Em meio à crise, idosos garantem movimento nas agências de turismo
É provável que aquela geração de idosos com jeito de avô e avó, como em um livro de Monteiro Lobato, tenha ficado no passado, isso é o que tem mostrado a nova terceira idade. E foi essa faixa etária, mais disposta a aproveitar a vida, a salvação para a agência de turismo em tempos de crise econômica.
Esse grupo responde a 18 milhões de viagens por ano – apenas no Brasil. Intenção de Viagem, do Ministério do Turismo, nos próximos seis meses, mostrou que 25,4% dos brasileiros na faixa etária acima de 60 anos pretendem viajar. Deste total, a maioria (59,9%) informou que deverá optar por destinos domésticos. Na hora de fazer turismo, os viajantes com mais de 60 anos têm optado por fazer o passeio acompanhados (84%) e apenas 15% disseram que deverão fazer a próxima viagem sozinhos.
Uma das explicações é que o dinheiro e o tempo para viajar só chega com aposentadoria, tanto é que sete em cada dez aposentados têm renda mensal garantida pela Previdência Social. Ou seja 73,5% dos rendimentos desses consumidores mais velhos (ou R$ 295,6 bilhões) vêm de aposentadorias e pensões concedidas pelo INSS. Somente 20% da renda deles depende da relação com o mercado de trabalho.
Levantamento do IBGE de 2010 indicou que a renda média dos idosos em Mato Grosso do Sul, entre 60 e 69 anos de idade, era de R$ 1,6 mil. Enquanto as pessoas a partir de 70 anos recebiam R$ 1,2 mil.
Na Agência Aquidauana Tour, o público alvo é a melhor idade. São aposentados que tem disponibilidade para viagens, e os principais destinos são as cidades de Caldas Novas, Aparecida do Norte, Assunção e todas rodoviárias.
A consultora de viagens Ieda Marques, contou que este público tem se tornado mais independente e até encara viagens sem acompanhantes. “Eles viagem sozinhos e fazem amizades durante o percurso”, comentou. Segundo ela, os aposentados representam até 70% dos clientes da empresa. “Mesmo com a crise eles continuam viajando, já estão estabelecidos”.
Na agência de turismo CVC, na Vila Planalto, a maior parte de clientes também são os aposentados, e principalmente de militares do exército – devido à proximidade da área militar de Campo Grande, revelou a supervisora de viagens Diane Valente, de 29 anos.
Ela conta que o público acima dos 60 anos representa boa parte da lista de clientes da empresa, e esta faixa etária é '‘novata’' no quesito viagens. “De uns anos para cá notamos o aumento desse público, é uma experiência que ninguém tira de você e aproveitam mais a aposentadoria com isso”, comentou.
Diane detalhou que entre os principais destinos está o litoral do nordeste brasileiro. “Maceió, João Pessoa e Fortaleza estão entre os roteiros”. Ela destacou também que os destinos internacionais também tem apresentado uma escala de alta. O Ministério do Turismo informou que esses trajetos feito por idosos representa 25,8% da intenção de viagens para o exterior do país.
Em outra unidade da CVC em Campo Grande, a aposta também é nos clientes mais velhos e por um motivo essencial: Crédito garantido. A empresa relatou que a faixa etária a partir dos 60 de idade representa até 30% dos clientes. “Acredito que eles estejam se aposentando mais cedo e aproveitando mais a vida”, comentou uma funcionária.
O aumento da expectativa para e da qualidade de vida, mas sobretudo, a aposta de que a vida continua após os 60 anos. Quem garante isso é a aposentada Loide Corrêa dos Reis, 66 anos. “Foi depois da velhice que eu melhorei. Os filhos cresceram, a preocupação diminuiu e o trabalho também. Era muito preocupação”, lembra.
Sobre viagens, ainda na juventude, ela é firme, e diz que não pensava no assunto por falta de tempo. “Trabalhei desde os 14 anos e depois tive 4 filhos”, explica.
No horizonte, Loide diz ver muito o que se aproveitar, desde viagens a ocupações solidárias. “Eu estava com uma viagem marcada, ia para São Paulo, mas vou cuidar de uma amiga. Depois remarco”, conta com praticidade a rotina.
Viagem de graça – Os idosos de Mato Grosso do Sul que queiram se aventurar e conhecer o Estado, e de graça, podem utilizar o benefício das viagens intermunicipais, concedidos a pessoas a partir de 60 anos. Para ter a gratuidade, é preciso comprovar a renda igual ou de até dois salários-mínimos.
Em cada ônibus, como determinado pelo Estatuto do Idoso, são reservados dois assentos exclusivamente para o uso de passageiros idosos e beneficiados pela gratuidade. Caso faltem assentos aos idosos, ainda são destinados dois assentos com 50% de desconto sobre o valor da passagem.
Para ter direito ao benefício em Campo Grande, por exemplo, o idoso precisa cadastrar-se no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e, na solicitação da passagem, deve apresentar a carteira de gratuidade.