Após 25 anos, casa com vagão que marcou a infância é demolida
Nos últimos minutos das paredes em pé, ficou o carinho de uma família que soube fazer festa na cidade
Por mais de duas décadas, quem passou na Rua Bahia logo depois da Mato Grosso e olhou a fachada verde do salão Estação da Festa, certamente, se lembrou do vagão que era o desejo de infância. Muitos tiveram o privilégio de comemorar aniversário por ali, outros ficaram só na imaginação.
Agora, o lugar vai dar espaço a quatro salas comerciais. O terreno foi vendido. Assim, mais um cenário da cidade vai ficar na memória e nos registros.
Em 2017, o Lado B esteve no salão de festas e conversou com os proprietários, Maria Borba Diab e Imad Saleh Diab, que administraram o salão de 1997 até aquele ano, quando decidiram fechar as portas, colocar tudo à venda, até o famoso vagão, e descansar depois de anos ensinando como é fazer festa na cidade.
Quase cinco anos depois, voltamos ao cenário que há dias vem sendo demolido. Maria e Imad não moram mais nos fundos, toda área de 1.200 metros quadrados foi vendida. O casal hoje mora em outra residência.
O filho, o empresário Sérgio Munir Borba Diab, de 51 anos, disse ao Lado B que os pais estão bem e hoje, tudo é memória. “Memórias boas, fomos pioneiros com esse perfil de salão, chegamos a fazer mais de 30 festas no mês”, explica.
Sérgio não sabia que a estrutura vendida estava sendo demolida, nem que fotografias e alguns registros do tempo que a mãe decorava a casa inteira ainda estão por lá, sob os entulhos. Mas ficou feliz quando dissemos que as pessoas ainda se recordam das festas animadas do salão. “Que bacana, mudamos tão rápido, muitas coisas ficaram para trás. Mas até hoje, eu sonho com festa”, revela.
Ele também lembra que praticamente tudo que havia no local foi doado, menos o vagão. Mas não foi por falta de tentativa dos pais. “Teve até o dono de um café na Chapada dos Guimarães que ficou enlouquecido, mas o transporte era muito caro.”
Já na obra, o construtor que conversou com a reportagem informou que o vagão segue para doação, mas é preciso viabilizar o transporte. Um dos vizinhos na região demonstrou interesse, mas ainda não foi buscar. É necessário um guindaste para retirar o famoso vagão do local.
Estivemos no endereço antes dele ser completamente demolido. Paredes coloridas mostram o apreço de dona Maria pelas cores vivas e pela alegria. Cada ambiente da casa tinha uma cor diferente. Cozinha com armário azul, banheiro com paredes cor de rosa, quarto amarelo com decoração artesanal até nas portas dos guarda-roupas e uma escada toda pintada à mão.
Em alguns roupeiros, restaram fotos da família. Uma delas mostra os três filhos do casal, outras mostram momentos de festa e retratos antigos. Diversos álbuns guardam fotografias das decorações que eram feitas com todo amor pela dona Maria. Algumas imagens religiosas também revelam que ali, a fé nunca faltava.
Agendas desde 1999 guardam registros de festas que foram realizadas, junto com os contatos de clientes, muitos com números fixos, que nem existem mais.
Apesar do fim de uma era, a mensagem de dona Maria a quem é mãe, pai ou familiar hoje em dia continua firme, com ou sem o prédio. “Toda mãe ou pai tem que comemorar o aniversário. O tempo passa tão ligeiro, que quando a gente vê, essa criançada já está adulta. Pode não ser em um salão de festa, mas nunca deixe passar em branco. Aniversário tem que ser alegria", disse a ex-dona, em entrevista ao Lado B, em 2017.
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