Antes e depois mostram como quintal virou “floresta” apaixonante
Danilo reformou casa no Nova Campo Grande de um jeito mais barato e surpreendeu a avó de 84 anos pela coragem
O artista visual Danilo Jovê costuma dizer que “a casa tem o tamanho dos sonhos”. Há 31 anos anos ele mora numa residência no Nova Campo Grande que sempre se transformou para acolher as necessidades e desejos da família. No último ano não foi diferente. Mostramos no Lado B a coragem de Danilo em quebrar tudo sozinho e reformar uma área da casa. Hoje, ele mostra o resultado e conta os desafios de uma obra que hoje é o ‘paraíso particular’ da família.
“A edícula da minha casa funcionava como a área de produção da minha antiga empresa, nos últimos meses de trabalho começamos a ter problemas com cupim, pelo menos uma vez por mês precisávamos passar veneno, mas de nada adiantava porque eles sempre voltavam. A edícula, a varanda que acompanhava a edícula e a área do quintal como um todo me incomodava muito, eu achava muito escuro, muito quente, não gostava das cores, do piso, de nada".
Para Danilo essa relação era um caos arquitetônico. No passado, a avó dividiu a casa em duas, e ergueu um muro para dar privacidade para as duas famílias que moravam ali, nessa época chegaram a morar 11 pessoas na casa, onde foram aparecendo outras necessidades e puxadinhos, quando todo mundo foi embora, a avó mandou derrubar o muro e os puxadinhos ficaram ali, aparecendo de um jeito bem estranho.
“E eu sempre falava pra ela: “vamos mexer aqui, deixar uma coisa mais bonita”, e ela sempre dizia que não tínhamos dinheiro e que era melhor investirmos no terreno meu e dos meus irmãos do que naquela casa. Mas além disso tinha o valor sentimental dela, que ela batalhou muito para construir a edícula e os puxadinhos. Eu tentava dar uma maquiada, colocava alguns vasos, algumas prateleiras, fazia umas pinturas na parede, mas pouco efeito tinha”.
Foi assim que em dezembro de 2018 o drama com os cupins voltou. “Eu lembro que no dia 1 de janeiro de 2019 eu acordei cedo, porque não havia feito nada no réveillon, e fui até a varanda da edícula, quando eu olho pra cima eu vejo que os cupins que estavam atacando a edícula estavam também na varanda que ligava as duas casas, e o pior de tudo que eles estavam migrando para a outra casa, lembro que eu pensei “é agora que eu derrubo isso tudo”.
Danilo só mostrou a situação à avó e disse que resolveria tudo. “Eu nem sabia se eu ia dar conta, se eu ia conseguir, ou como que fazia, eu só fui fazendo”, conta. “Tem muita gente que acha que eu fiz toda a demolição sozinho, mas eu não fiz, eu tinha meu tempo, tinha que conciliar meus estudos, meu trabalho e a obra, então o tempo que eu tinha pra mexer naquilo era pouquíssimo, eu fiquei 4 meses trabalhando sozinho”. Foi o tempo de ajustar as finanças com a avó e contratar pedreiros que terminaram as últimas partes em uns dois dias.
Depois que terminou a demolição ele começou a plantar. “Comprei grama e mais um monte de plantas, e fui enchendo aquele espaço de vida. Entre as minhas formações tem a de designer de interiores, então eu idealizava um projeto, mas na minha cabeça seria uma coisa de 5 anos. Pensava numa área gourmet para receber os amigos e a família, um local para guardar coisas, e também numa piscina de superfície. Quem deu o ponta pé inicial para a reforma foi a minha avó, sobrou um dinheiro e ela resolveu fazer”.
O que se destaca na área transformada é a relação com a natureza. Plantas por todos os lados criam uma atmosfera de paraíso particular para Danilo e a avó. “Eu sempre gostei da natureza, eu não posso ver um animal abandonado que eu acolho, e ando fazendo isso com plantas também, se alguém me fala que vai cortar uma planta, lá estou eu tentando salvá-la, se não convencer a pessoa a ficar com a planta, eu arranco e levo pra casa. Nesse domingo eu resgatei uma dracena de uns 15 metros de altura que iria ser cortada, ela devia ter uns 30 anos mais ou menos, consegui fazer mais de 30 mudas dela. Uma dracena assim custaria mais de R$ 500”.
