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Economia

Com alta nos juros, empresários seguram investimentos e ficam estagnados

A Taxa Selic tem sequência de aumentos desde julho do ano passado

Por Izabela Cavalcanti e Clara Farias | 03/02/2025 11:13
Com alta nos juros, empresários seguram investimentos e ficam estagnados
Estabelecimento de portas fechadas, na Rua 14 de Julho, indica dificuldade de desenvolvimento econômico (Foto: Henrique Kawaminami)

Os juros altos, já atingindo a casa dos 13,25%, tem provocado um efeito cascata no ramo empresarial. A sequência de aumentos desde julho do ano passado barra novos investimentos, mas, por outro lado, força empresas com financiamentos existentes a tirarem dinheiro dos caixas para cobrir os custos adicionais. Isso porque o crédito fica mais alto quando os juros também aumentam.

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Os juros altos, em 13,25%, afetam negativamente o setor empresarial, forçando empresários como Francisco de Assis a fechar lojas e buscar alternativas como crediário. A alta da Selic reduz o poder de compra, estagna a economia e aumenta o risco de inadimplência. O Icec de Campo Grande caiu de 108,9% para 104,8%, refletindo menor confiança dos empresários. A inflação acumulada em 2024 foi de 4,83% no Brasil e 5,06% em Campo Grande, com alimentos subindo 11,3%.

É o caso do empresário, Franciso de Assis Theodoro Soares, de 51 anos, que ao invés de continuar com o desejo de abrir mais lojas, teve que fechar. Ele começou no ramo de vestuário há 20 anos, com uma loja na Avenida Júlio de Castilho; depois abriu na Avenida Calógeras, na Rua Barão do Rio Branco e depois na Rua Marechal Rondon. De lá para cá, ele fechou uma loja e luta para manter a do Centro, onde o aluguel é R$ 10 mil.

“Gostaria de manter as três lojas, e que tal abrir mais uma? E aí fazer reformas, melhorar. Esse momento nós estamos congelados, está todo mundo com medo. Tem momento da vida, que você paga para trabalhar. Há 6 meses, eu estou colocando dinheiro para trabalhar, os planos foram frustrados. De onde tirar esse dinheiro? Tem que tirar de algum canto, eu não sei fazer outra coisa, estou fazendo isso há 25 anos”, lamentou.

Com alta nos juros, empresários seguram investimentos e ficam estagnados
Franciso de Assis, empresário no ramo de vestuário, dando entrevista ao Campo Grande News (Foto: Henrique Kawaminami)

Diante dessa realidade, Francisco foi em busca de disponibilizar crediário em sua loja. “Eu contratei uma empresa para fazer crediário, isso não é uma forma inteligente nem para mim, nem para o cliente, mas é para eu me manter vivo. Agora, sem sombra de dúvidas, era a gente trabalhar com as taxas de juros, baixar tudo, tirar a carga tributária, por que como que você vai competir com o China? Porque hoje o nosso mercado não é inundado pelos Estados Unidos, ele é inundado pela China. Aqui é engessado pela lei trabalhista, é engessado pelas taxas de juros”, completou.

Para ele, o melhor ano foi do antigo governo, quando teve a oportunidade de deslanchar mais.

“O ano dourado mesmo foi há 4 anos, quando nós tivemos a possibilidade de deslanchar mais, de comprar mais, de desenvolver mais, de ser menos amarrado. Quando trocou de mão o governo, nós já fechamos uma loja, e estamos no risco da eminência de fechar mais uma. Receita boa é aumentar juros? É você limitar a compra do mercado, da população? Porque daí vai ferir todo mundo, vai ferir uma cadeia inteira”, finalizou.

Com alta nos juros, empresários seguram investimentos e ficam estagnados
Arte: Rômulo Montagna

Cascata - A presidente da FCDLMS (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Mato Grosso do Sul), Inês Santiago, reconhece a realidade vivida pelos empresários.

“Empresas que dependem de crédito para expandir seus negócios podem enfrentar dificuldades com a alta dos juros, o que impacta diretamente a geração de empregos e o crescimento econômico. A alta da Selic pode levar a uma economia mais estável, mas, por outro lado, pode reduzir o poder de compra dos consumidores, estagnando a economia”, pontuou.

A representante da entidade ressalta que aqueles que já tem algum tipo de financiamento, também acaba sendo mais impactado.

“Isso ocorre porque muitas dívidas são indexadas a taxas variáveis, como a Selic. Com o aumento da taxa, o custo do crédito também sobe, resultando em parcelas mais caras e, consequentemente, uma redução no fluxo de caixa das empresas. Esse cenário perverso pode levar a um aumento no risco de inadimplência e dificultar a obtenção de novos créditos no futuro, além de impactar as operações diárias e investimentos em novos projetos de expansão ou reinvestimentos", destacou.

O Icec (Índice de Confiança do Empresário do Comércio) de Campo Grande mostrou que os empresários começaram o ano menos confiantes. Em dezembro do ano passado, o índice ficou em 108,9%, e este ano caiu para 104,8%.

O estudo mostra que as condições atuais da empresa pioraram muito para 18,7%; pioraram um pouco para 30,5%; melhoraram um pouco para 35,1% e melhoraram muito para 15,7%.

O nível de investimento da empresa está um pouco menor para 30,1% e muito menor para 14,3%. Por outro lado, 21,6% acreditam que está maior o nível de investimento este ano.

Histórico - Na primeira reunião do ano, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou os juros, saindo de 12,25% para 13,25% ao ano.

A Taxa Selic está no maior nível desde setembro de 2023, quando também atingiu 13,25%. De maio a julho de 2024, chegou a 10,50% ao ano, depois começou a ser elevada em setembro.

A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter o controle da inflação, que é medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Isso porque os juros mais altos encarecem o crédito e desestimulam a produção e o consumo.

Em 2024, o IPCA acumulou alta de 4,83%. Em Campo Grande, o acúmulo ficou em 5,06%, mas se falar somente dos alimentos, o resultado é de alta de 11,3%, a maior do Brasil.

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