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Na Copa, ex-juiz Getúlio Barbosa vai ficar de olho no árbitro de vídeo

A tese de que árbitro bom é aquele que ninguém percebe em campo não vale para o árbitro de vídeo, que na Copa será protagonista

Paulo Nonato de Souza | 18/05/2018 09:35
O ex-árbitro Getúlio Barbosa de Souza Júnior adverte para que ninguém espere erro zero na Copa do Mundo com o árbitro de vídeo (Foto: Fernando Antunes)
O ex-árbitro Getúlio Barbosa de Souza Júnior adverte para que ninguém espere erro zero na Copa do Mundo com o árbitro de vídeo (Foto: Fernando Antunes)

Com um olho nos craques das 32 seleções e outro no sistema de árbitro assistente de vídeo, o VAR (Vídeo Assistant Referee), na sigla em inglês. É assim que o ex-árbitro sul-mato-grossense Getúlio Barbosa de Souza Junior, de 62 anos, Aspirante do quadro de árbitros da Fifa entre 1991 e 1996, está se preparando para acompanhar a Copa do Mundo de 2018, na Rússia.

“Não adianta o torcedor achar que o uso da tecnologia vai proporcionar erro zero, porque isso é praticamente impossível, mas que vai minimizar os erros, isso vai”, adverte Getúlio Barbosa, um douradense radicado em Campo Grande, que se tornou árbitro em 1982 e atuou por gramados de todo o Brasil até 2001.

A novidade na história da Copa do Mundo, uma competição criada na França em 1928, promete não passar despercebida ao longo da competição na Rússia, entre 14 de junho e 15 de julho. Ao contrário disso, será protagonista tanto quanto os jogadores, e o que se percebe é que há um misto de expectativa e curiosidade sobre como a tecnologia adotada pela Fifa vai funcionar nos 64 jogos do Mundial de 2018.

Formado na primeira turma de árbitros da FFMS, em 1982, Getúlio Barbosa foi "homem do apito" durante 19 anos (Foto: Fernando Antunes)
Formado na primeira turma de árbitros da FFMS, em 1982, Getúlio Barbosa foi "homem do apito" durante 19 anos (Foto: Fernando Antunes)

“Eu acho que para restabelecer justiça é válido. Acho que nada tira do ser humano a condição de ser falível na interpretação das regras do jogo, as vezes de maneira equivocada, mas vejo de grande valia para uma bola que entrou, não entrou, e aí confirmar o gol ou não, uma penalidade dentro da área que o árbitro interpreta que foi fora da área. Se isso for corrigido vai haver justiça no futebol”, disse Getúlio Barbosa.

Formado na primeira turma de árbitros da então recém criada FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul), em 1982, Getúlio Barbosa foi “homem do apito”, um dos inúmeros apelidos do árbitro no jargão do futebol, durante 19 anos, incluindo sua participação no quadro da CBF (1986-2001) e no quadro de Aspirante da Fifa (1991-1996).

Com a experiência de quem enfrentou muitas situações de pressão em competições estaduais, nacionais e internacionais, só em Mato Grosso do Sul apitou 10 finais do Campeonato Estadual, e duas no Mato Grosso, Getúlio Barbosa revelou que está ansioso para ver o funcionamento da tecnologia do árbitro de vídeo em uma Copa do Mundo, depois que o recurso foi utilizado a título de teste em dois jogos (Portugal x México, Camarões x Chile) na Copa das Confederações, disputada na Rússia em 2017.

“A expectativa é que a evolução seja sempre para melhorar. Cada vez que você minimiza o erro é um passo para a evolução. Na minha época não era assim, era tudo muito difícil, inclusive para captar uma imagem, mas hoje tudo ficou mais fácil”, comentou.

Getúlio alerta o torcedor também para o que chama de erros corriqueiros que acontecem em uma partida de futebol, que na sua avaliação a tecnologia não conseguirá interferir porque são inerentes diretamente à interpretação humana.