Danilo tem uma goiabeira em casa, que fica nessa área verde, e tem aproximadamente 40 anos. “Ela foi minha primeira planta, eu amava subir nela, ver os pássaros, comer as goiabas, eu sentia que quando eu estava em cima dela, que eu estava próximo ao céu. Passava horas ali em cima”.
O motivo de ter plantas é também para se sentir bem no próprio lar. “Eu vejo que nos finais de semana as pessoas não aguentam ficar em casa, precisam ir para algum lugar, um bar, um parque, qualquer lugar. E eu vejo que isso tem a ver com uma necessidade de estar em algum lugar agradável, bonito e fresco. Eu não preciso sair de casa porque eu me sinto bem lá, todo esse contato com a natureza que as pessoas buscam, eu tenho em casa. Agora a casa é fresca".
Inquieto, ele ainda apostou na construção da piscina. Tudo começou no isolamento. “Íamos demorar mais tempo para construir a piscina, mas ela foi feita às pressas e em partes por causa da pandemia. Eu estava muito preocupado com a minha avó presa em casa, minha avó fez recentemente 84 anos, e ela sempre foi muito ativa e independente. Nesses meses eu a vi murchar, perder os brilhos nos olhos e eu fiquei muito preocupado com a saúde mental dela. E eu pensava muito no verão, que ela sofreria com o calor e com o tédio”.
Novamente, a avó incomodada com a sujeira que Danilo fazia ao cavar o buraco da piscina, propôs terminar a obra de uma vez. “Eu tinha um dinheiro guardado e ela também, usamos tudo. Lembro que minha mãe comentou que minha avó ficou muito feliz em ter uma piscina em casa, que ela não tinha o que comer na infância e hoje tinha uma piscina em casa. Coisas assim me deixam feliz”.
Nesse caso, a construção inteira foi feita por uma equipe de pedreiros, Danilo só fiz o projeto, escolhi os azulejos e passou raiva com a mão de obra. “Mas valeu à pena”, diz.
Desafios – Para Danilo, o mais difícil foi começar. “Com a reforma eu descobri que sou capaz de fazer coisas que jamais imaginei fazer. Acredito que precisamos gostar da nossa casa, fazer com que ela seja mais do que uma construção, um lar”.
Ele também destaca que nesse caminho é preciso cuidados. No início do quebra-quebra ele chegou a receber críticas por não contratar um profissional. “Eu adoraria não ter que pegar sol e ficar de boa esperando ficar pronto, mas infelizmente eu não nado em rios de dinheiro e qualquer coisa que eu possa fazer para baratear os custos, eu estarei fazendo”.
Ele também reforça a necessidade de segurança em caso de qualquer mudança. “Foi perigoso o que eu fiz, podia ter caído de cima do telhado e ter me quebrado inteiro. Fora que podia ter pego um tétano ou outra doença ocupacional. Hoje faço curso tecnólogo de saúde e segurança do trabalho e psicologia, e sempre oriento sobre o uso de EPI (Equipamento de Proteção Individual)".
Em constante evolução – “Às vezes sinto que nunca vou terminar. Olho o restante da casa e penso “tenho que mexer naquele quarto, na cozinha, no banheiro”, mas até hoje eu não consigo sair do quintal, eu agora estou colocando pedras no jardim para dar um acabamento mais bonito e para as gatas não se sujarem na terra. Tenho uma trepadeira para arrumar, galhos para cortar, prateleira para pintar, e por aí vai”, conta.
Danilo diz que ainda vai investir na energia solar no telhado, fazer uma cisterna, uma horta vertical e mais um monte de coisas, mas no seu devido tempo. “Uma vez eu vi em um documentário que no futuro as casas não seriam consumidoras, mas sim geradoras. Sonho em ter uma casa assim, essas atitudes fazem um bem danado ao planeta. Tem muita coisa para acontecer, o importante é não parar , e ter um lugar que você sinta orgulho e amor”, finaliza.
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