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Esportes

“Luís, Luís, por favor, ouve o Zico, ouve o Zico...”

Paulo Nonato de Souza | 11/06/2015 08:53
Zico no jogo contra a França na Copa de 86, no México. Ele queria muito encerrar sua brilhante carreira com um título Mundial (Foto: Arquivo)
Zico no jogo contra a França na Copa de 86, no México. Ele queria muito encerrar sua brilhante carreira com um título Mundial (Foto: Arquivo)

Vendo esta semana pela Internet a entrevista coletiva do eterno camisa 10 do Flamengo, Arthur Antunes Coimbra, o Zico, sobre a decisão que tomou de lançar candidatura à presidência da Fifa, lembrei com orgulho que tive a oportunidade de acompanhar de perto o auge da sua carreira no time carioca e na Seleção Brasileira na década de 1980.

Era um ídolo de todas as torcidas, um super jogador muito acima da media, um gênio do futebol. Eu era repórter da Rádio Record de São Paulo, saído do interior de Mato Grosso do Sul, e sofria muito cada vez que era pautado para entrevistá-lo. Simplesmente travava por me achar inexpressivo diante de uma personalidade tão expressiva, e sempre tentava me esquivar da responsabilidade.

Teve um jogo entre Palmeiras e Flamengo no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, em que fui escalado para a cobertura do time carioca e não preguei o olho na noite anterior. Insônia total. Tremia só de pensar que teria de entrevistar o Zico, afinal, cobrir o Flamengo num jogo com ele em campo e não entrevistá-lo seria uma falha imperdoável.

Mas como tudo na vida tem seu jeito, pelo menos naquele jogo dei o meu jeito. Na época eram permitidas as entrevistas de campo antes de a bola rolar e quando as equipes pisaram no gramado avaliei que não teria condição emocional para entrevistar o Zico. Então, fui correndo pedir socorro ao colega Luís Carlos Quartarollo, com quem eu fazia dupla na transmissão do jogo pela Record. Sua missão era acompanhar o Palmeiras, mas não tive dúvida. Pacaembu lotado, barulho ensurdecedor da torcida ecoando e cheguei nele aos berros de quem está desesperado: “Luís, Luís, por favor, ouve o Zico, ouve o Zico...

Na Copa do Mundo do México, em 1986, Zico se recuperava de uma lesão de ligamento cruzado no joelho esquerdo e o nosso produtor Edson Scatamachia criou um quadro na programação da Record batizado de “O Dia de Zico”. A ideia do quadro era acompanhar em detalhes todo o tratamento e recuperação do astro rubro-negro desde a fase de treinamento na Toca da Raposa, o Centro de Treinamento do Cruzeiro, em Belo Horizonte. E quem foi escalado para estrear o quadro? Eu, claro. Justo eu que tremia diante de Zico. Pensei em pedir ao Scatamachia para escalar outro repórter, mas já estava acompanhando a Seleção e não tive saída.

Não foi nada fácil, mas fiz o meu trabalho e fui testemunha do esforço de Zico para disputar aquela Copa do Mundo. Vi de perto toda a sua dedicação em tempo integral sob olhar atento do preparador físico Gilberto Tim, quase um personal trainer, afinal o paciente merecia toda atenção possível.

Diversas vezes ouvi o Zico dizer ao Tim: “Professor, tá foda. Não vai dar”. Dizia isso e seguia em frente com os exercícios físicos para fortalecer a musculatura, intercalados com toalha quente no joelho lesionado. Já rico e consagrado mundialmente, ele sabia que não estaria em plenas condições para jogar a Copa, mas nem por isso deixava de cumprir a carga diária de trabalho. O ritual começava logo cedo, seguia durante o dia todo e varava a madrugada.

Por tudo que vi e ouvi, apesar de todo o seu esforço, penso que ele não deveria ter ido àquela Copa do Mundo. Mas era o Zico. Como deixar de fora um jogador de tamanha capacidade? O técnico Telê Santana o manteve no grupo e certamente qualquer treinador teria feito o mesmo, mas se pudesse voltar no tempo creio que o próprio Zico pediria dispensa.

Sobre a participação do Brasil na Copa de 86 no México, as pessoas costumam lembrar do pênalti perdido pelo Zico nas quartas de final contra a França, quando o placar estava 1 a 1 e a Seleção acabou eliminada nas cobranças de penalidades. Eu lembro do seu esforço heroico para disputar aquela Copa.

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