Créditos de carbono têm meta de reduzir em 90% desmatamento no Pantanal
Projeto é o 1° em certificação no Pantanal, dentro de reserva particular do patrimônio natural
O corredor de biodiversidade de 135 mil hectares na Serra do Amolar, no município de Corumbá, a 427 quilômetros de Campo Grande, é aposta que une preservação e captação de recursos por meio da venda de créditos de carbono. Hoje, o projeto “Redd + Serra do Amolar” foi lançado, já com a certificação de 231 mil créditos que podem ser comercializados no mercado internacional.
Entre as metas, também, está a redução em 90% do desmatamento não planejado, incluindo principalmente o fogo, considerado principal fator de desmate no bioma. A certificação dos 231 mil créditos foi oficializada em abril deste ano, referente ao período retroativo, a partir de julho de 2016 a julho de 2020.
O lançamento foi realizado em Corumbá, no Memorial do Homem Pantaneiro, com presença do governador do Estado, Eduardo Riedel (PSDB), secretários estaduais e comunidade local.
O mercado de créditos de carbono permite que empresas, organizações e indivíduos compensem as suas emissões de gases de efeito estufa a partir da aquisição de créditos gerados por projetos de redução de emissões e/ou captura de carbono.
O projeto no Pantanal, o primeiro dentro de RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), está sendo realizado em parceria do IHP (Instituto Homem Pantaneiro) com o Programa Conexão Jaguar, da Isa CTEEP, empresa brasileira de transmissão de energia. O objetivo do programa é conservação de biodiversidade, implementação de projetos florestais, recuperação e conexão do habitat e corredores da onça-pintada.
É este corredor na Serra do Amolar que é o braço da Conexão Jaguar, da Isa CTEEP, no Pantanal, com execução do IHP. A empresa de energia ainda tem outras nove iniciativas na Colômbia, Peru, Chile e outras regiões do Brasil.
A “moeda verde” é técnica e envolve rigorosa certificação, conforme explica a gerente de sustentabilidade e relações institucionais da Isa CTEEP, Ana Carolina David. Em 2019, quando o projeto foi iniciado em MS, era área de 75 mil hectares. O tempo previsto para o certificado é de 18 meses, mas, durante o processo, área privada foi incluída, totalizando os atuais 135 mil hectares. “Isso fez com que fosse preciso revisar o processo desde o começo, isso é fundamental para cumprir todos os protocolos”.
O potencial de redução estimado é de 430 mil toneladas até 2030. Segundo Ana Carolina, os recursos captados no mercado internacional serão reinvestidos no próprio projeto, tendo como impacto evitar o desmatamento não planejado, aumentar quantidade de carbono sequestrado e reforçar participação ativa das comunidades no entorno. Atualmente, o crédito está calculado, em média, em 12 dólares, sendo considerados de alta qualidade (certificação CCB).
O diretor-executivo do IHP, coronel Ângelo Rabelo, disse que a certificação representa passo importante para o Pantanal. “Está se investindo em projeto que agrega, estamos vivendo momento crítico e o Pantanal tem de fato oportunidade ímpar na história de dar passos na direção do futuro sem destruir seus principais ativos que são os recursos naturais”.
No lançamento, a doutora em ecologia e conservação Letícia Larcher, e conselheira do IHP, que esteve à frente da coordenação do projeto de 2019 a 2022, falou sobre a entrada do instituto na certificação, a partir de convite da Isa CTEEP. “Para certificação de carbono é preciso comprovar com indicadores, com provas físicas tudo que a gente fez e transformar isso em moeda”.
O corredor de 135 mil hectares, segundo Letícia, é contíguo e atua sob o mesmo regime de conservação, com monitoramento, combate a incêndios, manejo do fogo e com geração de renda das comunidades próximas.
O governador do Estado, Eduardo Riedel, disse que a intenção é chegar até 2030 com neutralização das emissões de carbono. “É um plano ousado, mas perfeitamente factível”, disse, acrescentando que a atual certificação contribui para o processo, “como exemplo e modelo”.
Riedel diz que é compatível aliar a conservação a geração de renda. “Não é antagônico o desenvolvimento e a manutenção do meio ambiente”, avaliou.
Também esteve presente no evento a secretária nacional de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais do Ministério do Meio Ambiente, Rita Mesquita, e diretora-executiva de finanças e relações com investidores da ISA CTEEP, Carisa Cristal.