Gina Lollobrigida achava que ainda era o que havia sido
Em 1985, o São Paulo repatriou o craque Paulo Roberto Falcão, que estava na Roma da Itália. Chegou com o cartaz de o “Rei de Roma” pelo grande sucesso no futebol italiano e, claro, sua contratação era um acontecimento nacional, entre euforia por sua técnica e elegância dentro e fora de campo, e desconfiança por sua idade (32 anos) e uma lesão no joelho.
Em decadência ou não, o fato é que simplesmente triplicou o número de repórteres na cobertura diária do dia a dia do São Paulo. Na época, o clube paulista ainda não tinha seu Centro de Treinamento e o time treinava no Estádio do Morumbi.
Numa manhã de treino de véspera de jogo, estávamos todos no saguão do estádio, a espera da saída dos jogadores, repórteres setoristas como eu, pela Rádio Record, e também os que lá estavam exclusivamente para falar com Falcão, quando surgiu uma mulher de estilo elegante e super maquiada, acompanhada de outras quatro pessoas. Ela entrou pelo portão do estacionamento, caminhando rapidamente em nossa direção, parou bruscamente, observou o ambiente com tantos repórteres e recuou junto com sua trupe. Logo em seguida veio até nós um jovem de óculos escuro e cabelo brilhoso penteado para trás, um típico estereótipo do mafioso italiano. Chegou e decretou de forma bem objetiva: “Pessoal, a senhora Gina Lollobrigida avisa que não dará entrevista e só vai entrar quando todos vocês deixarem o local”.
Ficamos todos atônitos. Afinal, nenhum de nós sabia quem era a tal Gina Lollobrigida. Eu, por exemplo, nunca tinha ouvido falar. Espirituoso, o colega Osvaldo Pascoal, da Rádio Globo, hoje comentarista da Fox Sports, perguntou: “Mas essa Gina é a famosa quem?”. E aí foi a vez do mensageiro perder o rumo. Ficou sem saber onde enfiar a cara. Como ainda não existia o professor Google, por sorte chegou o jornalista esportivo Paulo Planet Buarque, repórter da Rádio Bandeirantes e do jornal A Gazeta Esportiva nas Copas de 1954 e 1958, e esclareceu tudo para ambas as partes.
Para nós, Paulo Planet Buarque fez uma pequena conferência no saguão do Morumbi, na verdade uma aula de cinema italiano. Aí ficamos sabendo que a tal Gina Lollobrigida teve seus momentos de glória como atriz nos anos de 1950. Padrão de beleza, era chamada de "La Lolla" e tinha o título de “A mulher mais bela do mundo”.
Mas isso havia sido realidade 35 anos antes. Muito tempo já havia se passado desde então e ela estava ali no Morumbi com a mesma missão da grande maioria dos repórteres que desejou expulsar: entrevistar o craque Paulo Roberto Falcão. No caso dela, o objetivo era produzir uma matéria especial com o jogador para a televisão estatal da Itália, a RAI Uno. Achando que ainda era o que havia sido, ela pensou que aquele tumulto todo de jornalistas era por conta da sua presença. Nunca vou esquecer da cara de sem graça daquela senhora.