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Economia

Do eucalipto à celulose, veja como se produz o carro-chefe das exportações de MS

Campo Grande News acompanhou a produção na fábrica de celulose instalada em Ribas

Por Maristela Brunetto | 12/03/2025 19:48

Do eucalipto à celulose, veja como se produz o carro-chefe das exportações de MS
Montagem de imagens com pilhas de toras de eucalipto prontas para o processamento e gerar a celulose e os fardos prontos para exportação (Foto: Osmar Veiga)

RESUMO

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A produção de celulose em Mato Grosso do Sul, liderada por fábricas como a da Suzano em Ribas do Rio Pardo, é um processo altamente tecnológico e mecanizado, que envolve desde o cultivo de eucaliptos até a exportação do produto final. A nova unidade da Suzano, a maior em linha única do mundo, contribuiu para que a celulose se tornasse o principal produto de exportação do estado. O processo fabril é contínuo, com monitoramento rigoroso e uso de tecnologias avançadas para garantir eficiência e segurança. A fábrica também adota práticas sustentáveis, como o uso de subprodutos para energia e tratamento de água. A Suzano investe na qualificação da mão de obra local e em projetos sociais, contribuindo para o desenvolvimento da região.

Das árvores da espécie eucalipto à celulose que é vendida para fábricas produzirem diferentes produtos de papel, as fábricas instaladas em Mato Grosso do Sul -já são 4- contam com muita tecnologia e processos químicos. A unidade mais recente foi inaugurada na metade do ano passado pela Suzano, em Ribas do Rio Pardo, e agora foi aberta pela primeira vez para a imprensa conhecer o processo fabril. A celulose se tornou o principal produto exportado pelo Estado, superando a carne e os grãos.

Na manhã desta quarta-feira, o Campo Grande News foi o primeiro veículo de comunicação da Capital a visitar toda a planta e conhecer o passo a passo desse trabalho, que envolve cerca de 3 mil pessoas, sendo 2 mil no cultivo das florestas e cerca de 1 mil na fábrica, que ocupa uma área de 4,5 milhões de metros quadrados na margem direita da BR-262, entre Ribas e Água Clara.

É a maior fábrica em volume de produção em linha única no mundo, totalizando 2.550 milhões de toneladas por ano- um investimento de R$ 22,2 bilhões, o maior já feito pela empresa. Já a unidade da Suzano em Três Lagoas, que tem duas plantas, é a maior fábrica em volume, com 3,2 milhões de toneladas somando o que cada uma produz.

É um trabalho permanente, com operação 24 horas por dia os sete dias da semana. Somente a cada 15 meses há uma paralisação geral de 10 dias para manutenção das máquinas.  Quem percorre as estruturas é surpreendido pelo gigantismo de tudo.

Dos caminhões que chegam com a madeira até o embarque da celulose em trens para envio ao destino final (quase a totalidade é exportada para EUA, Ásia e Europa) todo o processo é mecanizado e monitorado. Diferente da ideia que se tem, a maioria das pessoas não está no chamado chão de fábrica, mas no monitoramento do trabalho feito pelas máquinas. Há paredes e mais paredes cheias de painéis com telas e computadores com números onde tudo é seguido em tempo real.

Do eucalipto à celulose, veja como se produz o carro-chefe das exportações de MS
Fábrica tem muitos paineis para o monitoramento de todo o processo, desde o cultivo do eucalipto até o transporte da celulose para trens (Foto: Osmar Veiga)

As florestas têm monitoramento para avaliar diferentes tipos de fumaça e haver acionamento de brigadistas em caso de incêndio. Os caminhões que levam as toras de madeira também contêm câmeras e é possível ver tudo que ocorre, até se o motorista ficar sonolento, e também contam com geoprocessamento. A preocupação é com a segurança do processo, já que é contínuo e essencial para a chegada da matéria prima.

