Eucalipto gera 6 vezes mais lucro que gado e produção em florestas dispara
Plantação de eucalipto cresce puxada pelas indústrias de celulose no Estado
Atraídos pelos maiores rendimentos, que chegam a ser até seis vezes mais que a pecuária, produtores do Estado têm investido cada vez mais no cultivo de florestas, principalmente de eucaliptos. Em nove anos, a área plantada pulou de 90 para cerca de 580 mil hectares, segundo dados da Reflore-MS (Associação de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas).
Desse total, apenas uma pequena parcela das florestas, de 20 mil hectares, é dedicada a outras culturas, como pinos e seringueiras, e o restante é dominado pelos eucaliptos. Segundo a Associação, o Estado ocupa o 4º lugar no Brasil em plantio de eucaliptos e, segundo a Seprotur, a área deve aumentar para 1 milhão de hectares em 2020.
A produção é quase exclusivamente dedicada à fabricação de celulose, sendo uma parcela de menos de 200 mil hectares para matéria-prima de carvão, energia e outros materiais.
E não é à toa, já que o aumento do plantio de eucaliptos foi graças à instalação de indústrias do setor de celulose no Estado, que continua crescendo e o Governo já anunciou a futura construção de mais duas fábricas.
O município de Três Lagoas é considerado sede da produção com a localização da Fibria, que produz 1,3 milhões de tonelada por ano, e a instalação da Eldorado, que começa a operar em dezembro, com expectativa de 1,500 milhão de tonelada anualmente e meta de ampliação para 5 milhões de toneladas em 2020. Segundo levantamento do Radar Industrial da Fiems, o grupo “Papel e Celulose” gerou receita de cerca de US$ 304,89 milhões nas exportações entre janeiro e agosto deste ano, o que representa aumento de 2,5%.
Lucro - Com o aumento da demanda, produtores que já investem no cultivo comemoram a aposta e os lucros. “É hoje uma área muito promissora, que rende muito mais que a pecuária”, diz o produtor Chico Maia, antigo investidor da pecuária, mas que há 6 anos resolveu apostar no ramo até então pouco conhecido.
“Vi uma foto na revista e me interessei pela silvicultura. Resolvi apostar, mesmo com alguns me chamando de louco. Eu mesmo plantei os primeiros eucaliptos e agora vejo a primeira colheita”, contou durante a colheita de parte do cultivo, que será utilizado pela fábrica Eldorado.
Nas contas do pesquisador da Embrapa, Armindo Kichel, 1 hectare de eucalipto “bem aproveitado” rende entre R$ 7 e 9 mil ao fim de 6 anos, enquanto a mesma área, se for utilizada para pecuária tradicional – 1 vaca por hectare – rende R$ 1.200 mil no mesmo período.
Mas ele ainda diz que a lucratividade da pecuária em áreas degradas pode cair mais - R$ 50. “Hoje o pecuarista de algumas áreas tem baixa remuneração, mas ganha com a alta valorização da terra a cada ano”, explica.
A maior diferença da lucratividade dos dois cultivos é que o eucalipto pede o investimento de cerca de R$ 5 mil já no início da plantação e exige o tempo de espera de no mínimo 6 anos para o primeiro retorno financeiro. A árvore precisa desse tempo para ser cortada e vendida para uso em fábrica de celulose, mas para outros segmentos o tempo pode aumentar em cerca de 3 anos.
O produtor acredita que o investimento em florestas é uma tendência para melhorar o aproveitamento do solo do Estado. “O mosaico do Estado está ficando cada vez mais definido. A região leste, com terra arenosa, acho que vai ser dominada pelas florestas”, aposta.
Silvipastoril - As áreas de cultivo das florestas também crescem aliadas à proposta do silvipastoril, que alia criação de floresta e gado no mesmo terreno.
“Para o pecuarista é a melhor forma, porque não tem que vender, se desfazer do gado, pra plantar a floresta. Dá para conciliar as duas coisas perfeitamente”, diz Chico.
Dos cerca de 900 hectares com eucalipto na propriedade dele, 350 são cultivados em conjunto com o gado.
A diferença das duas áreas é que no terreno com silvipastoril as árvores precisam ser plantadas com espaço de 10 metros, enquanto que no cultivo normal o espaço cai para 3 metros.
O pesquisador da Embrapa explica que a lucratividade no cultivo silvipastoril cai 30%, no geral, devido à diminuição da área dedicada ao plantio de árvores. No entanto, ele frisa que dependendo da técnica utilizada o rendimento final pode ser até maior que o de cultivo exclusivo de floresta.