“Não fechem minha escola”: alunos protestam contra novo reordenamento
Protestos se repetem pelo segundo ano contra decisão de encerrar ensino em algumas escolas estaduais
Reordenamento do ensino em Mato Grosso do Sul provoca, pelo segundo ano consecutivo, protestos de alunos e comunidade escolar que são contrários à decisão de fechar as portas de escolas estaduais em Campo Grande e no interior. Na Capital, durante a manhã desta quarta-feira (20), ao menos três manifestações tem como mote o encerramento de escolas estaduais. A indignação de quem estuda em uma escola “especial e indígena” chegou até a Assembleia Legislativa.
Comunicado da SED (Secretaria Estadual de Educação) de que a Escola Estadual Carlos Henrique Schrader vai encerrar as atividades a partir de 2020 fez com que alunos, pais e professores fossem até o local para protestar. A mobilização começou por volta das 9h30 e no intervalo das aulas reuniu mais de 100 pessoas.
Confira o vídeo:
A escola é querida na comunidade, conforme relataram, por se destacar na qualidade de ensino, desempenho dos alunos e por abrigar muitos estudantes indígenas e do meio rural.
É o que relatou a professora de língua portuguesa Gislaine Camargo, que contou ter ficado sabendo da decisão na terça-feira (18), “sem muitas informações”. Ela conta que a escola tem 26 anos e atende muitos alunos indígenas, além de ter projetos de ensino diferentes e abrigar alunos especiais, do 6º ano do ensino fundamental ao 3º do ensino médio,
Ela afirma que os alunos serão remanejados. “A escola atende alunos da área rural, tem ônibus que leva e busca na saída de Três Lagoas, é uma escola que atende muitas demandas e tem um desempenho muito bom. Estamos sem entender”, disse.
Trabalhador da construção civil, o Terena Reinaldo de Almeida, 46, vive na aldeia urbana Marçal de Souza e contou que os dois filhos estudam na escola, um no 7º e o outro no 8º ano. “Não é legal, vai ser pior a mudança, vai esparramar, pra mim essa escola é boa porque meus filhos demoram 10 minutos para chegarem, não andam nem 1 km, a escola mais próxima fica a 3 km, eles teriam que ir de ônibus”, disse.
O trabalhador indígena comentou que a notícia “o pegou de surpresa”. “Vai ser difícil, ano que vem mais uma filha iria vir pra essa escola”, afirma.
A pizzaiola Anna Aparecida da silva Davos, 28, relatou que o ambiente escolar foi fundamental para que a filha de 14 melhorasse de um quadro depressivo. Além da filha, dois sobrinhos também frequentam a escola. “Quando recebi a notícia fiquei chocada e revoltada e fiz questão de vir no protesto, vou chegar mais tarde no trabalho”, relatou.
“A minha filha tem depressão e desde que veio estudar aqui sentiu melhora grande, minha filha passou por outras escolas, e depois daqui ela melhorou muito, faz parte do grêmio, gosta de ir pra escola, minha filha veio, ganhou destaque, a coordenação é próxima e a escola é boa, reclamou da distância, minha filha mora no Noroeste e vem de ônibus, vai ficar mais longe, tenho receio”, declarou.
Rosimeire Rodrigues de Oliveira, 38, é auxiliar de produção e tem um filho de 13 anos que está no 7º ano do ensino fundamental. “Não quero que meu filho saia e acho um erro o governo fechar uma escola boa. Quando meu filho recebeu a notícia falou que se a escola fechasse ano que vem iria parar de estudar”, comentou ela, que teme que a evasão escolar aumente.
Estudante do 3º ano do ensino médio, Gabriel Gonçalves Mendonça Palacius, tem 17 anos e estuda nessa escola há 9. “Acho injusto porque a escola tem estrutura e mostra bons resultados, boas notas no Ideb. Fico chocado, esse anúncio é como se jogasse o nosso esforço no chão”, disse.
Uma escola indígena – Parte da comunidade escolar foi, ainda, para a sessão legislativa da Assembleia Estadual. Aproximadamente 50 pessoas entre estudantes, lideranças indígenas e funcionários da escola protestaram no plenário.
A diretora da escola Vanessa Galvão até se emocionou e chegou a chorar ao falar sobre o fim do ensino nessa escola. “Ontem dois técnicos e um superintendente foram informar que não ia funcionar por critérios técnicos avaliados pela secretaria”, contou.
Segundo a diretora 427 alunos frequentam as 8 salas de aula, e os alunos com deficiência ainda contam com auxílio de professores de apoio. Além disso, comentou, 43% dos alunos são indígenas. “A gente já trabalha com novo ensino médio do MEC e a escola funciona ao lado da Marçal de Souza, a escola indígena da aldeia vai até o 5º ano, a escola trabalha a cultura indígena, diferenciada”, declarou.
“Por que vão fechar a nossa escola?”, questionou.
Campeã de badminton - Segundo a diretora, na escola há até aulas de robótica e prática de badminton. Frequenta a escola a campeã estadual desse esporte, a indígena de 14 anos Mislene Vieira Gonçalves que realiza os treinos na escola. O grupo quer apoio dos deputados para que haja diálogo junto à SED.
Municipalização - A Escola Estadual Advogado Demosthenes Martins, no bairro Octávio Pecora, também está na lista do reordenamento da SED. Nesta terça-feira (18), a direção da escola recebeu uma ata informando que a unidade será municipalização. No final da manhã de hoje, pais, alunos e professores protestaram contra a mudança.
A escola atende cerca de 200 estudantes do 7°ano ao 3° ano do Ensino médio. Com a municipalização, a escolaridade mudaria.
A professora de língua portuguesa, Elaine Ferro, critica a mudança. "Com o fechamento da escola os estudantes do Ensino médio não teriam uma opção no bairro", explica.
Uma das primeiras moradoras do bairro, Antônia Jubrica de Campos, de 69 anos ficou revoltada quando recebeu a notícia. "Essa escola foi entregue junto com as chaves das casas do bairro. Meus cinco filho estudaram aqui, um neto acabou de se formar e outro ainda estuda aqui. é muito triste", conta.
Filha de dona Antônia, a administradora Rita Jubrica, de 38 anos, lembra que estudou a vida toda na escola. "Hoje meu filho estuda aqui. É um absurdo, não dá para fechar uma escola de referência e que tem um trabalho de excelência.
O que diz a SED – Procurada, a SED afirma que o reordenamento acontece pela queda nas matrículas. “Nos últimos dez anos: entre 2010 e 2018 esse número atingiu o quantitativo de 40 mil estudantes a menos em todas as etapas ofertadas pela REE”.
Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria afirma que as mudanças serão anunciadas no dia 29 durante o lançamento da matrícula digital 2020. “Em 2020, o processo de reordenamento da Rede Estadual de Ensino será realizado em regime de colaboração com os municípios”, diz o comunicado.
“Salientamos que nenhum estudante da REE ficará sem escola e nenhum servidor estadual de educação ficará sem lotação. Com relação aos diretores e coordenadores pedagógicos, no último final de semana foi realizado processo seletivo e, após o resultado, os mesmos serão lotados, conforme procedimento classificatório estipulado”, diz o comunicado.
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