Há câmeras registrando o descarregamento da madeira no pátio; o início do processamento; a eficiência das máquinas; alerta se há algum risco de pane, como uma vibração incomum em um equipamento; o volume de suprimentos, tudo aparece nas salas de painéis.

Como surge a celulose – O produto final da fábrica é uma lâmina de celulose, que se parece com um papel machê, e serve para a produção de diferentes tipos de papeis, como sulfite, guardanapo, papel-higiênico, fraldas e até fibras para tecidos. O primeiro passo é pegar as pilhas imensas de toras reservadas no pátio da fábrica- onde fica produto para ser consumido por período de 12 dias, garantindo uma reserva para evitar tráfego de caminhões em dias de chuva. Bitrens levam cerca de meia hora para serem descarregados e hexatrens, cerca de 50 minutos.

Gruas gigantescas no pátio retiram a madeira, que já é levada por esteiras para o processo de trituração, que gera montanhas de cavaco. Esse produto logo segue para um processo químico em alta temperatura onde é dissolvido e surgem as fibras. É uma polpa espessa com a cor escura da madeira, que vai precisar passar pelo branqueamento, em um processo, também químico, de lavagem.

Do eucalipto à celulose, veja como se produz o carro-chefe das exportações de MS
Imensas gruas são utilizadas para esvaziar os caminhões carregados de madeira em menos de uma hora (Foto: Divulgação Suzano)

Dali já sai o produto limpo e que passa por secagem e é prensado, gerando as folhas de celulose prontas para serem entregues às indústrias. Duas secadoras gigantes, com esteiras de 1,5 km de extensão desidratam por completo a fibra e a prensa reduz os volumes de folhas já empilhadas para gerar os fardos, que embalados, recebem código de barras para possibilitar rastreamento e são unidos a fardos maiores, gerando unidades imensas mantidas em um armazém.

Quando a reportagem acompanhou esse processo de retirada dos fardos das prensas para colocação em depósito, foi possível ver que as máquinas empilhadeiras eram conduzidas por mulheres. Cada caminhão que sai da empresa carregado de fardos pode levar até 52 toneladas. Dali, a celulose produzida é levada até uma unidade de transbordo na região de Inocência, a mais de 200 quilômetros, onde os fardos são embarcados em trens da Ferronorte e levados ao Porto de Santos para exportação.

A Suzano tem 13 fábricas e produz 13,4 milhões de toneladas. A nova unidade permitiu incrementar em 20% o volume produzido. Para montá-la, foram tantos equipamentos e materiais, muitos importados, que chegaram ao local em pelo menos 1,5 mil caminhões.

Bitrem/ hexatrens – Com uma área plantada superior a 300 mil hectares de florestas de eucalipto, em um raio aproximado de 65 quilômetros, a Suzano tem estradas próprias para movimentar a madeira. Nelas, circulam hexatrens, que comportam um volume muito maior e reduzem o custo. Eles, por serem muito extensos, são proibidos de transitar nas estradas comuns.

Hoje, os caminhões gigantes, com tração 6x6, transporta 30% da madeira, mas o desafio é chegar a 50%, reduzindo o movimento de caminhões em rodovias. A empresa fez pontes e viadutos para a passagem desses veículos. A atividade florestal envolve o plantio de 340 mil mudas por dia e colheita de 120 mil árvores/dia.

Do eucalipto à celulose, veja como se produz o carro-chefe das exportações de MS
Fábrica ocupa 4,5 milhões de m², maior investimento já feito pela Suzano para criar maior fábrica em produção por linha única (Foto: Divulgação)

Ciclo fechado – O diretor de Engenharia da Suzano, Maurício Miranda, explicou que o processo de industrialização conta com equipamentos que possibilitam o amplo aproveitamento de recursos naturais, com baixa produção de resíduos e poluição. Da madeira, o que sobra é utilizado para gerar subproduto que é utilizado na preparação do solo para o plantio do eucalipto; a madeira também é utilizada para a produção de energia usada na indústria e o excedente é repassado ao sistema de distribuição, com capacidade de atender uma cidade com 2,5 milhões de habitantes.

