Aos 79 anos, pedreiro Tiburcio construiu sozinho uma praça para os vizinhos
Tiburcio ainda teve de pagar por 12 caminhões de terra para fechar uma cratera que havia no lugar
Fé é a última que morre, e no caso de Tiburcio Aspet Azambuja a dita cuja partiu desta para uma melhor depois de acreditar que o bairro Coophatrabalho ganharia uma praça do poder público. A promessa nunca foi cumprida pelas prefeituras e ele resolveu tomar uma atitude por conta própria. Ao ver o matagal vencer, o pedreiro de 79 anos arregaçou as mangas e na porta de casa, onde vive com a família há três décadas, providenciou a obra.
Com esforço diário, o pedreiro capinou sozinho uma área de aproximadamente 600 m² que fica entre a rua Extremosa e a Avenida José Barbosa Rodrigues. Por conta da avenida que chegou na região há cinco anos, um buraco restou na frente de casa. "Eles não arrumaram e o chão afundou um pouco". Por isso, Tiburcio ainda teve de pagar por 12 caminhões de terra para fechar o buraco.
O pedreiro investiu no paisagismo e até em um horta, no começo da praça, mas as hortaliças não resistiram aos furtos. "Plantei um monte de verdura, mas nem dava tempo de crescer, o povo levava". Foi então que resolveu investir nas flores e árvores que dão mais vida à praça durante o ano todo. "Tem gente que até arranca uma flor aqui e ali, mas é bem menos".
Nascido em Maracaju e como bom sul-mato-grossense, além da paisagem, Tiburciu fez questão de um cantinho especial para tereré. Com habilidades nas marcenaria, fez banquinhos de madeira e até mesa especial para apoiar a bebida preferida. "No fim de tarde eu fico aqui, é gostoso demais".
No centro da praça, Tiburcio colocou o próprio nome. Foi criticado por moradores que disseram que esse tipo de homenagem só vale depois da morte, mas o pedreiro discorda. "Colocar meu nome depois que eu morrer? Para que? Se eu não vou estar aqui pra ver isso", brinca.
Claro que o cenário não se resume as plantas e nem ao conforto de seu Tibúrcio, a casinha de madeira no centro da praça revela o cuidado especial com a natureza, com o direito a moradia para os pássaros. Além da madeira, ele usou cabaças para pendurar nas árvores que também servem de ninhos.
A curiosidade está em uma escada de madeira, com amarração reforçada em uma das árvores. Quem chega até pensa que foi feita pensando nas crianças, mas não. É seu Tibúrcio que de vez em quando sobe as escadas para colher flores à esposa. "Essa planta que sobe até lá no topo é a flor da noite, além de cheirosa é um ótimo remédio".
Hoje a praça completa cinco anos, com clima inspirador tanto quanto a força de vontade de seu Tiburcio. Mas com o tempo ele já sabe que precisará de ajuda e teme que o abandono acabe com o lugar novamente. "Queria que todo mundo cuidasse. Não fiz só pra mim, foi também para os vizinhos, mas muita gente chega aqui e joga entulho, porque sabem que eu não vou deixar nada sujo".
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