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Arquitetura

Casarão vai de uma rua à outra sem um estilo definido, mas diz muito sobre dono

Paula Maciulevicius | 30/01/2015 06:45
Com colunas inspiradas na arquitetura greco-romana, fachada da casa dá para Gal. Odorico Quadros. (Foto: Alcides Neto)
Com colunas inspiradas na arquitetura greco-romana, fachada da casa dá para Gal. Odorico Quadros. (Foto: Alcides Neto)

O casarão começa na General Odorico Quadros e acaba na Rua Da Paz. O branco imponente das colunas e a fachada que lembra, de longe, o neoclássico não passa despercebido no bairro Jardim dos Estados, em Campo Grande. Sede de famosas festas na cidade, a residência erguida pelo advogado já falecido Assaf Dib Abussafi recebeu de Xuxa à Luiza Brunet sem poupar na ostentação.

Mesmo sem ter um estilo definido, a casa falava muito sobre o seu dono. "Meu tio construiu há 40 anos. Todos os vidros de cristal belga bisotado, os lustres vieram de fora, o granito é todo de ônix italiano e o portão, foi comprado num leilão da demolição do Palácio Monroe, no Rio de Janeiro". Quem explica é o sobrinho de Assaf, também advogado Humberto Abussafi Figueiró, de 47 anos, hoje dono do casarão que funciona como escritório de advocacia. 

"Ele era sozinho, construiu aqui para a minha avó morar com ela, mas ela não quis", lembra. No terreno que vai de uma rua à outra, são 900m² e de área construída, quase 800. No total, a casa tem dois quartos em cima e um de hóspedes embaixo, além de amplas salas, um jardim e uma área tanto na frente como nos fundos de se aproveitar para festas. 

Originalmente branca, a casa chegou a ter detalhes em rosa depois que Assaf voltou de uma viagem. "Ele foi na casa do Roberto Marinho, no Cosme Velho, no Rio de Janeiro e voltou influenciado", justifica o sobrinho. A casa que serviu de inspiração tinha detalhes em salmão. 

Detalhe da porta para a sacada. (Foto: Alcides Neto)
Detalhe da porta para a sacada. (Foto: Alcides Neto)
Todos os vidros da casa são de cristal belga bisotado. (Foto: Alcides Neto)
Todos os vidros da casa são de cristal belga bisotado. (Foto: Alcides Neto)
Maçaneta de porcelana veio da França. (Foto: Alcides Neto)
Maçaneta de porcelana veio da França. (Foto: Alcides Neto)

O sobrinho conta que Assaf era um dos mais brilhantes advogados que Campo Grande já teve, viajado, era da bagagem que tirava ideias para a casa. "Ele era muito culto, muito vivido. Tinha apartamentos em São Paulo, no Rio, era super antenado e trazia das viagens dele". A maçaneta das portas, por exemplo, são de porcelana e vieram da França.

O casarão sediou festas dignas de um "bon vivant", como Humberto define o tio. Projetada pelo arquiteto Gilson de Oliveira, até hoje a extravagância encanta. "A clientela fica olhando, fala que parece as casas da Paulista, dos Jardins", descreve. 

Ao Lado B, o arquiteto Roberto Corrêa, de 62 anos, explica como foi o trabalho de projetar o imóvel. À época - 40 anos atrás - ele trabalhava como desenhista para Gilson de Oliveira e foi quem teve de pesquisar e muito para erguer as colunas.

Entre salas, jardim faz companhia à escada e dá vida à casa. (Foto: Alcides Neto)
Entre salas, jardim faz companhia à escada e dá vida à casa. (Foto: Alcides Neto)
Decoração se mantém original. (Foto: Alcides Neto)
Decoração se mantém original. (Foto: Alcides Neto)
Lustres importados enfeitam salas. (Foto: Alcides Neto)
Lustres importados enfeitam salas. (Foto: Alcides Neto)

"O Assaf era uma figura bem diferenciada, o gosto dele não era do padrão. Ele queria uma arquitetura diferente e na época, o arquiteto mais famoso de Campo Grande era o Gilson", contextualiza.

Da primeira conversa que teve com o advogado, o arquiteto já começou os rabiscos que dariam vida aos rascunhos. "Era meio greco-romano e eu fui pesquisar os tipos de colunas romanas e gregas. Foi longo, não foi rápido não", recorda Roberto.

O detalhe do muro do portão dos fundos, por exemplo, foi todo desenhado detalhe por detalhe e para a execução, era preciso acompanhar também passo a passo. "Era um pedreiro comum e que a gente tinha que dar todas as coordenadas".

Os valores ao certo, Roberto não se lembra, mas garante que muito dinheiro foi gasto em mais de dois anos de construção. "Ele era um cara receptivo e gostava desse tipo de vida e a obra chamava muita atenção, todo mundo que passava na rua, parava e a casa movimentava duas ruas", conta Roberto.

Piso é de granito ônix. (Foto: Alcides Neto)
Piso é de granito ônix. (Foto: Alcides Neto)
Casa virou escritório de advocacia. (Foto: Alcides Neto)
Casa virou escritório de advocacia. (Foto: Alcides Neto)
Nos fundos, piscina deixa evidente ares de festa. (Foto: Alcides Neto)
Nos fundos, piscina deixa evidente ares de festa. (Foto: Alcides Neto)
Feito a mão, detalhe do gesso segue inspiração greco romana. (Foto: Alcides Neto)
Feito a mão, detalhe do gesso segue inspiração greco romana. (Foto: Alcides Neto)
No teto, mesmo trabalho se faz presente. (Foto: Alcides Neto)
No teto, mesmo trabalho se faz presente. (Foto: Alcides Neto)

A fachada da casa, segundo o arquiteto, sempre foi na Rua General Odorico Quadros, onde o recuo do portão à entrada da residência fazia todo sentido para o entrar e sair de carros. "É um recuo bem grande porque ele tinha a ideia de deixar os carros entrarem e passar lá na frente, deixando os convidados na porta da casa". Para os fundos, coube a garagem e a piscina.

A grade da frente é de ferro fundido para dar cada um dos detalhes. Como por cima, o acesso pela Rua Da Paz era muito mais alto comparado ao outro lado, é preciso subir escadas para chegar da General Odorico e sair na rua dos fundos.

O advogado e dono do imóvel morreu em 2010, segundo o sobrinho, aos 82 anos. Humberto até já recebeu propostas para a venda, mas negou. "Eu quero manter a tradição".

De ferro fundido, portão traz riqueza nos detalhes. (Foto: Alcides Neto)
De ferro fundido, portão traz riqueza nos detalhes. (Foto: Alcides Neto)
Fundos de casarão sai na Rua Da Paz. (Foto: Alcides Neto)
Fundos de casarão sai na Rua Da Paz. (Foto: Alcides Neto)
Ferragem veio de Palácio Monroe, demolido no Rio de Janeiro. (Foto: Alcides Neto)
Ferragem veio de Palácio Monroe, demolido no Rio de Janeiro. (Foto: Alcides Neto)
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