A fábrica fica próxima ao Rio Pardo. A empresa coleta a água para a produção industrial e, ao final, há processo de tratamento para a devolução ao rio. Estrategicamente, o despejo ocorre acima da coleta, para a água já utilizada voltar para o reuso. A Suzano também construiu grandes tanques que coletam e armazenam a água da chuva para auxiliar na produção da celulose, participando com 10% do volume total utilizado.

A empresa defende o caráter renovável e sustentável do produto, que cada vez mais é utilizado para substituição do plástico, e do processo industrial, sem utilização de combustíveis fósseis, contribuindo para a descarbonização. Aponta, ainda, que participa do  Instituto Bioma, que ajuda a criar corredores florestais para proteger a biodiversidade.

Além da estrutura própria, duas indústrias que fornecem insumo estão instaladas dentro do pátio, uma produzindo material químico e outra oxigênio. Há volume para o consumo próprio e comercialização do excedente.

Pessoas – Miranda revelou que a lógica de instalação de uma fábrica de celulose é estar perto da matéria prima, para reduzir custos. Ao chegar o projeto em Ribas, um dos passos foi buscar a mão de obra local. Sem conhecimento no processo industrial, foi preciso qualificar os trabalhadores. Miranda conta que no começo dos cursos, feitos em parceria com o Senai, as pessoas não tinham dimensão do empreendimento.

Os alunos, então, foram levados à fábrica de Três Lagoas. Lá se deram conta da responsabilidade e as oportunidades. Por ser uma formação específica, ele explicou que é natural haver disputa pela mão de obra, às vezes até mesmo entre unidades da Suzano. Para reter pessoal, há difusão de uma cultura da empresa e valorização das pessoas, permitindo a ascensão em postos de trabalho.

No Projeto Cerrado, das cerca de 3 mil pessoas- considerando as florestas e a fábrica-, 1,4 mil são mulheres. Miranda explicou que para atrair mais trabalhadoras, há auxílio creche e parceria com o poder público. No bairro que foi construído para funcionários, com 954 casas, a prefeitura construirá uma unidade. Ele diz que a empresa trata a diversidade entre os funcionários como uma riqueza, não apenas uma visão de seguir política de cotas.

Os moradores também foram convidados a visitar a fábrica em finais de semana, para ver a dimensão do empreendimento. Com um impacto que atingiu o dia a dia das pessoas – já que houve pico com cerca de 10 mil trabalhadores de fora da cidade- na chamada dor do crescimento, foi preciso aproximar e envolver a comunidade. Ao longo da obras, cerca de 45 mil pessoas circularam pelo empreendimento.

Do eucalipto à celulose, veja como se produz o carro-chefe das exportações de MS
Imagem de satélite mostra a área urbana de Ribas à esquerda e a fábrica à direita, tamanhos parecidos

A empresa emprega famílias inteiras. Laissa Dorneles Echeverria, de 20 anos, atua nos painéis de monitoramento; o pai, no cultivo do eucalipto; a mãe trabalha no viveiro de mudas, que também fica perto de Ribas. Ela contou que também está aprendendo sobre recursos humanos e alimenta o sonho de mais adiante estudar medicina.

Também houve um empenho, junto com o Sebrae, para qualificar fornecedores locais, com orientações sobre aspectos como planilha de custo, precificação, questões burocráticas, repetindo exemplo do que a Suzano já tinha feito em Três Lagoas, cerca de uma década antes. Lá, houve empreendedores que ganharam proporção a ponto de virarem fornecedores nacionais.

Como medidas compensatórias, a Suzano aplicou R$ 70 milhões em uma série de setores, como educação, ampliação da capacidade do hospital de Ribas, estruturas para a segurança pública e mantém projetos de geração de renda para a comunidade, como pequenos produtores.

A empresa também fez parceria com a UEMS e ontem começaram as aulas do primeiro curso de gradução de silvicultura do Estado.


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