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No mês da saúde do homem, médicos alertam que câncer pode fazer perder pênis

Por ano, em média 515 brasileiros têm o órgão genital amputado pela doença, segundo Ministério da Saúde

Cleber Gellio | 20/11/2022 08:51
Falta de higiêne e fimose são duas das principais causas (Foto: Centro Brasileiro de Urologia)
Falta de higiêne e fimose são duas das principais causas (Foto: Centro Brasileiro de Urologia)

Novembro é o mês mundial de combate ao câncer de próstata, o mais frequente entre os homens. Porém, outro tipo de câncer, o de pênis, tem preocupado a comunidade médica pelo alto índice de incidência no País.

Nos últimos 14 anos, foram registradas 7.213 amputações do órgão pela doença, o que representa um aumento de 1.604% nos casos e uma média de 515 ao ano, de homens submetidos ao procedimento, conforme dados do SIH/Datasus (Sistema de Informações Hospitalares), do Ministério da Saúde.

A doença representa cerca de 2% de todos os tipos de câncer que atinge o sexo masculino. De forma assintomática, começa com pequenas lesões que não se curam e acomete, em sua maioria, homens na faixa etária dos 60 anos.

“A prevalência é maior na sexta década de vida, sendo pouco encontrado em jovens e raro na infância. Mais frequentemente associado a indivíduos portadores de fimose e com más condições de higiene e nutrição. Infecções por alguns subtipos de HPV (sigla em inglês para Papilomavírus Humano) também estão relacionadas ao aparecimento da doença”, explica o médico urologista, Gustavo Dutra.

Apesar de raro no mundo, o câncer de pênis é diagnosticado com maior frequência em países de baixo padrão socioeconômico. No Brasil, o perfil prevalecente nesses grupos é de pacientes usuários do SUS (Sistema Único de Saúde).

Médico urologista, Gustavo Dutra, especialista sobre câncer de pênis (Foto: Divulgação) 
Médico urologista, Gustavo Dutra, especialista sobre câncer de pênis (Foto: Divulgação)

“Em oito anos de experiência com câncer de pênis, já conduzi alguns casos, sempre no SUS. Geralmente, com tratamento cirúrgico local, com ressecção da glande ou ressecções parciais. Alguns casos de amputações totais e raros casos já com doença avançada, evoluindo com complicações e desfecho desfavorável”, relata o especialista, membro da equipe de urologia da Santa Casa de Campo Grande.

Nos últimos quatro anos, foram registrados 8.225 casos desse tipo de câncer no País, sendo 1.791 casos em 2021, segundo o SIH/Datasus. Em número de procedimentos cirúrgicos, o Centro-Oeste aparece na quarta posição, atrás do Sudeste, Nordeste e Sul, conforme a SBU (Sociedade Brasileira de Urologia).

“O diagnóstico é clínico, anamnese (detalhamento histórico do paciente) e exame físico, confirmado com biópsia e o estadiamento da doença é feito por exames de imagem, sendo a ressonância o mais sensível. O tratamento da lesão primária varia dependendo da localização, podendo variar de crioterapia, ressecções parciais ou totais do pênis até cirurgias mais agressivas como emasculação [amputação total]”, Dutra.

Pouco conhecida, muitas vezes, a doença é negligenciada e se não tratada pode até levar à morte. “A doença se desenvolve em forma de lesão vegetante, superficial ou profunda, ou até mesmo forma de úlcera, mais comum na glande, e em metade dos casos no prepúcio, mas podendo, mais raramente, se apresentar na haste peniana e escroto. A progressão da doença é lenta, e pacientes não tratados morrem de complicações como infecção inguinal, necrose e erosão de vasos sanguíneos femorais”, alerta o urologista.

Como evitar – "A prevenção se baseia na higiene peniana, principalmente em paciente com excesso de prepúcio (pele), no qual exposição da glande e sulco balanoprepucial durante o banho deve ser realizada para limpeza correta. A vacinação para HPV antes de início da vida sexual também se mostra uma estratégia importante, além do uso de preservativos no caso parceiros múltiplos. Pacientes com fimose, o ideal é o tratamento cirúrgico, para facilitar a higiene adequada”, ressalta Dutra.

Em suas redes sociais (@dr.gustavodutra), o médico explica sobre as características da fimose. “Fimose é a incapacidade de redução do prepúcio com completa exposição da glande. Pode ser dividida em dois tipos: primária, que na maioria dos casos se resolve espontaneamente com o crescimento e secundária, que ocorrem por lesões inflamatórias ou traumáticas do prepúcio. Sintomas mais comuns são dor relacionada à tentativa de retração do prepúcio e durante a ereção. A incompleta retração do prepúcio pode predispor algumas doenças e complicações como parafimose, infecções urinárias, DST’s, HPV e câncer de pênis”.

Este ano, o Fórum de Prevenção do Câncer de Pênis no âmbito da Atenção Primária à Saúde, realizado pela a Sociedade Brasileira de Urologia, reuniu pela primeira vez profissionais que atuam na área da saúde do homem e abordou estratégias de atendimento na atenção básica para treinar agentes, enfermeiros e médicos de família, para que possam identificar as lesões ou então a fimose e fazer o encaminhamento necessário.

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Como forma de evitar tratamentos mutilantes, médicos da SBU realizaram cerca de 240 cirurgias de fimose em forma de mutirões que beneficiaram 12 estados. Além da medida pragmática, as discussões visam mitigar a incidência do câncer de pênis e estimular políticas públicas para o diagnóstico precoce da doença.

Em Mato Grosso do Sul, não é possível mensurar o número de emasculações em decorrência da doença, nem mesmo de casos notificados. O Campo Grande News falou com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) e a SES (Secretaria de Estado de Saúde) e ambas informaram que não contam com dados estatísticos sobre a doença.

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