. É um direito que precisa ser respeitado.
Serviço: A audiência pública sobre parto será realizada no dia 6 de novembro, a partir de 8h, na Câmara Municipal de Campo Grande - Avenida Ricardo Brandão, n. 1.600, bairro Jatiúka Park.