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Economia

Com mesas vazias, demissões viram rotina na noite da Avenida Bom Pastor

Em 1 dia 9 pessoas foram demitidas em restaurantes do corredor gastronômico da Bom Pastor

Liniker Ribeiro | 24/04/2020 13:08
Com mesas vazias, demissões viram rotina na noite da Avenida Bom Pastor
Mesas vazias em restaurante na Avenida Bom Pastor, corredor gastronômico em Campo Grande (Foto: Silas Lima)

De um lado, o medo e a aflição de viver em meio a pandemia de um vírus que já contaminou quase 50 mil brasileiros. De outro, a preocupação em continuar com as portas abertas. O sentimento de instabilidade como efeito do novo coronavírus tem impactado, principalmente, uma principais avenidas de Campo Grande, a Bom Pastor, o primeiro Corredor Gastronômico da cidade.

No local, o movimento retraído transformou o cenário que antes era de lotação. Com bem menos consumidores, os lucros diminuíram, as despesas seguiram e a demissão de funcionários têm sido inevitável

Com mesas vazias, demissões viram rotina na noite da Avenida Bom Pastor
Movimento na Avenida Bom Pastor, região do Vilas Boas, na Capital, tem sido menor em comparação a dias antes da pandemia (Foto: Silas Lima)

"Não está sendo fácil! Maior dificuldade é manter a quantidade de mesas e, com isso, muitos clientes precisam voltar para casa", revela a proprietária do Oshent Sushi, Francisca Viera, de 52 anos.

Acostumada a receber um número considerável de pessoas, ela precisou readaptar o atendimento após decreto publicado pela prefeitura de Campo Grande determinar que estabelecimentos funcionem apenas com 30% de sua capacidade, durante a pandemia. Com isso, das 47 mesas que eram montadas no espaço, apenas 14 estão funcionando.

Essa medida fez com que o número de clientes atendidos no local diminuísse consideravelmente, o que provocou redução nos ganhos e impactou no quadro de funcionários. Só nesta quinta-feira (23), nove pessoas assinaram rescisão do contrato de trabalho, conforme Francisca.

"Chorei bastante, dispensar eles deixou a gente triste", confessa.

Dos 24 funcionários que atuavam no local, apenas 15 permaneceram. A maioria é formada por pessoas que desempenham atividades na cozinha, enquanto atendentes e garçons foram dispensados.

Com mesas vazias, demissões viram rotina na noite da Avenida Bom Pastor
Dona Francisca Vieira, proprietária de uma das principais casas de sushi da Avenida Bom Paastor (Foto: Silas Lima)

Apesar dessa situação, a empresária comemora o fato de fazer parte do setor de alimentação, que ainda tem atraído muita gente. Mas o atual cenário também já provocou impacto no preço cobrado pelo rodízio, no local. À reportagem, a comerciante afirmou ter sido necessário aumentar o valor em R$ 5, caso o pagamento seja efetuado com cartão.

Quem também precisou fazer readequações no atendimento foi o comerciante Luiz Antônio de Araújo, de 51 anos. À frente da P-tikos Pastelaria, ele comenta que o movimento deu um sinal de melhora, recentemente, mas que o período fechado e os primeiros dias após quarentena também provocaram a redução de funcionários. "Na cozinha trabalhavam sete, agora são quatro. No atendimento atuavam três pessoas, tive que reduzir para apenas um", revela ao lembrar que antes da pandemia era preciso contratar freelancer para os fins de semana.

Cozinha parada - A redução do movimento é facilmente identificada pela comparação dos pedidos realizados antes e depois do novo coronavírus.. Em um dia bom, antes da pandemia, o estabelecimento chegava a vender 120 pastéis. Agora, a quantidade caiu para aproximadamente 30. "Sorte que não trabalhamos apenas com pastel, temos outros pratos que ajudam a compensar a redução", argumenta o empresário.

E, para driblar o impacto negativo provocado pela pandemia, Luiz precisou reformular também a forma como trabalha. Agora, familiares reforçam a equipe que precisou ser desfalcada e um novo horário de atendimento foi criado. Com mais tempo aberto, o comerciante busca manter os lucros de antes. "Estamos abrindo para o almoço e acrescentamos marmitas ao cardápio. Ficamos de portas fechadas durante o dia, atendendo com auxílio do Delivery e deixamos de cobrar pela taxa de entrega na região", ressalta o empresário, que deixou de folgar às segundas-feiras e agora trabalha os sete dias da semana.

Com mesas vazias, demissões viram rotina na noite da Avenida Bom Pastor
Luiz é empresário e adotou medidas para tentar driblar impacto negativo provocado pela pandemia (Foto: Silas Lima)

O cenário também mudou em um dos estabelecimentos movimentados da avenida. Em outros tempos, a esquina do Point do Espeto ficava lotada praticamente todas as noites. Nesta quinta-feira, o movimento no local foi diferente. Mesmo com quase todas as mesas montadas no local ocupadas, - o número também foi reduzido por conta do decreto - a situação tem sido diferente.

"Os clientes fiéis são os que mais continuam vindo. O movimento caiu, mas o Delivery tem ajudado a compensar essa situação", comenta o gerente do estabelecimento, Adriano Silva, de 24 anos.

O outro lado - Mas não foi apenas para os empresários que a situação mudou. Consumidores deixaram de frequentar bares e restaurantes desde os primeiros dias após a confirmação dos primeiros casos de Covid-19, na Capital. Segundos eles, a atitude é influenciada pelo medo de contaminação, mas principalmente devido as medidas adotadas pelos estabelecimentos.

"Estamos saindo pouco de casa, hoje foi excepcional. Com criança é ainda mais complicado", revela um consumidor, que prefere não ser identificado. "Além de tudo existe o lado do julgamento, se alguém te ver na rua, mesmo que comendo, pode interpretar errado e pensar que você não se importa com tudo o que está acontecendo", complementa.

Já para o vendedor Leandro Almeida, de 30 anos, a incerteza econômica é que tem feito boa parte das pessoas ficarem em casa. "Eu mesmo estou comendo fora hoje, mas não sei quando vou  fazer isso de novo. O momento agora é de economia", pontua.

Com mesas vazias, demissões viram rotina na noite da Avenida Bom Pastor
Movimento baixo em plena quinta-feira; número de mesas em estabelecimentos também diminuíram (Foto: Silas Lima)


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