Com edifício que parece flutuar, projetos de MS estão na Bienal de Arquitetura
Projetos do arquiteto Gil Carlos de Camillo representam o Estado em um importante evento de arquitetura da América Latina
Até quem não entende de arquitetura olha e sabe que o projeto é diferente, chama a atenção e gera curiosidade. Em Mato Grosso do Sul, três projetos com essas características agora estão na 17ª edição Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires, que começou nesta quarta-feira (15) e segue até o dia 26 de outubro.
As obras são assinadas pelo arquiteto Gil Carlos de Camillo e estão representando o Estado em um dos mais importantes eventos de arquitetura da América Latina. São elas, o prédio do Sebrae de Bonito, o prédio do Centro de Inovação do Sesi, na avenida Afonso Pena e o prédio da Central de Atendimento ao Cidadão, na Rua Cândido Mariano, em Campo Grande.
Este ano, os curadores do evento decidiram convidar também arquitetos com projetos em outros estados, fora do tradicional eixo Rio-São Paulo. Gil foi convidado por um dos co-fundadores e curadores do evento, Vicente Wissenbach. “A curadoria escolheu o Sebrae de Bonito e me pediram mais duas obras. Decidi pela Central de Atendimento ao Cidadão e o Centro de Inovação do Sesi, por que são prédios que se relacionam em sua linguagem e conceito arquitetônico”, detalha.
Os três projetos se enquadram na arquitetura contemporânea que presa pela sustentabilidade e acessibilidade. “Hoje em dia a sustentabilidade e acessibilidade são um norte indispensável na arquitetura, não tem como pensar os projetos sem levar em consideração esses dois fatores”, explica o arquiteto.
Com 30 anos de carreira, Gil avalia que a participação no evento abre portas e destaca a arquitetura sul-mato-grossense. “Participar de mais uma exposição internacional vem como um presente. Dá uma boa visibilidade, o trabalho tem um alcance maior, abre perspectivas para outras exposições e outras oportunidades profissionais, além de divulgar a arquitetura sul-mato-grossense, que é muito boa”.
Obras – Localizada em Bonito, a 265 quilômetros da Capital, a sede do Sebrae que foi concebida para dar suporte às micro e pequenas empresas que vem surgindo na região é um dos projetos mais chamativos e traz referências dos atrativos naturais da região, “onde a transparência e a tonalidade das águas são aspectos singulares”, explica Gil.
Na elaboração do projeto procurou-se intervir minimamente no perfil natural do terreno que possui triangular em aclive com área de 6.771,26 m².
O edifício sugere flutuar sobre o espelho d’agua, revestido em pastilhas de porcelana verde que remete ao tom das águas do Rio Formoso, principal afluente do município.
Com intuito de diminuir o impacto ambiental do processo construtivo, o arquiteto explica que sua estrutura foi concebida predominantemente em treliças e pilares metálicos. “Planos inclinados em vidro insulado eco-lite diminuem a incidência solar nos ambientes. Vedações externas têm e isolamento térmico. Já os interiores, revestidos em gesso acartonado. Aberturas lineares na extremidade do piso em balanço sobre o espelho d’água, e o lanternim junto a cobertura termo-acústica promovem a purificação do ar diminuindo a necessidade de acionamento de sistemas de ventilação mecânica no lobby”, detalha.
O edifício também possui painéis fotovoltaicos e sistemas para reutilização de águas pluviais em 718,40 m² de área construída distribuídos em dois níveis. O lugar abriga setores administrativos, salas de treinamento internas e externas e lobby, concebido como espaço multiuso para receber a comunidade quando necessário.
Na principal Avenida de Campo Grande, o edifício do Sesi SST é um dos projetos que também representa o Estado na exposição. Foi concebido, segundo o arquiteto, para abrigar o programa de gestão qualidade em saúde e segurança do trabalhador do Serviço Social da indústria do Brasil.
Possui três pavimentos disponibilizados em torno de um eixo. Os dois primeiros voltados ao atendimento externo e o último ao expediente interno. Sua volumetria distingue o andar administrativo e expõe a declividade da laje dos anfiteatros, variando o pé-direito no acesso principal, de frente para Avenida Afono Pena.
A Central de Atendimento ao Cidadão, com entrada principal na Rua Cândido Mariano, tem seu acesso através de um amplo pé direito triplo. “Considerando a finalidade institucional, sua tipologia se expressa através da sequência estrutural que se declara nas fachadas”, explica Gil.
O pequeno número de andares solicitado pelo contratante para estimular a circulação vertical independente de elevadores, fez o arquiteto optar por uma arquitetura que em parte, “ocultasse” o reduzido número de pavimentos e “expressasse formalmente a importância da edificação”, diz.
A solução encontrada para maiores espaços no térreo frente aos outros pavimentos foi um “edifício que brota do chão com uma grande face inclinada revestida por telhas metálicas pré-pintadas”, detalha. “Evitando uma solução convencional”.
Para driblar o calor severo da região, aberturas predominam para norte e sul.
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