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Economia

Com 30% de trabalhadores informais, construção importa cada vez mais do Nordeste

Grandes obras ocupam trabalhadores formais e setor da construção projeta mais dificuldades com mão de obra

Caroline Maldonado | 06/07/2022 07:21
Obra de prédio em Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf)
Obra de prédio em Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf)

Mão de obra. Essas palavras martelam nas cabeças dos construtores, desde os pequenos empresários até as grandes construtoras de Mato Grosso do Sul. A falta de trabalhadores qualificados interessados nas vagas, que só aumentam, é um problema de sempre do setor, agravado com a construção da maior fábrica de celulose do mundo, em Ribas do Rio Pardo, a 98 quilômetros da Capital.

O empreendimento da Suzano ocupa trabalhadores locais e de outras cidades. Mas a construção não é a única a enfrentar esse problema. Em todo o setor da indústria, que abrange a construção civil, há 20 mil vagas que as empresas não conseguem preencher anualmente, segundo a Fiems (Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul).

No caso da construção civil, a situação está longe de ter fim porque há previsão de mais de 10 mil postos de trabalho na fábrica da Suzano Papel e Celulose, até abril de 2023.

Por enquanto, o canteiro de obras tem 4 mil trabalhadores. A Suzano destacou, em nota ao Campo Grande News, que "a chegada da empresa em Ribas não gera empregos apenas na obra, mas movimenta também milhares de oportunidades de trabalho no comércio e serviços do município, o que é positivo para o desenvolvimento econômico da cidade e região".

Também do ramo de celulose, a Arauco já assinou termo de acordo com Governo Estadual com plano de investir 3 bilhões de dólares na construção de uma fábrica de celulose em Inocência, a 331 quilômetros da Capital, a partir de 2025.

A informalidade de 30% dos trabalhadores do setor também é motivo de escassez e a construção da ponte entre Brasil e Paraguai, em Porto Murtinho, é mais uma obra que movimenta o setor, lembra o presidente licenciado da Fetricom-MS, José Abelha Neto. Com investimentos de R$ 466,8 milhões, a previsão é de gerar 700 empregos quando a  construção chegar ao pico. O jeito tem sido ampliar a importação de trabalhadores do Nordeste.

“Muitos trabalhadores, cerca de 30%, preferem ficar na informalidade, principalmente aqueles que conseguem algum benefício social ou auxílio emergencial. Para não perder o benefício, eles não querem assinar carteira. Com avanço da obra da Suzano, vai faltar ainda mais mão de obra em Campo Grande e em todo MS. O Estado está trazendo cada vez mais trabalhadores do Nordeste”, comenta José Abelha.

Presidente licenciado do Fetricom MS (Federação dos Trabalhadores da Construção Civil e do Mobiliário e Montagem Industrial do Estado de Mato Grosso do Sul), José Abelha Neto. (Foto: Divulgação/Assessoria))
Presidente licenciado do Fetricom MS (Federação dos Trabalhadores da Construção Civil e do Mobiliário e Montagem Industrial do Estado de Mato Grosso do Sul), José Abelha Neto. (Foto: Divulgação/Assessoria))

“As remunerações são boas”, garante o presidente da Acomasul (Associação dos Construtores de Mato Grosso do Sul), Diego Canzi.

“Por exemplo, um eletricista recebe 4 ou 5 salários mínimos, fazendo uma carga horária conforme o seu planejamento, porque tem a possibilidade de fazer serviços como autônomo. Temos mais de 300 construtores associados e todos os dias eles solicitam mão de obra”, detalha Diego Canzi.

Presidente da Acomasul (Associação dos Construtores de Mato Grosso do Sul), Diego Canzi. (Foto: Divulgação/Assessoria)
Presidente da Acomasul (Associação dos Construtores de Mato Grosso do Sul), Diego Canzi. (Foto: Divulgação/Assessoria)

Estratégias - Como o setor lida com tudo isso? Segundo o Diego, a falta de mão de obra é um problema crônico do setor, por isso o Sistema S oferece cursos para preparar trabalhadores. Aprimorar os que já estão em campo também é um desafio.

“Tem uma faculdade da construção civil em Campo Grande, que promove e fomenta cursos técnicos, vários deles gratuitos. Hoje, o que mais falta é azulejista, eletricista, encanador, calheiro e pintor. A dificuldade está na adesão aos cursos e em conseguir que a mão de obra volte para um centro de estudo e se qualifique, porque constantemente surgem novos materiais, novas técnicas, novas formas de se fazer, então o profissional precisa estar atualizado”, destaca Diego.

Indústria - Com 20 mil vagas de sobra, o setor industrial busca qualificar mão de obra e prevê que até 2025, o Estado precisará qualificar 137,5 mil pessoas em ocupações industriais, sendo 26,8 mil em formação inicial para repor inativos e preencher novas vagas, e 110,6 mil em formação continuada para trabalhadores que devem se atualizar.

Nos próximos quatro anos, 80% das formações oferecidas serão em cursos de aperfeiçoamento.

Canteiro de obras de nova fábrica da Suzano Celulose em Ribas do Rio Pardo (Foto: Arquivo/Marcos Maluf)
Canteiro de obras de nova fábrica da Suzano Celulose em Ribas do Rio Pardo (Foto: Arquivo/Marcos Maluf)

Mais difíceis de preencher - Somente na agência de empregos da Funtrab (Fundação do Trabalho de Mato Grosso do Sul), 2.460 trabalhadores foram reprovados no processo de seleção.

O cargo com mais reprovação é o de alimentador de linha de produção, com 522 trabalhadores que não passaram no processo seletivo. Em seguida, está faxineiro, com 272; servente de obras, com 221 e motorista de caminhão, com 188 reprovados.

Também estão na lista das vagas mais difíceis de se preencher os cargos de atendentes de lojas e mercados, operador de caixa, vendedor de comércio varejista, ajudante de motorista, motorista de furgão ou veículo similar, auxiliar de escritório, assistente administrativo, eletricista de instalações, repositor de mercadorias, trabalhador da pecuária e pedreiro.

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