Capital faz 79% feliz, mas tem muita relação de amor e ódio com a cidade
Enquete questionou se Capital te faz feliz e resultado foi de 79% dos leitores dizendo que sim
No dia do aniversário é gentil render homenagens. E nesse clima de 121 anos da Capital, 79% dos leitores que participaram de enquete do Campo Grande News responderam que sim, que são felizes aqui. Apenas 21% ficaram do lado oposto.
Mas para muita gente, a resposta depende do dia em um misto de amor e ódio pela cidade. Nesse jogo de explicações variadas, escolher apenas um sentimento pela capital sul-mato-grossense parece até mentira.
Nascida em Campo Grande, a atriz e diretora do Grupo Casa, Lígia Prieto, caracteriza a cidade como “acomodada” e, com isso, explicar as relações entre o gostar e desgostar ficam até confusas.
É uma cidade inclusive atenta somente à elite, claro que não é diferente das outras cidades e é bem absurdo. É uma cidade soberba. Engraçado, falando o que eu penso, estou achando que odeio a cidade, mas não odeio.
Depois de viver no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, Lígia conta que a conexão entre ela e Campo Grande vem do outro lado da moeda, com os benefícios da cidade não estar com desenvolvimento avançado. “É possível construir coisas aqui. Não sei se o que faço hoje aqui, conseguiria fazer no Rio ou São Paulo. Lá existem tantos de mim e, aqui, sendo consideravelmente novo, a gente tem muitas possibilidades de crescer junto com a cidade”, relata.
Já a jornalista Claudia Flores, de 47 anos, defende a cidade natal com unhas e dentes. “Até tem coisa ruim, mas eu não deixo ninguém falar mal. Comparando com outras cidades, Campo Grande é ótima. Pensando em qualidade de vida, tranquilidade, tudo isso compensa os pontos negativos”, diz.
Morador de Campo Grande há 38 anos, o terenense Mauro Ramos dos Reis, de 55 anos, abraçou a cidade desde que veio para cá. Para ele, os problemas maiores ficaram para trás, “antes tinha muito problema estrutural, mas hoje a gente vê que melhorou. Gosto da cidade, me sinto feliz aqui”.
Resistência - Pensando no cenário cultural de forma mais ampla, o empresário Kenzo Minata diz que para sobreviver por aqui é necessário focar no lado do amor e abraçar a coragem. Conhecido no âmbito alternativo, com o Brava Bar e Resista, ele argumenta que ser artista exige carinho.
Temos artistas incríveis, identidade cultural muito linda e forte. Campo Grande precisa acalentar melhor toda a cultura e arte que produzimos, somos uma área essencial para o desenvolvimento da cidade e seguiremos resistindo.
Também do lado de quem precisa colocar força para o barco seguir, a coordenadora da Cufa (Central Única das Favelas) em Mato Grosso do Sul, Lívia Lopes Correa diz que a falta do lado “mais Capital” de Campo Grande atinge o entendimento sobre questões sociais.
A gente vê que esse lugar de interior mantém as pessoas quadradas, conservadoras, que não estão abertas ao novo. Os problemas estão na nossa cara, a gente vê isso.
Para Lívia, a população ainda não está preparada para entender que a cidade não é um extremo de perfeição e alegria. No fim das contas, é uma grande mescla entre o belo, trágico e grotesco. “Tem pessoas passando fome e a gente precisa reconhecer essa falha. Parar de mascarar falando que só é uma cidade arborizada, por exemplo. É linda sim, mas não só isso”.