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Esportes

O vale tudo pelo poder no futebol inclui até garotas de programa

Paulo Nonato de Souza | 02/06/2015 08:53
A corrupção no mundo da bola em choque com a intervenção dos Estados Unidos (Foto: Arquivo)
A corrupção no mundo da bola em choque com a intervenção dos Estados Unidos (Foto: Arquivo)

Rio de Janeiro, 1986. Estava fazendo o check-in no balcão de um hotel de Copacabana quando vem ao meu encontro um dirigente da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul. Eu era repórter da Rádio Record e acabava de chegar ao Rio acompanhando o São Paulo Futebol Clube, que no dia seguinte jogaria contra o Fluminense pela Copa Brasil, e o representante da FFMS, segundo ele próprio, já estava há alguns dias na cidade “empenhado” no processo de escolha do novo presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

Conversamos ali mesmo no saguão do hotel, que servia como uma espécie de “concentração” dos representantes de federações. Foi uma conversa rápida, mas o suficiente para ter uma ideia básica do que acontece nos bastidores de uma eleição na CBF. Além da hospedagem em um cinco estrelas à beira mar, o representante da FFMS, que nem era o presidente da entidade sul-mato-grossense, contou vantagens da sua performance nas orgias de noites anteriores com garotas de programa, regadas a boa comida, whisky e chapangne, e tudo patrocinado, claro. Afinal, era uma eleição difícil e exigia todo “cuidado” por parte dos candidatos para com seus eleitores.

Na disputa, de um lado havia a chapa formada pelo paulista Nabi Abi Chedid, candidato a presidente, e o carioca Octávio Pinto Guimarães, seu vice; do outro, Medrado Dias, dirigente ligado ao Vasco da Gama, apoiado pelo presidente que estava de saída, Giulite Coutinho. De última hora, prevendo empate, Nabi Abi Chedid decidiu inverter a ordem de sua chapa porque o primeiro critério de desempate na votação se daria pela idade dos candidatos, e o mais velho era o seu vice. No final, Octávio Pinto Guimarães acabou eleito presidente da CBF por um voto de diferença.

Após tanto tempo, por mais que tente, não consigo lembrar qual das duas candidaturas tinha o voto da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul naquela eleição, e quanto ao dirigente deslumbrado pela mordomia com direito a garotas de programa prefiro não revelar seu nome apenas por uma questão de respeito à sua família. Além do mais, 29 anos depois, o que mais me entristece é perceber que a única mudança no processo de eleição numa entidade do futebol, seja federação estadual, CBF ou FIFA, esteja apenas nos métodos e no tamanho dos custos da sedução de dirigentes suscetíveis à corrupção.

Por exemplo, veja abaixo o artigo do amigo jornalista José Carlos Freitas, do Jornal Record, de Portugal, um profissional experiente em coberturas de Congressos e reuniões do Comitê Executivo da FIFA:

Zurique, Suíça, 2015 - A propósito de mais uma reeleição de Joseph Blatter para a presidência da FIFA, apenas dois dias depois de sete elementos ligados à organização terem sido detidos em Zurique a pedido da autoridades dos Estados Unidos da América, importa recordar que a melhor maneira de enfrentar a acusação de suborno (tantas vezes associada ao suíço e à sua organização) é …legalizá-lo.

Então é assim, para quem não sabe. Cada uma das 209 federações presentes num Congresso da FIFA pode fazer-se representar por quatro delegados. Todos eles têm direito a viagens de avião em classe executiva e a cinco noites de estadia em hotéis de cinco estrelas (mesmo que o Congresso dure apenas dois dias) e à chegada cada um recebe uma verba que ronda os 400 euros por dia para “despesas de representação”. Na verdade, é um “pocket Money” que não precisa de justificativos e, pode calcular-se, dá uma grande ajuda a centenas de delegados de pequenos e pobres países que nunca teriam outra oportunidade de sair das suas fronteiras não fossem os benditos congressos da FIFA.

Em cada congresso são gastos mais de dois milhões de euros só desta forma. E também para quem não sabe, uma pergunta: sabe quantos portugueses estão representados nos quase 30 comités da FIFA? A resposta é simples: nenhum! Mas não fique espantado se lhe disser que Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Macau e Timor-Leste têm, todos, um representante num qualquer comité. O Brasil, sem grande surpresa, tem representantes em oito comités, fazendo parte do lote de países no terceiro lugar no ranking dos mais representados.

O primeiro lugar é ocupado, também sem surpresa, pela Alemanha, com representantes em onze comités diferentes. Mas dou uma prenda a quem souber dizer qual o país que surge logo atrás da Alemanha em número de representantes nos comités da FIFA. Não adivinhou? A Papua Nova Guiné, é claro, com nove representantes! E as Ilhas Caimão, de cuja federação é presidente um dos detidos na quarta-feira, Jeffrey Webb, estão representadas em sete comités da FIFA! Duas das maiores potenciais mundiais do futebol, sem dúvida. Corrupção? Subornos? Compadrios? Compra de votos? Organização criminosa? Lavagem de dinheiro? Nada disso, democracia representativa, nada mais, diz Joseph Blatter.

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