Sem plano de reposição, escolas infantis perdem alunos e temem fechar
Instituições particulares ainda estudam reposição de aulas de crianças até 5 anos, conforme orientação do CNE
Brincadeiras, desenhos e até aulas de balé e capoeira migraram para o ambiente online para não deixar bebês e crianças sem as atividades, durante a pandemia. O esforço das escolas de Educação Infantil, no entanto, não tem se mostrado suficiente frente a cenário de crise econômica que leva pais a cancelarem contratos. Algumas instituições temem não resistir e ter de fechar as portas.
Recomendação de reposição das aulas na educação infantil, proferida pelo CNE (Conselho Nacional de Educação), na última terça-feira, deixou o cenário ainda mais incerto para as escolas particulares focadas em atender crianças de até 5 anos.
A orientação é para que, quando o isolamento social acabar, as instituições reponham a carga horária em períodos não previstos, como sábados ou férias, em ampliação da jornada escolar diária ou contraturno.
Tendo de manter contratos com professores, por exemplo, mesmo durante a quarentena, as escolas preveem cenário de gastos além do planejado para o ano letivo de 2020.
Ainda sem plano para reposição das aulas, as escolas mantêm as ofertas de atividades a distância para os alunos cujos pais ainda mantém contrato. Mas, o número de crianças matriculadas reduz a cada dia, por rescisões contratuais.
Diretora pedagógica da escola Criarte, em Campo Grande, Flávia Muniz, afirma que só na última semana 12% das matriculas foram suspensas, mesmo a escola negociando descontos com metade dos clientes. “Apenas 10% dos pais mantem contrato integral”, revelou. O temor, segundo ela, é que muitas escolas pequenas não resistam a situação.
Conforme a professora, a expectativa era de que instituições pudessem retomar as atividades presenciais a partir de segunda-feira. Plano de biossegurança, no entanto, não foi aprovado. Diante do cenário desolador, a Criarte trabalha apenas com plano para cortes de despesas, que inclui demissões de funcionários.
Vai funcionar? – Na escola Casulo, em Campo Grande, o corpo pedagógico mantem as atividades online, mas não descarta a possibilidade de reposição presencial, caso esta seja a orientação das autoridades. “Em julho vamos trabalhar. Não vai ter férias. Feriados que seriam prolongados, não serão mais e vamos oferecer aulas dezembro adentro”, explicou a diretora pedagógica, Cintia Borges.
Alguns pais, porém, não veem viabilidade na reposição de aulas para a Educação Infantil, embora concordem sobre a dificuldade de consumo do conteúdo disponibilizado durante a pandemia.
Mãe de uma menina de 2 anos e 9 meses, que preferiu não se identificar, afirma que não consegue colocar a filha para assistir algumas aulas oferecidas em vídeo e manter o contato com o professor. “Às vezes olhamos e tem apenas um ou dois alunos online. Vejo que ninguém está seguindo a rotina”, relatou.
Ela também questiona sobre o fato da redução de algumas despesas não estarem sedo incorporadas nos descontos concedidos. Da mensalidade de R$ 1.600 por mês, para período integral, a mãe recebeu apenas R$ 200 de desconto referente à alimentação, mesmo os professores da instituição tendo salários e jornadas de trabalho reduzidas.
Além disto, a mãe tem dúvidas quanto a necessidade, por exemplo, de levar a filha na escolas aos sábados e feriados, considerando eventual reposição de aulas posteriormente.
Em discussão - De acordo com a presidente do Conselho Municipal de Educação, Alelis Gomes, na semana que vem, os profissionais vão ser reunir por dois dias para debater a aplicação das orientações emitidas pelo CNE.
A entidade representa escolas de Educação Infantil particulares, além das públicas de Ensino Fundamental, de Campo Grande.