Para SBPC e universidade, recorde de inscritos reforça súplica contra cortes

A 71ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) bateu recorde de inscrições na edição deste ano, com 21.250 pessoas registradas para acompanhar o evento no campus da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), em Campo Grande. Para os organizadores do encontro, o interesse do público reforça mais a súplica das instituições ligadas à ciência, tecnologia e educação pelo descongelamento de recursos federais para estas áreas.

Segundo o reitor da UFMS, Marcelo Turine, “esse recorde de participação mostra o quanto as pessoas acreditam na ciência, acreditam na educação”. “Nós temos muitos projetos para o desenvolvimento do Estado e do País, mas isso demanda apoio. O orçamento do governo é finito, até 2023 não há perspectiva de aumento na receita da União, então vamos ter que trabalhar com criatividade e juntar os esforços, como nesse evento”, disse na noite de hoje, após sessão de encerramento da reunião anual.

Já o presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, destacou as moções aprovadas durante assembleia da entidade, na quinta-feira (25), que aumentam a súplica contra os cortes em ciência, tecnologia e educação.

“As mais importantes são certamente aquelas que têm a ver com a questão dos cortes drásticos na ciência e tecnologia. Temos uma grande preocupação com o CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], que está com situação crítica, corte de bolsas”.

Em março, o presidente Jair Bolsonaro decretou bloqueio de R$ 2,158 bilhões do MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), equivalentes a 42% do orçamento para este ano.

“E na área da educação. Esse projeto do MEC [Ministério da Educação] para a universidade pública brasileira, que implica em reestruturação significativa, que seja mais discutido, que seja mais debatido. Há pontos que nos preocupam muito. Sem uma discussão ampla na comunidade a chance de não dar certo é muito grande”, completou Moreira sobre o “Future-se", programa que prevê aumento de verba privada nas universidades públicas.

O congelamento de recursos do MEC totalizou R$ 5,839 bilhões, maior corte promovido pelo governo federal em números absolutos. Somente na UFMS, o contingenciamento representou R$ 29,7 milhões.

“Com esses cortes e essa política restritiva na ciência e tecnologia, nós vamos andar para trás. Compromete profundamente a ciência brasileira. Isso é muito sério. Nós não temos nenhuma dúvida da capacidade nossa, mas falta política pública adequada”, finalizou o presidente da SBPC.

Números – De acordo com a organização da reunião anual, 16.085 pessoas se inscreveram de maneira antecipada, enquanto 5.165 participantes se registraram com o encontro já em andamento. Os interessados representaram 599 municípios e todos os estados do País.

A média de ocupação das 68 conferências realizadas foi de 123 pessoas por sessão. Já a apresentação de pôsteres somou 600 inscrições, das quais 249 só de Mato Grosso do Sul. As ciências humanas foram tema da maioria dos trabalhos.

Conforme a UFMS, 7.115 estudantes do ensino básico percorreram as atrações do evento. A instituição ainda estimou que 36,5 mil pessoas – desde inscritos até motoristas de aplicativo – circularam pelo campus nos seis dias de encontro.

Durante a sessão de encerramento, a UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) foi anunciada como próxima anfitriã da reunião anual. A capital Natal vai receber a SBPC entre 12 e 18 de julho de 2020.

Último dia – Os estandes e atrações do evento seguem abertos à população neste sábado (27). A reunião anual termina com o “Dia da Família na Ciência”, com atividades gratuitas e abertas para toda a comunidade.