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Arquitetura

Centenário, prédio foi usado até para convencer que Capital era moderna

Elaborada como quartel, construção completa 100 anos nesta semana e se transformou em centro cultural

Aletheya Alves | 21/09/2022 06:15
Registro da década de 1930 mostra o prédio Mello e Cáceres pouco tempo depois de fundado. (Foto: Reprodução/IBGE)
Registro da década de 1930 mostra o prédio Mello e Cáceres pouco tempo depois de fundado. (Foto: Reprodução/IBGE)

Na década de 1930, o antigo "Quartel da Afonso Pena" já foi usado até para convencer de que Campo Grande não tinha ficado parada no tempo durante o século passado. Completando 100 anos de sua construção nesta semana, o espaço foi um marco na arquitetura regional e guarda as lembranças da época até hoje em suas portas e janelas.

Desde 2018, o Prédio Mello e Cáceres, localizado entre a Rua Rui Barbosa e a Treze de Maio, abriga o centro cultural do Sesc. Quem chega ao endereço é recebido por uma biblioteca e exposição permanente de Conceição dos Bugres, em um espaço que ganhou sentidos totalmente diferentes dos que foram pensados no século passado.

Se mantendo firme, a escadaria original de madeira continua por ali e, adentrando o local, as lembranças do quartel são destacadas com itens que contam a história da presença militar, além do brasão na fachada do prédio. Nesses cem anos, as paredes já foram brancas, receberam muita poeira da época sem asfalto, ganharam tintagem amarela, até que foram tomadas por um azul claro.

Hoje, o espaço na Avenida Afonso Pena é a unidade Sesc Cultura. (Foto: Kísie Ainoã)
Hoje, o espaço na Avenida Afonso Pena é a unidade Sesc Cultura. (Foto: Kísie Ainoã)
Foto aérea de 1936 na Afonso Pena, em que a construção aparece parcialmente no canto superior direito. (Foto: Arca/Folha da Serra)
Foto aérea de 1936 na Afonso Pena, em que a construção aparece parcialmente no canto superior direito. (Foto: Arca/Folha da Serra)
Vista aérea do prédio Mello e Cáceres, centralizado no registro da época. (Foto: Arca)
Vista aérea do prédio Mello e Cáceres, centralizado no registro da época. (Foto: Arca)

Arquiteto e Urbanista, João Santos conta que o terreno cedido pela prefeitura da cidade em 1922 viu marcos da modernidade chegando ao município para que a construção fosse feita. Criado para abrigar o primeiro quartel do município, o prédio foi pioneiro ao contar com equipes de engenheiros e arquitetos na cidade.

Enquanto hoje os detalhes estruturais do prédio são ilustrações de um período ultrapassado, no ano em que foi construído era sinal de que a modernidade tinha chegado a Campo Grande.

De acordo com João, a construção é considerada o primeiro edifício de dois pavimentos que envolveu equipes de engenharia e arquitetura. Enquanto a Morada dos Baís foi feita por construtores não vinculados à academia, ele relata que o Mello e Cáceres envolveu essa conexão com os grandes centros.

Visitantes são recebidos pela biblioteca da unidade. (Foto: Kísie Ainoã)
Visitantes são recebidos pela biblioteca da unidade. (Foto: Kísie Ainoã)
Antigo quartel se tornou espaço que abriga exposição de Conceição dos Bugres. (Foto: Kísie Ainoã)
Antigo quartel se tornou espaço que abriga exposição de Conceição dos Bugres. (Foto: Kísie Ainoã)

E, demonstrando que as inovações trazidas pela antiga Companhia Construtora de Santos fizeram diferença no cenário da cidade, o arquiteto conta que só a existência do prédio já era um bom indicador para atrair novos moradores.

“Nos anos de 1930, ele era usado como um chamariz para convidar as pessoas para morar na cidade. Existem alguns anúncios de venda de lote na região da Vila Célia em que se marcavam na legenda vários pontos importantes da cidade, o número 1 era o edifício”, conta João.

Em conjunto à questão arquitetônica, ele detalha que a vinda do Exército, naquela época, também trazia um prestígio. “Esse prédio retira um pouco a ideia de atraso que Campo Grande ainda poderia ter nos anos de 1930 e, com o passar do tempo, foi criando memórias afetivas”.

Prédio em detalhes

“Construção de um grande edifício, parte sobrado, parte térreo; um pavilhão de baias para 20 animais; garagem; depósito, fossa, esgoto, água e luz”. É assim que o edifício foi definido o documento “O município de Campo Grande em 1922”, do então prefeito Arlindo Gomes, como aponta João sobre a percepção inicial do espaço.

Por ter sido construído no mesmo ano da Semana de Arte Moderna, o arquiteto relata que o prédio também é um dos exemplos do que o modernismo resultou no Brasil. No caso do atual Sesc Cultura, o estilo usado ilustra bem isso.

Escadaria, vitral e lustre são lembranças que remetem à história. (Foto: Kísie Ainoã)
Escadaria, vitral e lustre são lembranças que remetem à história. (Foto: Kísie Ainoã)
Janelas e portas guardam os detalhes do tempo em que foram alocadas. (Foto: Kísie Ainoã)
Janelas e portas guardam os detalhes do tempo em que foram alocadas. (Foto: Kísie Ainoã)
Itens e detalhes em madeira, usando de formas geométricas são marcas do estilo. (Foto: Kísie Ainoã)
Itens e detalhes em madeira, usando de formas geométricas são marcas do estilo. (Foto: Kísie Ainoã)

“Os anos de 1920, em Campo Grande, abrangem um período em que tivemos maior concentração de edifícios no estilo chamado Ecletismo. Ele é um estilo de arquitetura que mistura tudo e vira um estilo mais diverso, mais livre”, explica o arquiteto.

