Francês e do século XIX, portão de 2,7 m carrega história das mansões paulistas
“E quem não se encanta? Ele tem história”. A frase descreve por si só o que os olhos vêem adiante. São 2,70m de altura e três toneladas de peso. Mas o valor em si não está nos números e sim na trajetória do portão francês do século XIX comprado de uma mansão demolida em São Paulo e instalado com ajuda de trator e guindaste em um hotel fazenda de Bonito.
Paixão ou vício do arquiteto Rogério Valsani, de 60 anos, a relíquia foi comprada em 1988 e trazida de São Paulo a Mato Grosso do Sul em 1999 junto de outras 40 carretas que trouxeram o melhor das demolições da capital paulista.
“Foi comprado de uma casa que foi demolida para dar lugar à estação de metrô Paraíso. Iam demolir e eu fui e comprei todo material, muita coisa velha. Mas este portão não tem um pingo de solda é todo no rebite”, explica o arquiteto.
O abre e fecha do portão exige muita força além de admiração. Completamente de ferro maciço ele é todo original e nunca foi mexido. Mantém a cor e autenticidade. E mesmo com os descascados do tempo, falo pela própria sensação de estar diante dele: a história não precisa de correção e nem de mão de tinta. É no passado que estão os detalhes mais ricos.
Instalado como entrada da mansão paulista, imponente pelo tamanho, apaixonante pela estrutura e pelos detalhes feitos à mão em uma época em que a energia elétrica não existia.
Rogério conta que desde que está com a antiguidade que, no hotel divide os aposentos do Rio Formoso, o portão se abriu e fechou em dois endereços na cidade de Bonito.
A beleza do portão e a riqueza da história inundam diariamente a vida do arquiteto. Ele, compadre de Almir Sater, se apaixonou por Bonito quando veio a convite do artista da terra para a virada do ano. Seis anos depois ele voltava com a família já para comprar um cantinho para si. O que seriam de dois a três hectares de início acabaram se transformando em 18 que hoje compõem o hotel Santa Esmeralda.
Em São Paulo, o trabalho de Rogério era na arquitetura e nas artes das demolições. “É um vício, não digo nem que é uma paixão, você fica sabendo que uma obra vai sair, os outros podem chegar primeiro... Vicia, comprei tanto que não usei a metade. Trouxe tudo o que eu tinha de velho”, relata.
Na época, o portão e janelas, telhas e demais peças compradas da mesma casa saíram em média R$ 5 mil. Hoje, já chegaram a oferecer R$ 50 mil só pela relíquia francesa. Preço recusado pelo arquiteto.
“Está aí comigo e eu não vendo por dinheiro nenhum. Vão mil anos para esse portão acabar, ele não vai gastar, é ferro maciço. Não vendo e não adianta por preço”, impõe.
No hotel ele é usado como porta de entrada para a mata da cachoeira, o portão que se abre para o paraíso. É encantador, carrega história e traz para um reino de belezas naturais, a construção erguida para um império.