Casinha de madeira protege lição de amor de 2 irmãs chamadas Maria
Com mais de 50 anos, forrada de madeira do teto ao piso, casa verdinha é um pouco da alma do Jardim Paulista
Na Rua São Cosme e Damião, a casa de madeira de mais de 50 anos, hoje, protege a devoção de uma irmã pela outra. No Bairro Jardim Paulista, em Campo Grande, embora seja simples, a casa conserva um charme único, que muitos prédios chiques da cidade jamais terão. Pintada na cor verde, o tom é o mesmo do extenso portão e combina com o jardim composto por flores e árvores, cuidado com capricho.
No local, moram as irmãs com quase o mesmo nome. A mãe era devota de Nossa Senhora Aparecida. Maria de Lurdes, 74 anos, é a proprietária da casa que, desde março, vive na companhia da irmã, Maria de Fátima, 65 anos.
Fátima, como prefere ser chamada, saiu de São Paulo (SP) para cuidar da irmã mais velha, que neste ano, apresentou os primeiros sintomas de Alzheimer. Hoje, elas passam o dia ouvindo música, conversando, arrumando a casa e inventando outras coisas para passarem o tempo.
O crochê é uma das atividades que compartilham no cotidiano, enquanto curtem a sombra formada graças a parreira de guaco do quintal. “Minha irmã gosta muito do crochê, tive que aprender para ficar perto dela e incentivá-la. Eu vou lendo a revista, entendendo e falando pra ela”, conta.
Maria ouve sertanejo direto no radinho de pilha, mas anos atrás, preferia escutar os discos de vinil, que com o tempo, viraram objeto decorativo, pois a vitrola estragou. Dos antigos hábitos, Maria mantém a dedicação com a aparência e faz questão de estar arrumada e cheirosa em qualquer ocasião.
Quando não estava conseguindo mais manter tudo em ordem, Fátima chegou para ajudar. “Ela sempre teve muito gosto. Dentro de casa, as coisinhas são muito finas, ela sempre cuidou muito. Ela gosta da casa bem limpinha, não estava dando conta e essa foi a minha preocupação. Eu não poderia a deixar nesse momento, então, vim ficar com ela”, afirma.
Na área interna do imóvel, peças antigas de madeira, como estantes, armários, guarda-roupas, cama e mesa de jantar estão espalhados nos quatro cômodos. Outro detalhe que chama atenção é que todos os ambientes ganharam forro de madeira do teto ao piso.
A característica é algo que Fátima elogia e destaca como a mais diferente em comparação a outras construções que apresentam o mesmo material. Ela fez questão de mostrar cada pedacinho da residência da irmã. “É muito especial, porque não existe uma casa que é forrada de cima a baixo. Ela sempre deixa impecável a casa dela, são todos móveis muito antigos, mas super confortáveis”, diz.
Depois do passeio entre as divisões da moradia, Fátima levou o Lado B para conhecer a Maria, que estava confortavelmente sentada na cadeira de fio. Ao ouvir o elogio de que a casa era muito bonita, Maria foi só sorrisos e risadinhas abafadas.
No momento da entrevista, Maria segurava um par de pequenas argolinhas e esperava auxílio para poder colocá-los. Ela disse que gostava de dançar e nessa hora, a irmã revelou que ambas planejam visitar a Colônia Paraguaia. “Lá toca músicas regionais, mas ela quebrou a bacia e o fêmur tudo do mesmo lado, então, estamos vendo um jeito”, explica Fátima. Sem demora, a dona da casa riu e complementou a frase da irmã. “Se quebrar, vou virar saci”, brinca.
Ao final da conversa, Maria ficou feliz ao saber que a casa onde viveu com o marido e os dois filhos, um deles já falecido, seria vista por outras pessoas. “Essa casa não pode nem tirar daqui, senão, despedaça”, ri. Em seguida, se despediu e acrescentou. “Aparece, viu?!”.
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