UFMS festeja 40 anos com mascote, contrastes e cercada de dúvidas
A instituição celebrou aniversário com lançamento de selo e carimbo comemorativos, mas não tem dinheiro nem pra pagar água e luz
A ironia de lançar, em pleno 2019, selo e carimbo de correspondências como forma de celebrar os 40 anos da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) foi evidenciada pelo próprio superintendente estadual dos Correios, Genivaldo Lacerda, durante evento na manhã de hoje, na reitoria, em Campo Grande. Quase obsoleto, o item simboliza os contrastes que marcam a instituição, hoje com dificuldades até para pagar água e luz.
Lacerda fez questão de dizer que poucas pessoas ainda trocam correspondências, e que hoje os selos são mais valorizados por alguns poucos colecionadores. O superintendente estadual frisou também que adesivo e carimbo farão parte do acervo do Museu Postal brasileiro.
À sua maneira, a UFMS caminha para se modernizar, com obras de novos prédios para salas de aulas e laboratórios, além de um reparo aqui, outra pintura ali.
Criada na década de 1960, a atual estrutura foi projetada e inaugurada pelo governador Pedro Pedrossian em 1971, como antiga UEMT (Universidade Estadual do Mato Grosso). Oito anos depois a instituição foi federalizada e, hoje, a principal universidade sul-mato-grossense também tem seu lado museu. Ainda em uso, mesmo que já deteriorado pelas quatro décadas de existência, estruturas como o Estádio Morenão resistem aos avanços. Outras já sem utilização alguma, caso do Auto Cine, aguardam reforma ou nova finalidade.
A maioria das novas instalações da UFMS foram construídas na esteira do Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), iniciado em 2007. O plano foi criado para ampliar o acesso às instituições e distribuiu recursos para aumentar a estrutura física dos estabelecimentos de ensino.
Quem frequenta a universidade diariamente conhece seus contrassensos. Estudante de Enfermagem, Victória dos Santos Velasques, 19 anos, aprova os novos blocos, mas avalia que recentes reformas são insuficientes.
“As salas de aula do meu bloco são novas e boas. Já essas obras só estão fazendo por causa da reunião da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). A reforma estava demorando muito, ficaram muito tempo mexendo no corredor central. Agora que está perto do evento estão acelerando”.
A UFMS vai receber a 71ª Reunião Anual da SBPC entre 21 e 27 de julho. O encontro é tido como o maior evento científico da América Latina. Para recebê-lo, a cidade universitária ganhou recapeamento, revitalização do corredor central, reforma do estacionamento, nova pintura e até totens para identificação dos blocos.
Para a bibliotecária Nádia Vasconcelos, 19, a estrutura da UFMS ainda precisa de reforma maior. “Não adianta só pintar. Estão fazendo uma maquiagem, na verdade”.
Corte - Após organizar o evento científico, a instituição volta suas atenções ao desafio de manter suas portas abertas. O contingenciamento de R$ 29,7 milhões - cerca de 30% dos recursos orçamentários de 2019 - proposto pelo governo federal pinta um cenário de incertezas e pode comprometer até o fornecimento de água e luz da universidade a partir de agosto, segundo o reitor Marcelo Turine.
“Temos duas pautas. Primeiro, mostrar porque precisamos destravar o nosso orçamento com o MEC (Ministério da Educação). E segundo, junto com a bancada federal liberar nossos R$ 50 milhões de emendas. Mas não pode usar emenda para pagar funcionamento. Não paga água e luz. Tem que destravar o recurso do MEC para a gente conseguir manter a universidade funcionando. Senão vamos ter de interromper as aulas”.
Para liberar os R$ 29,7 milhões retidos, a direção da UFMS quer convencer o ministro da Educação, Abraham Weintraub, com números positivos. De acordo com Turine, a evasão de estudantes foi reduzida com mudanças nos horários dos cursos, o que elevou a quantidade de matriculados de 17 mil para 24 mil em três anos.
Já os recursos previstos com a bancada federal estão divididos entre investimento e custeio. Do total, a UFMS pleiteia R$ 24 milhões para obras em suas estruturas mais antigas, como Auto Cine, Morenão e Teatro Glauce Rocha.
Avaliação - Ao menos diante da régua do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), a UFMS fica atrás da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados). Conforme os resultados do último IGC (Índice Geral de Cursos), a instituição foi avaliada com nota 3,19, em escala que vai de 1 a 5. Já a instituição de ensino do interior somou índice de 3,35.
O cálculo do IGC é realizado anualmente e leva em conta aspectos como nível de formação do corpo docente, qualidade da infraestrutura e resultados do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes).
Festa - Além de selo e carimbo, a UFMS lançou também seu hino oficial na manhã de hoje. A música é de Marcelo Fernandes Pereira e a letra assinada por Geraldo Vicente Martins, professores da instituição.
A comemoração reuniu ex-reitores, como João Pereira da Rosa (1970 a 1978) e Manoel Catarino Peró (2000 a 2008), e atraiu os vereadores Betinho (PRB) e Eduardo Romero (Rede), o deputado estadual Rinaldo Modesto (PSDB) e a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS).