Com branco preservado na fachada, edifício de 40 anos mantém estilo grego
Não falta quem narre com gosto a graça do edifício Polaris. Com estrutura toda branca, desde os anos 70 e 80, o prédio fez surgir na Rua 15 de Novembro talvez o único edifício da cidade inspirado na arquitetura grega. Estilo que chama atenção até hoje graças a resistência de moradores que nunca aceitaram colorir o edifício para não perder o estilo que lembra os paraísos mediterrâneos.
"Pra mim ele é um dos prédios mais bonitos da cidade, pelo tamanho, pela estrutura", elogia o arquiteto Celso Costa, autor do projeto. Ele explica que na época em que ouve um "boom" da verticalização na cidade, o edifício veio com a proposta de conforto e estrutura rígida, características de uma boa construção, mas o desafio do cálculo. "Aquela região era difícil para construção, por causa do solo, era sempre um problema fazer o cálculo estrutural, mas quem fazia na época se dedicava muito e o investimento maior era em estrutura".
A Construmat Engenharia foi a responsável por erguer o Polaris e a construtora de edifícios tradicionais em Campo Grande. Os projetos, em sua maioria, foram elaborados pelos arquitetos Celso Costa e Eudes Costa, "assim como o Concorde, Vanguard e Apolo", lembra Celso.
Na memória, o estilo surgiu dos estudos de Celso e Eudes na época sobre a Grécia. "A construtora nos dava total liberdade. Apenas diziam o tamanho do apartamento e chegávamos com nossos projetos. Esse, na certa, foi um período em que eu estava estudando algumas edificações da Grécia. Hoje, aparentemente, ele é o único todo branco de Campo Grande".
Para manter a originalidade e a imaginação de quem vê nas janelas curvadas um pedacinho do estilo grego mediterrâneo em Campo Grande, o prédio nunca foi pintado de outra cor. Preservação que o arquiteto elogia. "Eu fico feliz e vejo como bom gosto. Quando pintam um edifício sem consultar é um desastre, pelo menos pra mim. E o Polaris é um dos prédios mais bonitos".
O prédio de 20 andares que demorou cerca de 11 meses para ficar pronto foi inaugurado em 1978 com 34 apartamentos e duas coberturas. Além da estrutura e estilo, o que chamava atenção era o espaço, com cerca de 172 metros quadrados de área privativa aos moradores. Tamanho característico da época em que houve uma modernização da construção civil na cidade.
Outro detalhe da arquitetura ficava por conta dos arcos das janelas e da fachada que até 2002 era exposta e chamava mais atenção. Até que ganhou grade frontal e na última reforma, finalizada em 2014, os vidros temperados passaram a fazer parte da guarita que também foi construída. "Antes a portaria era no hall de entrada do prédio, próximo aos elevadores", explica a síndica Ione Albuquerque, uma das moradoras mais antigas do edifício.
Apesar de duas grandes reformas, foram poucas transformações no edifício. A diferença fica no térreo, que durante anos foi a casa do zelador, e hoje deu lugar a uma área gourmet. "Porque ninguém mais mora no trabalho, essa é um realidade antiga, os trabalhadores tem suas casas e família", justifica.
Os sentimentos eram mistos quando ela e o marido chegaram a Campo Grande pela primeira vez em 1987 e avistaram a beleza do edifício. "Eu estava visitando a cidade para decidir se ia morar. Foi quando meu marido passou pela Joaquim Murtinho e de lá vi aquele prédio branco, me apaixonei".
À época anterior a compra, o marido de Ione deseja morar em uma casa. "Até moramos em casas, mas chegou um momento em que eu desejava ter um apartamento", diz. Foi quando souberam da venda de uma cobertura no Polaris e o esposo comprou o imóvel sem olhar. "Eu brinco que foi paixão à primeira vista", acrescenta.
Uma década depois Ione virou síndica e passou a preservar os detalhes que mexe com a imaginação de quem olha as janelas da rua. "Há muito tempo cogitou-se colorir o edifício, mas depois de muita conversa, inclusive, com arquitetos, moradores chegaram a conclusão que a beleza do nosso prédio estava na cor branca".
Há dois anos, Ione visitou a Grécia e garante que Polaris tem um pouquinho daquela arquitetura clássica que inspira. "Lá é assim, tudo branco, com esses arcos semelhantes as nossas janelas. Confesso que me senti em casa, arquitetonicamente falando".
Além de beleza, o branco tem traduzido a paz no prédio, pelo menos é o que acredita o advogado José Luiz Saad, de 60 anos, que viveu cerca de 12 no edifício. "O branco traz calma e sempre tive muita tranquilidade no prédio", conta. "Outra característica é que são quase 200 metros quadrados de área. Se fosse em São Paulo, isso seria uma fortuna. Então eu acho excelente, hoje é difícil encontrar um prédio que tenha o conforto como esse".