De 1970, casa de fazendeiro resiste, com varanda que recebia amigos para mate
Na quadra que antecede a Afonso Pena, apenas uma única casa preserva como foram as décadas passadas da Rua Pedro Celestino. Os dois coqueiros ainda estão lá e o jogo de mesas também, como quem espera Licínio e os amigos para um mate, costume do fazendeiro que ergueu moradia ali nos anos 70.
Quem atende a porta é a sobrinha do dono, que se criou ali, dona Leonir Ferro de Oliveira, de 86 anos. "Essa casa é de Licínio Rodrigues de Oliveira, um fazendeiro já morto e também da sua esposa, Maria Rodrigues de Oliveira", apresenta a senhorinha.
O casal teve dois filhos, perdeu um e a casa ficou de herança para dona Genésia. "Se mudou? Nunca, nunca mudou". A pergunta, depois de respondida, funciona como um start para voltar ao tempo. A reforma iniciada por dentro, quando for para a parte externa, ficará só na troca do piso, garante dona Leonir.
"Nunca mexeu porque meu tio falava - ele também tinha uma fazenda no Pantanal - 'a única coisa que eu quero: nunca vou sair dessa casa e nem da fazenda'. Então ele morreu e a casa ficou para a filha", recorda a sobrinha.
Toda vida dona Leonir morou na região e há dois meses está na casa. Então conta as histórias como quem repassa as cenas. "Meu tio era apaixonado por esses coqueiros, não sei, era diferente para ele. Ele ficava muito aqui, vinha a família toda, amigos para tomar mate. O point era tomar mate ali e reunir", aponta para a varanda.
Antes de morrer alguns anos atrás, aos 97, seu Licínio teve um infarto e sofreu 13 anos com as sequelas.
"E como era aqui? A mesma coisa. Essa casa ao lado era da Maria Constança de Barros Machado, essa aqui, do seu Abdo, ele quem trouxe a Ford para cá. De lá, uma outra família e por último, do seu Firmo Barbosa", enumera a quadra todinha.
A construção da casa foi feita pelo pai dela, seu Sebastião Moreira Ferro, que à época era construtor. O projeto, veio de um amigo da família e renomado arquiteto, Celso Costa. A sacada da fachada vem do quarto que era de seu Licínio, uma suíte. No pavimento superior, ficaram todos os quartos que percorrem a lateral até o fundo. Embaixo, uma sala ampla que se dividia em três ambientes.
Na memória do arquiteto, Celso Costa também busca remontar a passagem do projeto. "Tem muito tempo, é porque eu sou da região de Coxim e o Licínio também era. Tínhamos um conhecimento muito anterior. Ele era amigo do meu pai", conta Celso, hoje com 75 anos.
Da amizade grande veio o convite para o projeto logo que o arquiteto se formou. "Ele me procurou para fazer o projeto, foi mais pela amizade", afirma. A fachada, que parece pastilha era revestida por uma espécie de "pedrazinha", assim descreve o autor do projeto.
"Naquela época era uma moda e o pessoal usava muito. Ela, por algum tempo, foi uma das casas mais bonitas de Campo Grande. Por que? Porque ficou muito bem feitinha", brinca - modestamente - Celso Costa.
O ar moderno transparecia no imóvel antes mesmo de ser tendência. "Esse moderno até está no País desde 1922, quando começou essa nova linha arquitetônica mais moderna para a arquitetura e parece recente, mas é muito antiga", conta.
Para fazer a casa, Celso fala que foi rápido, porque os recursos para materiais e mão de obra não faltavam. "Não acredito que tenha levado nem um ano. Se eu fui àquela casa? Muitas vezes, na época, muitas vezes, pela amizade que nós tínhamos".
Dona Leonir, a sobrinha, relembra que dos coqueiros do tio, quando florescem as orquídeas, há quem pare até hoje para fotografar.