Ação contra grupo que usou policiais no “frete” de cocaína “fecha” delegacia
Com Cepol “atolada” de trabalho, população estava sendo orientada a registrar ocorrências em outras unidades
Em dia tumultuado na Delegacia Especializada de Pronto Atendimento Comunitário do Centro Especializado de Polícia Integrada, em Campo Grande, a população estava sendo orientada a procurar outras delegacias para registrar boletins de ocorrência.
É que a Depac Cepol, como é conhecida a unidade, recebeu pelo menos uma dezena dos presos na Operação Snow, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), que saiu às ruas da Capital e Ponta Porã para cumprir, nesta terça-feira (26), 21 ordens de prisão e 33 de busca e apreensão conta esquema de tráfico de cocaína que usou até policiais para “frete seguro”.
Até agora, conforme apurado pelo Campo Grande News, pelo menos 13 presos chegaram à Cepol. Depois que os alvos chegam, investigadores, escrivães e delegados precisam fazer toda a documentação da custódia. Em caso de prisões em flagrante, comum quando há tantos mandados de busca a cumprir, é preciso registrar a ocorrência e tomar os depoimentos dos presos.
Policiais ainda precisam receber advogados – pelo menos oito passaram pela reportagem ao longo do dia de plantão na porta da delegacia – e familiares das pessoas presas. Nesta tarde, muita gente foi até a Cepol para levar material de higiene e cobertores para os alvos que passarão a noite em celas do local.
Ninguém quis dar entrevista. Os advogados afirmavam que precisavam se inteirar das suspeitas e dados contidos no inquérito para então se manifestar em nome dos clientes surpreendidos nesta manhã com o Gaeco na porta.
Somente Eduardo Rodrigues, defensor do dono de uma transportadora que foi alvo da operação, identificado apenas como Ademilson, conversou com a reportagem. Explicou que o cliente tinha contra si mandados de prisão e busca, mas nega qualquer envolvimento com o tráfico de drogas. “Na casa dele não foi encontrado nada ilícito”.
O advogado informou ainda que analisará os documentos fornecidos pelo Gaeco para elaborar pedido de revogação da prisão.
Alvos – Além do proprietário da transportadora, donos de uma oficina mecânica e um administrador de empresas estão entre os presos da Operação Snow. Há ainda os policiais civis “contratados” para quadrilha para transportar cocaína em viaturas de Ponta Porã até Campo Grande.
Contra o dono da oficina, no Bairro Guanandi, havia apenas ordem de busca e apreensão, mas ao chegar ao local, os policiais localizaram uma pistola calibre 380 e ele acabou preso em flagrante por porte irregular de arma de fogo de uso permitido.
Já contra o administrador havia mandado de prisão preventiva e de busca. Contudo, na casa dele, no Residencial Oliveira, policiais localizaram uma arma calibre 38 em cima de uma geladeira e também acabou preso em flagrante pelo porte ilegal de arma. Foram levados, ainda, dois cadernos com anotações e um celular.
A operação – Segundo a investigação do Gaeco, que contou com o auxílio da Corregedoria da Polícia Civil e da Polícia Rodoviária Federal, a organização criminosa era altamente estruturada.
“(...) com uma rede sofisticada de distribuição, com vários integrantes, inclusive policiais cooptados, fazia o escoamento da droga, como regra cocaína, por meio de empresas de transporte, as quais eram utilizadas também para a lavagem de capitais, ocultando a real origem e destinação dos valores obtidos com o narcotráfico”, informou o Gaeco em nota.
Para isso, a cocaína era escondida em carga lícita, ou seja, com documentações legais, o que dificultava a fiscalização policial nas rodovias “principalmente quando se tratava de material resfriado/congelado (carnes, aves etc.), já que o baú do caminhão frigorífico viajava lacrado”.
Outra maneira que utilizavam para traficar a droga de Ponta Porã a Campo Grande era o chamado “frete seguro”.
"(...) policiais civis transportavam a cocaína em viatura oficial caracterizada, já que, como regra, não era parada, muito menos fiscalizada por outras unidades de segurança pública", aponta a investigação.
A quadrilha ainda fazia a transferência da propriedade de caminhões entre empresas usadas pelo grupo e os motoristas, desvinculando-os dos reais proprietários. Com isso, chamavam menos atenção em eventual fiscalização policial, porque, em regra, a liberação é mais rápida quando o motorista consta como dono do veículo.
“Durante o transcorrer dos trabalhos, foi possível identificar mais duas toneladas de cocaína da organização criminosa, apreendidas em ações policiais”, descreve nota do Gaeco.
Entre os 21 mandados de prisão preventiva, três dos alvos já estão custodiados no regime prisional fechado de Mato Grosso do Sul.
Posicionamento – A PCMS (Polícia Civil de Mato Grosso do Sul) publicou nota sobre a investigação, informando que os mandados de prisão e busca e apreensão relacionados a policiais civis foram cumpridos pela Corregedoria-Geral da Polícia Civil.
“Salientamos que, além das medidas de natureza criminal, encontram-se em andamento na Corregedoria procedimentos administrativos para apurar eventuais transgressões disciplinares. Por fim, reforçamos o compromisso de não tolerarmos com desvios de conduta nem qualquer comportamento que comprometa a integridade da instituição e a confiança da sociedade.”
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