Observando esse estilo no Mello e Cáceres, João detalha que uma das características é a simetria da construção. “Se passar uma linha no meio e dividir, as duas partes são iguais. Onde há porta de um lado, tem do outro, onde tem janela, no outro também tem”.

Além disso, as molduras nas janelas e portas também são sinais da época, assim como a escada central em madeira, presente em outras construções do período, e o balcão frontal.

Simetria é notada ao observarmos os dois lados da construção. (Foto: Kísie Ainoã)
Simetria é notada ao observarmos os dois lados da construção. (Foto: Kísie Ainoã)
Balcão na fachada é mais um dos detalhes que remetem à arquitetura da época. (Foto: Kísie Ainoã)
Balcão na fachada é mais um dos detalhes que remetem à arquitetura da época. (Foto: Kísie Ainoã)

Se tornando novo lar

Em 1922, a obra foi criada para sediar a 1ª Circunscrição Militar, que era uma divisão administrativa do Exército e, depois, passou a se chamar 9ª Região Militar. Entre 1984 e 1994, o espaço foi emprestado para o Governo de Mato Grosso do Sul e se tornou o Quartel da Polícia Militar.

Já em 1994, foi declarado patrimônio histórico e, em 1995, se tornou a sede do Colégio Militar até o ano seguinte. Já em 1997, voltou a ocupar o espaço a 30ª Circunscrição do Serviço Militar e, tempos depois, ali foi feito o Museu das Forças Expedicionárias Brasileiras.

No período entre 2001 e 2003, o prédio ainda foi usado como Escritório da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra e a Fundação de Cultura do Exército, de acordo com o capitão.

Espaço Cultural Mello e Cáceres é lembrança das origens históricas relacionadas ao Exército. (Foto: Kísie Ainoã)
Espaço Cultural Mello e Cáceres é lembrança das origens históricas relacionadas ao Exército. (Foto: Kísie Ainoã)

Gestor do Espaço Cultural Mello e Cáceres, o Capitão José Lourenço Parreira conta que acervo do Museu foi doado pelo já falecido Agostinho Gonçalves da Mota, mas os objetos foram realocados. Hoje, estão no museu do 9º BECmb, em Aquidauana, e no Colégio Militar de Campo Grande.

Por isso, o Espaço Cultural dos militares é reservado para contar a história da presença militar na fronteira oeste.

E, em relação ao nome do prédio, o capitão explica que foi uma homenagem.

"A denominação de Prédio Mello e Cáceres é uma homenagem ao mais importante Capitão General de Mato Grosso: Luís de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres. Foi o quarto Capitão General e, sábio e estrategista, fez suas realizações fundando cidades e Fortalezas, garantiu a grandeza da Fronteira Oeste", detalha Parreira.

Vestimentas e elementos que compõem detalhes cívicos e militares estão ali presentes. (Foto: Kísie Ainoã)
Vestimentas e elementos que compõem detalhes cívicos e militares estão ali presentes. (Foto: Kísie Ainoã)

Além do prédio principal, o gestor explica que a presença do Exército segue por ali. "Atualmente, atrás do centenário edifício, tem um prédio moderno no qual funciona o Escalão de Apoio Assistencial do Comando da 9ª Região Militar, cujo Chefe é o Coronel Milton Costa. Já o comandante da 9ª Região Militar é o Coronel Carlos Alexandre de Souza", diz.

Destacando que, assim como é um dos símbolos cívicos e militares do País, a construção também é vista por Parreira como mais uma das belezas da cidade. "Ele é um poema de amor às gerações pretéritas, atual e vindouras. O Prédio Mello e Cáceres e os demais quartéis construídos nessa época em Campo Grande eram o que havia de mais moderno na arquitetura no alvorecer do século XX! Portanto, influenciou e incentivou a modernidade das construções na cidade. Por esse prédio passaram os mais significativos nomes do Brasil".

Por último, o antigo quartel da Afonso Pena foi transformado em espaço cultural devido à chegada do Sesc. E, destacando a importância desse espaço continuar em movimento, João Santos completa que preservar e ocupar os prédios históricos e um grande ganho.

“Preservar essa história é nossa maior riqueza, aquilo que mais devemos guardar. Não é congelar o edifício, mas fazer com que seus usos se atualizem. Então, quanto mais pessoas subindo as escadarias, tendo mais acesso, mais ganhos”, diz o arquiteto e urbanista João Santos.

Comemoração do centenário

Em celebração ao marco, o Sesc irá promover um videomapping na fachada do prédio às 18h de quinta-feira (22). Durante o evento, a banda do Comando Militar do Oeste, Orquestra Jovem Sesc Lageado e Coral Sesc Lageado irão se apresentar, assim como o Capitão José Lourenço Parreira.

No dia seguinte, haverá projeção na fachada e apresentação de um minidocumentário sobre a história do prédio e uma roda de conversa sobre Patrimônio Histórico e Arquitetura. Irão participar João Santos, André Samambaia e Mauro Abdala.

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