Custo da produção sobe e produtor afirma que ideal é arroba em R$ 140
Em alta desde o fim do ano passado, a cotação da arroba do boi gordo começou a cair no início deste mês e deixa os produtores em alerta. O preço de R$ 134, praticado na região sul do Estado, significa retração de apenas 4% em relação valor máximo da cotação em junho, de R$ 140. No entanto, para o pecuarista qualquer recuo é problema, em vista do avanço dos custos de produção e a valorização do bezerro.
Com rebanho de 12 mil cabeças em Rio Verde de Mato Grosso, o criador Rogério Felipe acredita que R$ 140 é um preço razoável para manter a lucratividade. Ele estranha a retração, já que a oferta de boi vem diminuindo em MS e, em tese, a cotação deveria fazer o caminho inverso. “Os custos estão muito altos para o produtor. O milho não está tão caro, mas encareceu a mão de obra e a energia elétrica. O preço deveria estar no mínimo a R$ 140, um valor justo, com o qual o pecuarista consegue trabalhar”, reclama o pecuarista.
O problema é que, justamente, o reajuste de serviços como a energia apertou o orçamento das famílias, que, por sua vez, diminuíram o consumo. Esse é um dos motivos que faz o preço da arroba cair, mesmo frente a queda na oferta de carne, conforme a analista técnica da Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), Adriana Mascarenhas. “Hoje, a renda do provo brasileiro está menor e algumas despesas aumentaram. Está havendo uma troca de consumo de proteína, as pessoas buscam consumir outras carnes, cujo o preço se enquadre na renda familiar”, explica.
Outro fator que puxa o preço é a inibição do mercado externo. No primeiro semestre deste ano, a exportação de carne bovina caiu 39%, em relação ao mesmo período de 2014, segundo o Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). Adriana lembra que os principais parceiros comerciais do Brasil, que são Rússia e Egito, diminuem gradativamente a importação de carne bovina. “A pecuária vem de uma situação, um passado não muito distante, onde a margem de lucro era muito estreita e até negativa. Ele está recompondo essas perdas, mas quando há uma retração do valor, isso estreita a margem”, comenta.
Bezerro – A relação de troca agrava a situação do produtor, segundo o especialista João Pedro Cuthi Dias, da Sophus Consultoria. “O raciocínio do produtor é em cima de quantos bezerros ele pode comprar. Caiu a relação de troca, porque o preço do bezerro subiu e arroba do boi parou”, destaca. Ele explica que o pecuarista vende boi por R$ 2.220 e com isso já não compra dois bezerros, cuja a cotação alcança R$ 1.322,17, conforme o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da USP (Universidade de São Paulo).
Expectativa - Com o consumidor diminuindo a compra de carne, dificilmente o preço vai subir, na previsão do consultor. “Energia, mão de obra, encargos, tudo isso atrapalha, além do oligopólio de empresas, dominando grande parte do mercado. A queda de braço entre o produtor e frigorífico é agravada com menor oferta”, detalha João Pedro.
Para o pecuarista Rogério, expandir o rol de atividades é aposta para se manter firme frente a desvalorização da arroba. “Estou pensando em começar com a integração agricultura e pecuária, como outros criadores fazem. É muito salutar e interessa, pois aí o produtor não fica só num setor”, avalia.