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Arquitetura

Cleusa foi notificada, mas segue vivendo sem muro no Aero Rancho

No Aero Rancho, uma gaúcha decidiu viver sem muro e ter um jardim charmoso para matar a saudade do Sul

Thailla Torres | 09/02/2022 08:02
Entre diversas residências com muro de alvenaria, Cleusa mora numa casa com jardim lindo e sem muro. (Foto: Henrique Kawaminami)
Entre diversas residências com muro de alvenaria, Cleusa mora numa casa com jardim lindo e sem muro. (Foto: Henrique Kawaminami)

O muro de alvenaria ou as grades dominam residências de Campo Grande há anos. Muitas sob a justificativa da privacidade e segurança. Ao passar em uma rua do Bairro Aero Rancho, encontramos uma casa com jardim encantador e o primeiro questionamento foi: Quem é a pessoa que decidiu viver numa casa lindinha dessa sem muro?

A resposta veio logo depois que gritamos “ô de casa”. Lá do fundo, veio Cleusa Mohr, de 51 anos, uma gaúcha sorridente que parou sua fritada de bifes na hora do almoço só para nos atender com a maior simpatia.

Cleusa também usa madeira na janela e na decoração para lembrar as casas do interior. (Foto: Henrique Kawaminami)
Cleusa também usa madeira na janela e na decoração para lembrar as casas do interior. (Foto: Henrique Kawaminami)

Quando pergunto sobre a escolha de morar numa casa sem muros e com jardim tão bem cuidado, os olhos até brilham para responder. “Eu sou gaúcha, do interior do Rio Grande do Sul, lá não tinha casa com muros, no máximo, um cercadinho de madeira. Eu não consigo morar trancada atrás de um muro”, revela.

Ela diz que chegou a ser notificada uma vez, porque o hidrômetro não estava para a rua, mesmo a casa sendo aberta, por isso, ela fez um muro pequeno para instalação do hidrômetro, mas o tampou plantando mini ixora, uma planta linda que se transformou no “mini muro vivo da casa”.

Nos últimos anos, ela tem reformado a residência e colocado na decoração elementos que lembrem sua origem, como uso da madeira nos móveis, nas vigas e no portão de madeira branca para a garagem.

Já o jardim é a parte mais especial para Cleusa. Virou terapia e ambiente de memórias, especialmente, nos últimos dois anos de pandemia, onde ela se viu obrigada a se reinventar.

Na residência, tem dois gatos que ela ama e são os xódos da família. (Foto: Henrique Kawaminami)
Na residência, tem dois gatos que ela ama e são os xódos da família. (Foto: Henrique Kawaminami)

Até o início de 2020, ela trabalhava com transporte escolar. Durante anos, levou e buscou a criançada nas escolas, mas com a pandemia e o afastamento das aulas presenciais, ela ficou sem trabalho. “Então, busquei uma nova profissão aos 51 anos, hein”, diz toda orgulhosa.

Cleusa foi aprender massoterapia e, em breve, vai começar a atender na própria residência. Ela já até fez da antiga varanda uma recepção charmosa e um dos quartos virou espaço para atendimento. “Assim que estiver com meus cursos finalizados, vou transformar a vida das pessoas trazendo um pouco de paz, saúde, leveza no dia a dia”.

Mas, por enquanto, ela estuda e treina bastante, enquanto mantém o jardim impecável, que tem uma variedade de flores e atrai diariamente diversas borboletas.

Uma das plantas é muito especial para Cleusa, foi muda que ganhou da mãe de uma das alunas que transportava. “Foi da mãe da Vitória. Eu nem sei o nome da planta, mas ela me deu uma mudinha e viraram duas árvores lindas, com uma flor delicada que parece seda, toda vez que eu olho, lembro com carinho dos alunos que eu levava para escola, bate uma saudade”.

A planta na qual Cleusa se refere se chama Clusia, planta de folhas ovaladas e verde muito brilhante.

Clusia, planta de folhas ovaladas e verde muito brilhante que Cleusa adora e ganhou da mãe de uma aluna. (Foto: Henrique Kawaminami)
Clusia, planta de folhas ovaladas e verde muito brilhante que Cleusa adora e ganhou da mãe de uma aluna. (Foto: Henrique Kawaminami)
Na garagem, há somente um portão baixo de madeira. (Foto: Henrique Kawaminami)
Na garagem, há somente um portão baixo de madeira. (Foto: Henrique Kawaminami)
Jardim atrai muitas borboletas. (Foto: Henrique Kawaminami)
Jardim atrai muitas borboletas. (Foto: Henrique Kawaminami)

Questionada se ela não teme pela falta de privacidade ou segurança morando sem muro, ela dá risada. “De jeito nenhum”, diz. “Assim é que eu me sinto feliz, além disso, nossos vizinhos são maravilhosos, conhecemos todos da região e nem sempre muro significa segurança. Também gosto de ver a casa assim, aberta, é como se eu trouxesse um pouquinho do meu Sul pra cá”.

Casada há 22 anos e mãe de um filho jogador futebol, Cleusa é natural de Santo Augusto e se mudou menina pra cá quando o pai veio trabalhar com a agricultura.

Na despedida, ela ainda mandou um recado. “A gente só não consegue realizar sonhos quando se desiste antes. Tudo aquilo que está no seu coração pode ser realizado se tiver coragem e determinação", diz emocionada, ao lembrar que vai recomeçar na vida profissional e fazer um convite para que a reportagem volte e desfrute da sua massagem.

Fachada é aparente e dona diz que se sente mais livre assim. (Foto: Henrique Kawaminami)
Fachada é aparente e dona diz que se sente mais livre assim. (Foto: Henrique Kawaminami)

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