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Capital

"Fala o preço pra mim, bebê": a relação de traficantes com investidores do crime

Gaeco interceptou empréstimos que seriam para fomentar quadrilha do tráfico, investigada na Operação Snow II

Por Silvia Frias | 24/01/2025 11:36
"Fala o preço pra mim, bebê": a relação de traficantes com investidores do crime
Transcrição do diálogo e anotação dos R$ 100 mil para resgate de caminhão, dado como garantia (Foto/Reprodução/Gaeco)

A rede do tráfico de drogas operada pela quadrilha investigada na 2ª fase da Operação Snow envolvia, além de policiais e advogados, os intermediadores do dinheiro usado para fomentar o crime. As interceptações mostram as operações atribuídas a dois dos denunciados, que levantavam grandes quantias, em “parceria duradoura, reiterada e estável”.

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A segunda fase da Operação Snow desmantelou uma rede de tráfico de drogas que envolvia policiais, advogados e intermediários financeiros. Emerson Correa Monteiro e Diego Fernandes Silva são apontados como os principais responsáveis por levantar e distribuir grandes quantias para financiar a organização criminosa liderada por Joesley da Rosa. As investigações revelaram transações financeiras complexas, demonstrando a participação desses intermediários no custeio de operações de tráfico, com taxas de juros significativamente acima do mercado, evidenciando o risco da atividade ilícita. A denúncia, que inclui 21 pessoas, descreve uma extensa rede logística com base em Campo Grande, utilizando caminhões frigoríficos e até mesmo um carro funerário para o transporte de drogas para outros estados.

Dos 21 denunciados pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), Emerson Correa Monteiro, o "Pit Puf" e Diego Fernandes Silva são apontados como agiotas e/ou intermediadores da quadrilha comandada por Joesley da Rosa.

Emerson foi preso na primeira fase da operação na casa onde mora, no Condomínio Alphaville 4 e, atualmente, está detido no PTran (Presídio de Trânsito de Campo Grande) e Diego, conforme relatório, “em lugar incerto e não sabido”.

No dia 16 de junho de 2023, Rodney Gonçalves Medina, também denunciado pelo Gaeco, manda mensagem para Emerson e informa que conseguiu o contato por meio de Luiz Paulo da Silva Souza, o “LP”, integrante do grupo criminoso. O nome do contato no telefone de Rodney está como “Emerson agiot”.

Emerson pede que a conversa seja feita no período da tarde, o que acontece por meio de chamada de áudio no WhatsApp. “O contato ocorreu para tratar da obtenção de valores para custear uma empreitada no tráfico”, afirma o Gaeco, no relatório da denúncia, de 20 de janeiro de 2025.

Um dia após o contato, Jessika Farias da Silva, mulher de Rodney, encaminha comprovante de pagamento de R$ 100 mil a Emerson.

"Fala o preço pra mim, bebê": a relação de traficantes com investidores do crime
Emerson Correa Monteiro, o Pit Puf, denunciado por fornecer dinheiro para quadrilha do tráfico de drogas (Foto/Reprodução/Gaeco)

Por meio da quebra do sigilo bancário, o Gaeco verificou transações envolvendo Emerson e a Água Boa Transporte Logístico, de propriedade de “LP”. No dia 28 de fevereiro de 2023, por exemplo, a empresa recebeu R$ 50 mil do agiota, dinheiro que seria para “custear uma empreitada criminosa”, alega a investigação.

Nos meses seguintes, de março a agosto de 2023, transações bancárias são feitas da Água Boa para Emerson, valores que variavam de R$ 10 a R$ 12 mil até chegar a R$ 75 mil, ou seja, o pagamento com juros dos R$ 50 mil viabilizados em fevereiro. “(...) remuneração que obviamente somente pode ser obtida com a participação em atividade ilícita, no presente caso, o mercadejo de estupefacientes”.

Em agosto de 2023, a investigação identificou outro aporte feito à empresa, de R$ 60 mil, o que indicaria a participação “relevante para a continuidade da traficância” do envolvido.

De acordo com Gaeco, Emerson Correa Monteiro, enriqueceu com o tráfico de drogas. Ele também é réu pelo assassinato de Wellyngton Luiz de Jesus Reynaldo Felipe, o “Rico”. Pela denúncia do MPMS, a morte aconteceu durante festa de Carnaval, em 2016, no Aero Rancho.

Segundo o MP, "Rico" se recusava a trabalhar com eles - Emerson e outro denunciado - na venda de drogas na região. Em novembro de 2023, o homem virou réu pelo homicídio qualificado, mas ainda não houve julgamento.

"Fala o preço pra mim, bebê": a relação de traficantes com investidores do crime
Um dia após o contato, o repasse de R$ 100 mil (Foto/Reprodução/Gaeco)

O outro “investidor” do tráfico, de acordo com Gaeco, é Diego Fernandes Silva, que intermediava empréstimos a integrantes da organização criminosa para custear cargas de droga.

Na denúncia, consta que ele providenciava valores com terceiros, entre eles, o pecuarista Milton Moro Rabesquine, preso na Operação Traquetos, de 2023. Para Rabesquine, consta até Pix no valor de R$ 30 mil.

Neste caso, o contato era feito diretamente com Joesley da Rosa, que era tratado de “patrão” pelo outro. Nas negociações, Diego até ficava com caminhões da quadrilha em garantia, até o pagamento.

No período de 46 dias, de 24 de novembro de 2022 a 9 de janeiro de 2023, para pagar um dos veículos empenhados, Joesley pagou R$ 149 mil a Diego. Na conversa, a transcrição do devedor: "Bebê, se eu for pagar hoje, bebê, fala o preço pra mim, bebê, manda pro pai, o preço de hoje, imagina você receber hoje".

 "Em resumo, observa-se que os negócios de DIEGO FERNANDES DA SILVA com a organização criminosa não eram esporádicos, mas sim uma parceria duradoura”. Sobre Emerson, a negociação é considerada “reiterada e estável”.

Para o Gaeco, os dois agiam como facilitador direto do tráfico de drogas, “custeando a atividade, mediante a cobrança de uma remuneração muito maior que aquela de mercado, já que obviamente envolvia riscos e era executada à margem da lei”.

A reportagem não localizou advogados que representam os citados na denúncia.

Denúncia - O processo tramita na 3ª Vara Criminal e, nesta 2ª fase, no dia 20 de janeiro, foram denunciadas 21 pessoas, entre elas, Joesley da Rosa, considerado o líder do grupo. Ele foi detido ainda na 1ª fase da operação, em março de 2024, e está no Presídio de Segurança Máxima Jair Ferreira de Carvalho.

De acordo com Gaeco, a quadrilha funcionava com extensa rede logística do tráfico, tendo Campo Grande como base de operação. De lá, a droga tinha como destino final outros estados, principalmente, São Paulo.

“O transporte, em regra, era feito em compartimentos ocultos de caminhões frigoríficos (“mocós”), dada a maior dificuldade de fiscalização policial, já que junto a carga ilícita vinham cargas perecíveis”. O grupo também usou carro de funerária em Ponta Porã.

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