Ideb revela falha que faz de escolas indígenas de MS tirarem piores notas
Dados refletem 18 anos sem núcleo específico para formação dos povos originários no Estado
Os números do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) 2023, principal indicador da qualidade da educação no País, revelaram que a educação indígena de Mato Grosso do Sul vai mal, é a pior em todos os anos avaliados.
Dentre os alunos do ensino médio, o pior desempenho foi da Escola Estadual Indígena Cacique Ndeti Reginaldo, localizada em Dois Irmãos do Buriti, que obteve a nota mais baixa do Estado, com um Ideb de apenas 2,3. Os alunos dessa escola tiveram um desempenho médio de 232,54 em Matemática e 242,36 em Língua Portuguesa, refletindo dificuldades no aprendizado.
No outro extremo, dos anos iniciais, o levantamento apontou que as piores notas do Estado também foram registradas majoritariamente em escolas indígenas. A Escola Municipal Polo Indígena Mbo'erenda Tupa I Nandeva, em Amambai, e a Escola Estadual Indígena Guilhermina da Silva, em Anastácio, obtiveram as notas mais baixas, ambas com 3,3.
Outras escolas indígenas, como a Escola Municipal de Educação Indígena Joaozinho Carapé Fernando, em Douradina, e a Escola Municipal Indígena Mbo'ero Tava Okara Rendy, em Eldorado, também figuraram entre as piores, com notas que não ultrapassaram 3,3.
Já no ranking das escolas do sexto ao nono ano, das dez piores notas, sete são de escolas indígenas. A exceção são os Caic’s de Miranda e Aquidauana, além da Escola Municipal Nelson Mangabeira, de Ladário. Confira os números abaixo.
Para historiador terena e pedagogo, Wanderley Dias Cardoso, doutor em educação escolar indígena, o principal problema é a ausência de gestão em nível estadual para educação dos povos originários.
“Não temos hoje um núcleo de educação indígena que está previsto em lei. É o Estado que rege a política de educação e há 18 anos não temos mais esse departamento na SED (Secretaria de Estado de Educação), por mudança de governo”, ressalta.
Wanderley já fez parte desse núcleo quando existia e ressalta que era o responsável por acompanhar as escolas indígenas e estar em contato frequente com os municípios, professores, garantindo a formação continuada. “Hoje cada um faz aquilo que pode, porque não tem política pública. Existe até uma consultoria do Ministério da Educação que ajuda. Mas sem o Comitê de Educação Escolar Indígena, os municípios acabam fazendo o que bem entendem”, lamentou o doutor.
Para a professora Adriana Buytendorp, superintendente de Políticas Educacionais da SED, os índices baixos das escolas indígenas se devem as diferenças culturais. “Precisamos entender que a forma que eles avaliam e encaram essas avaliações são diferentes da nossa cultura, principalmente quando são avaliados pela língua portuguesa, mas se comunicam por sua língua materna. Outros fatores da cultura deles devem ser levados em consideração”, justificou.
No entanto, Wanderley disse que o argumento é uma meia verdade. “Os conhecimentos que se tem nas escolas devem ser universais e da própria cultura indígena. Mas reduzir a isso é alienar. Não é a realidade. Teria que apontar quais os meios de avaliação na língua materna. Além disso, há escolas indígenas urbanas, como a Guilhermina que também teve nota baixa. Não deveriam ter essa dificuldade então. Faltam metas articuladas e responsabilização dos entes. Quando o Estado não faz seu papel é uma ausência completa de políticas públicas”.
O Campo Grande News já mostrou protestos de alunos indígenas que estudam de forma improvisada e que muitas vezes não há suporte para chegar até a escola para aqueles que vivem em aldeias distantes.
Caso semelhante ocorre na Aldeia Barro Preto, em Porto Murtinho. Indígenas da etnia kadiwéu denunciaram a falta de infraestrutura e pediram ensino médio para a comunidade. Mas até o momento não foram atendidos. “Tá do mesmo jeito, ninguém faz nada. Nem a diretora vem ao local. Temos a fila de espera de 20 alunos. Todos sonham em estudar. Mas até agora o governo e o município ficam alegando falta de recurso”, disse uma moradora que não quis se identificar.
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