Fachada tem tuiuiús, araras e até jacarés feitos pelo dono da casa
Levi mora no lugar há 30 anos e cria peças com isopor, resina e ferro
A Rua Clevelândia seria só mais uma entre as várias da cidade, mas a casa do artista plástico Levi Batista, 60 anos, trouxe um ar de extraordinário e curioso para ela. Na calçada, você encontra arara, tucano, capivara, onça-pintada, coruja, gavião, jacaré, boi, cavalo e um enorme tuiuiú.
Morando há 30 anos no Bairro Jardim das Hortências, Levi construiu sem ajuda todas as estruturas coloridas que dominam a fachada da residência. Feitas de ferro, resina e isopor, as obras refletem o talento e habilidade que o artista tem.
Além da fachada, o artista também elaborou outros animais que decoram a área interna da residência. No jardim, próximo ao lago em reforma, ele fez um peixe amarelo, um jacaré azul, um cisne e uma anta. Escondida no mato, uma onça com a boca aberta recepciona os visitantes e, mais a frente, perto da porta, tem outra arara azul saindo da toca.
Percorrer a casa do Levi, é descobrir em cada canto uma intervenção artística e um novo projeto em construção. "Eu tô fazendo um cavalinho e quero fazer um cerquinha para depois montarem", explica. Na varanda, ele fez uma fileira de bancos coloridos de marrom e envernizados, enquanto nas paredes, utilizou pequenos espelhos quebrados para formar o desenho de dois cavalos.
O motivo de viver rodeado das figuras inanimadas, ele expressa em poucas e sinceras palavras. “É que eu fui criado na roça”, afirma. No ambiente rural, Levi vivenciou o primeiro contato com a arte e hoje, sente orgulho em dizer que aprendeu sozinho. “Eu sou autodidata, nunca frequentei a escola e a arte foi algo que descobri. Minha mãe era lavadeira de roupa, íamos para a beira do corgo e tinha muita argila. Eu fazia cavalinho, bolinha de gude, pegava a bucha verde, fazia o rabinho, as pernas”, conta.
O trabalho mais conhecido dele é a Praça Pantaneira, localizada no cruzamento das ruas Barão do Rio Branco e 25 de Dezembro, ao lado da Prefeitura de Campo Grande. No local, Levi criou peças de araras, tucanos, tuiuiús, tamanduá-bandeira e uma estátua em homenagem ao poeta Manoel de Barros.
Atualmente, devido à saúde, o artista não produz no mesmo ritmo de antigamente. “Eu tive chagas, inchou meu coração, tive arritmia e insuficiência cardíaca. Tenho dificuldade, perdi alguns serviços por questão de saúde, não posso pegar peso, tive uma série de dificuldades”, relata.
Depois de comentar sobre algumas das dificuldades, Levi volta a falar do imóvel e revela que ele é constituído por materiais recicláveis. “A maioria desta casa trabalhei com reciclagem. O madeiramento peguei dos lixões, os reboques do entulho e muitos dos bichos fiz com ferros de construções achados”, diz.
O estilete é a principal ferramenta que utiliza para confeccionar as criações. Com um brilho no olhar, ele garante que quando está envolvido com as obras não visa o lucro e sim, os traços que imprime nos materiais. “Todo trabalho artístico é benéfico, o artista não visiona no momento o dinheiro, visiona a obra de arte. Quando crio, fico concentrado inteiramente nos traços e formas”, conclui.
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