Do casarão de Bernardo Baís, ficaram a fachada e os móveis entre netos
Em investigação pelo MPE (Ministério Público Estadual) desde novembro do ano passado, do casarão de Bernardo Carvalho Baís e Magdalena Ferraz Baís, restam a fachada e os móveis que decoravam a casa e foram divididos entre os herdeiros. Em outubro, o Planurb (Instituto Municipal De Planejamento Urbano) verificou alterações não autorizadas no imóvel e municiado de laudos técnicos e fotográficos, o Ministério Público, através da 26ª Promotoria, abriu inquérito para investigar dano ao patrimônio histórico e cultural, devido à demolição parcial da casa. A obra, à época, foi embargada.
O imóvel pertenceu à família Baís até 2013, depois foi vendido para os proprietários da conveniência Alemão, que no mesmo ano da compra, entraram e tiveram negado o pedido de demolição da casa para ampliação do estacionamento do comércio.
A casa está na Zeic (Zona Especial de Interesse Cultural) e elencada na Lei 161/2010, como bem de interesse para preservação histórica e cultural, que precisa de autorização do poder público para qualquer alteração. Uma demolição, mesmo que parcial, já configura crime contra o patrimônio público.
Os laudos do Planurb, comparam como o imóvel era em 2013 e como está mais recentemente, em 2015. Na obra para ampliação do estacionamento, os donos atuais demoliram 87,53m², que correspondiam do muro e portão dos fundos até parte da cozinha.
A construção, segundo levantamento da Divisão de Planejamento para Proteção de Patrimônio do Planurb, é de 1930 e tem um total de 1.104 m². A fachada hoje verde e que ainda sustenta uma placa da pousada que ali funcionou, está deteriorada, porque além da demolição, o inquérito mostrou também a falta de manutenção.
Na planta, a casa tinha uma varanda, um terraço, duas salas, um escritório, duas copas, três quartos, uma cozinha e nos fundos, ainda garagem para cinco carros, dispensa, quarto de empregada e um banheiro.
Elementos da arquitetura misturam, ora detalhes do artdécor, ora caminham, especialmente na varanda, pelo estilo gótico, barroco e clássico, através das colunas e também no guarda-corpo. As janelas venezianas se abriam para fora e a construção tinha uma peculiaridade, a casa era elevada em relação ao solo, como se vê até hoje a preservação de grades ao longo da construção que faziam circular ventilação. As telhas já desgastadas pelo tempo e falta de cuidado eram cerâmicas tipo francesas. A planta também trazia um recuo lateral direito considerado generoso, mais um detalhe de Bernardo Carvalho Baís.
A lembrança da casa está nítida ao neto Carlos Frederico de Souza Baís, hoje com 63 anos. "Eles construíram por volta de 1927, o Vespasiano morava na esquina do lado e era cunhado do meu avô", conta. Da parte de dentro, o engenheiro civil se recorda da sala de jantar conjugada e que depois de um arco já vinha outra sala.
"Mais no fundo tinha um terreno grande, com manga, pêssego, laranja, jabuticaba", lembra. O terreno virava campinho de futebol dos meninos quando crianças. A casa com cores entre o branco e o bege recebiam todo domingo os filhos de Bernardo e Magdalena para os almoços de família.
Dos móveis, Carlos ficou com dois balcões que compunham a sala dos avós, um deles, com uma mini-cristaleira. Sempre caprichosa das salas até o jardim, parte da decoração de Magdalena foi dividida entre filhos e netos.
Obras recentes - O vai e vem de pedreiros no imóvel é, segundo a gerência da conveniência Alemão, para a colocação da caixa d'água e instalação do projeto hidráulico e de incêndio do comércio. Parte do terreno que pertenceu à família Baís é hoje usada como estacionamento, mas não para clientes. O gerente, Edson Barbosa, frisou ao Lado B que demolir, só com autorização da prefeitura.
O inquérito no Ministério Público caminha para um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) como já foi firmado anteriormente com o Edifício José Abrão, onde funcionou o Hotel Americano. Se assinado, os donos atuais se comprometem, dentro de um prazo estipulado a recuperar e reconstruir o que foi demolido, além de fazer toda manutenção da casa.
*O conteúdo desta reportagem teve o apoio do arquiteto da Divisão de Planejamento para Proteção de Patrimônio do Planurb (Instituto Municipal De Planejamento Urbano), Fernando Batiston.