Ao invés de casa, Marcio fez jardim "que acalma" em terreno que sobrou
Investimento a longo prazo, paixão pela natureza fez lote vazio de 33 anos virar “jardim da Alice” exclusivo
Ao invés de construir uma residência em terreno baldio de bairro nobre da Capital, Márcio Martins precisou de quase 30 anos para realizar pacientemente o sonho guardado de montar um jardim. O lote, localizado na região da Via Park, entre o Shopping Campo Grande e a avenida Mato Grosso, virou praticamente um quintal exclusivo – “o meu jardim da Alice”, brinca. Plantando ali e acolá, a jornada do que um dia se tornará um mini-bosque particular já dura 4 anos.
“Aqui temos um pouco de tudo. Palmeiras areca de locuba, leque e washingtonia. Nas folhagens, orelha de elefante não falta. Ainda, dos pés frutíferos, amora portuguesa, limão siciliano, taiti e galego. Até oliveira temos, e que inclusive já deu fruto duas vezes. Mas as flores é que são poucas, praticamente só buquê-de-noiva e orquídeas. Dá muito trabalho, preferimos as sazonais”, diz Marcio, 63 anos, dono de salão de beleza.
A ideia foi conjunta com seu xará Marcio Benevides, cabeleireiro de 62 anos. Juntos, os dois sócios compraram há exatos 33 anos o terreno numa época que nada tinha por lá – “tudo era mato e brejo”. Tanto é que o valor sai por US$ 5 mil (isso mesmo, em doláres), pedido do ex-proprietário. “Estamos falando de meados dos anos 90, então o real ainda era equivalente ao preço do dólar americano”, explica Marcinho.
O lote até então serviria como o novo espaço para atender a recém-formada “freguesia” de ambos, mas acabaram abandonando o plano. Conseguiram, entretanto, o ponto na rua 15 de novembro, onde permanecem há 29 anos. Com isso, o terreno no Vivendas do Bosque ficou parado. Até que um dia tudo mudou.
“Minha mãe acabou falecendo e eu fiquei um pouco perdido. Todo domingo era ‘dia de mamãe’, quando passávamos o dia inteiro juntos. Mas quando ela morreu, isso me fez muita falta. Então eu, por uma questão emocional, precisava preencher o vazio com alguma coisa produtiva, bonita e – porque não – feliz”, conta Marcio Martins.
“Uma amiga floriculturista sugeriu à gente fazer alguma coisa lá. Afinal, já tínhamos o gasto do lote na prefeitura, sem citar que todo ano, pelo menos duas vezes, mandávamos carpir o mato alto e tirar entulho jogado. Matutamos a ideia por dois meses até que resolvemos colocar em prática”, afirma.
E continua: “ela inclusive ajudou muito no começo, doando plantas e materiais. Assim, sem nenhum projeto paisagístico, fomos montando o jardim conforme bem achássemos. Colocávamos cada planta uma a uma, somente o que gostássemos. Confesso que até exagerei um pouco, pois até conta semanal em floricultura fizemos”, admite.
Sem planejamento técnico, o jeito foi apelar para as inspirações que viam em revistas de arquitetura e até mesmo nas viagens que faziam. “Uma vez que fui à São Paulo fiquei apaixonado por um portão de antiquário que encontrei nos meus passeios. Não pensei duas vezes, comprei e trouxe à Campo Grande. Fiz questão de colocar bem na esquina, para ser a entrada principal do jardim. Ainda, teve até muda de plantão que veio de Belo Horizonte. Pedi para uma senhorinha e ela gentilmente cedeu uma. Fiquei maravilhado com a flor”.
Sendo espaço de jardim, é claro que dá trabalho. E custo: “já teve vezes só da conta de água vir R$ 800. Sem falar do IPTU, valor de cada planta comprada e do jardineiro mensal. Pelo menos três vezes por semana venho aqui bem cedinho, às 5h, molhar o jardim inteiro. Demora um total de 4h30”, ressalta. E acrescenta: "mas me acalma. Era o respiro que precisávamos".
E o que a vizinhança acha da mini-selva improvisada? “Super agradecem. Tem vizinho que fica ‘bisbilhotando’ pela entrada e adora ter a vista do nosso jardim pela janela de casa. Engana-se quem vê pela rua e acha que aqui é a continuidade de uma residência. É só ‘quintal’ mesmo, o nosso jardim da Alice. Até o ex-proprietário quis comprar aqui novamente. Claro que negamos”, diz Marcio Benevides.
Mas o terreno não é só jardim. Já construíram um ambiente aberto de pergolado que, em breve, se tornará também um espaço gourmet com um quarto acoplado para atender as noivas do salão. “Nossa intenção é colocar um deck bacana, luminárias, fazer um caminho calçado na entrada. Queremos até montar uma casa de bonecas e também uma piscina pequena à Helena, neta do Marcinho. Vai ficar muito lindo”, garantem.
Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.