“Hoje há muita rigidez da regra quanto a questão da imprudência em campo, da temeridade, do uso da força excessiva em uma dividida de bola, e dependendo do posicionamento do árbitro em campo ele não consegue definir se foi imprudência ou temeridade, e aí ele aplica um cartão de maneira equivocada ou pode deixar de aplicar o cartão. Penso que em casos assim a tecnologia não tem como influenciar”, enfatizou ele.

ÁRBITRO DE VÍDEO NO BRASIL? NÃO ACREDITO - A Copa do Mundo de 2018, na Rússia, será a primeira da história da competição da Fifa a adotar o sistema de árbitro de vídeo. No futebol brasileiro, o tema ainda está no terreno da discussão. Os clubes não chegaram a um acordo sobre quem paga o custo do investimento no Campeonato Brasileiro, e na Copa do Brasil a CBF anunciou que a tecnologia será colocada em prática a partir das quartas de final.

“Costumo dizer que as coisas abaixo da linha do Equador são bem mais difíceis de acontecer. Até por questão estrutural, fora o jeito brasileiro de ser, não acredito que o árbitro de vídeo possa vingar aqui no Brasil. É tudo muito caro, poucos estádios estão em condições de atender as exigências da tecnologia, e penso que precisamos de um pouco mais de evolução para que o árbitro de vídeo pegue no Brasil”, declarou o ex-árbitro Getúlio Barbosa.

O comando do sistema de árbitro de vídeo vai funcionar a partir de uma sala de operações localizada no ICB (International Broadcast Centre) em Moscou (Foto: Divulgação/Fifa)
O comando do sistema de árbitro de vídeo vai funcionar a partir de uma sala de operações localizada no ICB (International Broadcast Centre) em Moscou (Foto: Divulgação/Fifa)

COMO VAI SER NA COPA - O trabalho do sistema de árbitro de vídeo que será usado durante a Copa do Mundo de 2018, na Rússia, o VAR, tem 5 pontos que a Fifa considera essenciais. Confira abaixo:

1 – Haverá o apoio de uma equipe de árbitros assistentes nas 64 partidas. A equipe será composta de um árbitro de vídeo e três assistentes de vídeo (AVAR1, AVAR2 e AVAR3). Eles terão de imediato imagens selecionadas por quatro operadores de vídeo com os melhores ângulos de câmera, dois deles pré-selecionam os ângulos de câmera mais prováveis, enquanto os outros dois fornecem os ângulos finais escolhidos pelo VAR e o AVAR2 para cada incidente verificado ou revisado.

2 - A equipe de árbitros assistentes de vídeo ficará localizada em uma sala de operação no ICB (International Broadcast Centre) em Moscou. Todos os feeds (atualizações) de câmera relevantes nos 12 estádios chegarão ao VOR (Sala de Operação de Vídeo) por uma rede de fibra ótica. O árbitro no campo em cada estádio conversará com a equipe VAR na sala de operação por meio de um sofisticado sistema de rádio ligado a fibra.

3 - A equipe de árbitros assistentes de vídeo terá acesso a todas as 33 câmeras de transmissão relevantes e duas câmeras exclusivas para lances de impedimento, disponíveis apenas para a equipe de árbitros assistentes de vídeo. Além disso, serão oito câmeras de super slow-motion (câmera lenta) e seis de ultra-slow-motion.

4 - O assistente de vídeo não tomará nenhuma decisão. Seu papel será dar apoio ao árbitro no processo de tomada de decisão e a decisão final só pode ser do árbitro central em apenas quatro situações que podem mudar o jogo:

– Situações de gol
– Marcação de penalidade máxima
– Lance de cartão vermelho
– Identificação de jogadores em campo

5 - Os torcedores no estádio e os que estejam acompanhando a partida pela televisão serão informados sobre o processo de revisão por emissoras de TV, comentaristas e infotenimento, um neologismo da soma das palavras informação e entretenimento.

DE OLHO NA COPA - Acompanhe as notícias da principal competição de futebol do planeta todos os dias no canal Copa 2018. O Campo Grande News será o único veículo da imprensa de Mato Grosso do Sul presente na Rússia para a cobertura da 21ª edição do Mundial da Fifa.

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