Grupo bloqueava GPS de caminhões dos Correios e instalava rastreadores próprios
Dois funcionários da Transportadora Print Ltda, com filial em Campo Grande, trabalhavam para a organização
A forma de operação da organização criminosa alvo da segunda fase da Operação Snow, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) era sofisticada. Para que o trajeto dos veículos usados no tráfico de drogas não saísse dos olhos do chefe do grupo, Joesley da Rosa, eram instalados rastreadores em cada um, bem como anulados os sistemas de localização de caminhões terceirizados que também levavam entorpecentes.
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A segunda fase da Operação Snow, do Gaeco, desmantelou uma sofisticada organização criminosa liderada por Joesley da Rosa, que utilizava rastreadores para monitorar o transporte de drogas. Funcionários da Transportadora Print, Rodrigo Ribas e Claudeir Decknes ("Bidu"), atuavam como "integrantes infiltrados", facilitando a inserção de cocaína em cargas legítimas para os Correios. A organização utilizava diversas transportadoras como fachada, incluindo a JM Transportes, e contava com a participação de um técnico, Oscar Santos, responsável por bloquear rastreadores e instalar outros para monitoramento clandestino. A investigação também aponta para o possível envolvimento de policiais civis, com apurações em andamento pela Corregedoria.
Segundo as investigações, dois funcionários da Transportadora Print Ltda, com filial em Campo Grande, trabalhavam para a organização criminosa: Rodrigo de Carvalho Ribas, coordenador de logística da transportadora e Claudeir da Silva Decknes, o “Bidu”, que era motorista. Eles são chamados de “integrantes infiltrados” na empresa que presta serviços para os Correios em Mato Grosso do Sul.
“É evidente que CLAUDEIR DA SILVA DECKNES (“BIDU”), na função de motorista, não seria capaz de arquitetar, por si só e sem assistência e planejamento de alto nível, a inserção de um carregamento ilícito de drogas juntamente com a carga lícita a ser transportada pela empresa, que prestava serviços para os Correios. Nesse contexto é que surge a figura de RODRIGO DE CARVALHO RIBAS, coordenador de logística da Transportadora Print Ltda”, enfatiza a denúncia.
Para os investigadores do Gaeco, Rodrigo ocupava posição privilegiada na empresa, o que lhe permitia “conhecer e manipular os procedimentos necessários para inserir uma carga de cocaína de forma segura e eficiente no sistema de transporte legítimo da empresa”. Além disso, ele junto com seu irmão também denunciado, Ademar Almeida Ribas, o “Pitoco”, cuidavam de depósito da transportadora, onde além de carga lícita, chegavam e eram distribuídos os entorpecentes.
Tanto que em 13 de abril do ano passado, no galpão localizado na avenida Gury Marques, 5768, no bairro Universitário, foram apreendidos 839,2 kg de cloridrato de cocaína e 20,8 kg de skank. O Campo Grande News informou sobre o caso aqui.
E mesmo assim, os serviços não pararam. Em dezembro de 2023, o denunciado Rodney Gonçalves Medina orientou o técnico Oscar José dos Santos Filho a encontrar o motorista Bidu em um posto de combustível, de madrugada, para fazer a instalação de rastreador e bloqueio do GPS da empresa. Inclusive, Rodney manda Oscar a levar algumas lâmpadas e fusíveis para justificar a “manutenção” do rastreador, caso fossem abordados por algum segurança do posto, ou mesmo por policiais.
O serviço não foi feito porque foram abordados por segurança do estabelecimento e ainda, para que o GPS fosse “congelado” seria necessário violar o painel do veículo. Oscar, em conversa com Rodney, explica porquê não foi possível “parar” o sistema de localização do caminhão terceirizado.
“Não deu pra fazer o negócio lá não por dois motivos: o cara do posto lá, o segurança do posto me abordou lá no posto, o que eu estava fazendo no posto naquele horário, e também o motorista ficou com medo, porque tinha que violar o painel e pelo horário, se violasse o painel, como é que ele ia explicar para a empresa que tava fazendo manutenção, alguma coisa?”, contou. Bidu e Oscar combinaram que refazer o serviço em horário comercial para não levantarem suspeitas da transportadora.
Vale ressaltar que além de fazer a suspensão do GPS oficial, Oscar José “também era responsável por instalar um rastreador próprio, para que a organização criminosa pudesse acompanhar, sem o conhecimento do motorista, o trajeto do transporte da droga”, diz a denúncia, ao verificar conversa de Rodney com o técnico, ao que afirma o documento que Oscar “não presta mero auxílio esporádico, mas é efetivo integrante da organização criminosa, com a função específica de bloquear sinais rastreadores e monitorar os veículos usados pelo grupo”.
Isso se comprova com o print de uma tela de telefone celular em que aparece o monitoramento em tempo real, via GPS, de cerca de 12 veículos do grupo criminoso, entre carretas, caminhões, motos e carros.
O uso do veículo da Transportadora Print era corriqueiro, tanto que um deles chegou a danificar o portão de um segundo ponto de abastecimento localizado na Vila Piratininga, onde funcionava a JM Transportadora, em nome de Rodney. Também corrobora com essa informação, uma figurinha enviada por outro denunciado, Luiz Paulo da Silva Santos, o “LP”, mostrando um veículo dos Correios com a frase: “Bora Trabalhar”. A imagem foi enviada a Rodrigo.
“RODNEY GONÇALVES MEDINA estava de prontidão para realizar o carregamento de entorpecentes, (...). Momentos depois, ele encaminha vídeos e fotografias de um caminhão com a logomarca dos Correios (“SEDEX”) entrando na JM TRANSPORTES e danificando o portão da empresa.”
Em tempo, a Água Boa Transporte Logístico Ltda, em nome de Luiz Paulo e ainda a Ascari Transportes e Logística, pertencente a Bruno Ascari, investigado - eram usadas para dar ar de legalidade ao carregamento de drogas.
Nota - Sobre o envolvimento de policiais civis junto ao grupo liderado por Joesley da Rosa, o Comando da Polícia Civil informou que a Corregedoria-Geral da corporação participou do cumprimento de mandado judicial expedido em face de Gustavo Cristaldo de Arantes e que houve “afastamento compulsório de dois servidores, investigados em procedimento administrativo instaurado na Casa Censora”.
Por fim, reforçou que “sobre às menções do suposto envolvimento de servidores Policiais Civis nos crimes investigados na 2ª Fase da Operação Snow, as apurações necessárias, ainda em sigilo, já se encontram em andamento, visando o total esclarecimento da conduta e responsabilidade funcional de Policiais Civis.”
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